ENCONTRO E QUIETUDE

 

 

 

 

ENCONTRO E QUIETUDE

 

 

 

 

Hoje começa o Encontro Nacional de Mentores do Caminho da Graça, aqui nos arredores de Brasília, conforme divulgado no site.

 

Iniciará às 20 horas e tem gente de todo o Brasil. Ao todo umas 200 pessoas estarão por lá. Metade de Brasília. Os demais de vários outros lugares, de norte a sul, de leste a oeste.

 

Eu estarei em casa até às 19 horas. Depois irei até lá. Digo “até lá” porque não ficarei dormindo lá. Adriana e eu dormiremos em casa todas as noites se Deus quiser.

 

Mas por que estou dizendo isto?

 

Simplesmente porque estava cuidando das plantas por umas duas horas, e pensando em como esses entes vivos silenciosos e delicados demandam cuidados todos os dias.

 

Um pouco de água, uma podinha aqui e ali, adubo para as fracas, e muito amor por todas…

 

E pensei que esta é a razão precípua pela qual não ficaremos direto no evento, voltando para casa à noite, depois de tudo, para ainda podermos dar uma olhada nas plantas de manhã cedinho, antes de voltarmos para o Encontro.

 

O mesmo com os passarinhos, especialmente os soltos, os livres, e que somam centenas vivendo aqui em casa.

 

Tem que haver água e comidinha para eles todos os dias. E o néctar dos beija-flores e colibris precisa ser reabastecido todas as manhãs, pois a quantidade desses bichinhos também é enorme num dos cantos do jardim, numa Buganvília que ficou com carinha de capela, cheia de anjos de asas agitadas e abertas — os beija-flores e colibris.

 

Além disso, acho que passei tanto tempo viajando que perdi todo o gás para quase tudo que não me deixe voltar para minha cama à noite.

 

Com isto não estou dizendo que tenha perdido a mobilidade no ir…

 

Ao contrário, me adapto a tudo com enorme facilidade. No entanto, hoje, sei o significado do que Jesus disse quando ensinou que não se deveria ficar mudando de casa em casa.

 

No meu caso, não só de casa em casa, em minhas próprias casas (mudei mais de 35 vezes de casa). Mas, sobretudo, de hotel em hotel, de cidade em cidade, de país em país, em milhares de casas, em milhares de camas, durante a vida quase toda. 

 

Descontinua a vida…

 

Não permite que você acorde toda manhã para ver, no mesmo lugar, quais foram as sementes que você plantou, e que já morreram a fim de nascer, e quais são aqueles que ainda permanecem estéreis para o chamado da vida.   

 

Não permite que você veja os pequenos detalhes da vida se formando em canto algum, e, por isso, tiram de sua alma a benção da contemplação, em razão do desabito do olhar que vê o pequeno-íntimo do lado de fora.

 

Não permite a você fazer de nenhum lugar uma extensão de sua alma, em cada coisa, em cada detalhe, em cada manifestação plástica e visual.

 

Eu creio que foi a vida enraizada da Adriana, que nunca mudara de Copacabana a vida toda, que crescera e vivera entre as mesmas quadras do bairro, que somada e encontrada ao meu espírito habituado a ir… — veio a dar a mim o estado em que hoje me encontro.

 

Ela não saía dali. Eu vivia por aí…

 

Então ela teve que viajar muito mais, dormir na mata, acampar, subir em árvore, pegar tempestade em rio amazônico, etc.

 

E vi que se deixando submeter a tantas mudanças para as quais estava insegura, apesar disso, em cada uma delas, ela fazia a nossa casinha, fosse numa praia, numa barraca, num conjunto de redes atadas em árvores, na torre do Monte Sião, no apartamento de Copacabana, na Academia de Tênis, ou agora nesta casa na qual moramos — em todos os lugares ela logo tenta criar uma casinha.

 

E como tudo o que eu sempre amei, desde a infância, desde que meu pai me deu a minha primeira casinha, aos sete anos, foi habitar em paz a minha própria casa, continuamente, o casamento com ela aprofundou esse sentimento em mim; e, diria, tornou-o uma necessidade para a minha alma. 

 

Assim, ela se abriu para ir. E eu fui relaxando para fazer de cada estada um lar. 

 

Outro dia alguém me mandou um e-mail desaforado, dizendo que não entendia esse negócio de eu ficar quieto no Lago Norte. Mandou-me pro mundo…, como se do mundo eu nada conhecesse.

 

Pensei: “Deve ter saído da casca do ovo hoje de manhã!”.

 

Não! É cada vez mais desse lugar de quietude que sei que irei mais longe. O mensageiro já viajou muito. Hoje é a mensagem que viaja. Viaja pelo “portal dos ventos”… “Portal dos invisíveis”, conforme me disse o irmão João em agosto de 2000. 

 

Cada estação da vida demanda seu tempo, seu modo e sua sabedoria!

 

Há tempo para tudo debaixo do sol. E, cada dia mais, na prática, eu sei disso.

 

 

Nele, em Quem a vida se transforma de glória em glória, mesmo que o nosso homem exterior envelheça,

 

 

Caio

 

07/06/07

Lago Norte

Brasília