ENTRE MENINOS E HOMENS…
“Quando eu era menino…” — disse Paulo sem nostalgia do tempo decorrido…
Assim deveria ser com todo homem satisfeito com a alegria da maturidade.
Sim! Lembrar do tempo em que se era menino na fé em Cristo, mas não com saudade.
Menino faz meninice…
Paulo, no texto acima, retirado de I Corintios 13, não diz qual era a sua meninice, mas nos dias que ele já fora apenas um menino… Também ele havia sido um dia um menino.
Entretanto, considerando que ele diz que a maturidade de um homem somente é alcançada quando o homem aprende o caminho sobremodo excelente, a vereda do amor, então, é para se supor que a meninice de Paulo fora confiar mais na certeza da verdade do que na verdade do amor.
O fato que até em Cristo [e, sobretudo, em Cristo…] Paulo viu que as coisas poderiam ficar pequenas e infantis, conforme ele via na fé dos discípulos de Jerusalém [com os que estavam com Tiago], alguns deles ainda tão meninos e presos ao que já não era…
Entretanto, Paulo fez a viagem toda… Não nasceu escrevendo aos Efésios. Teve que viver…
Teve todas as fases de impressões…
Línguas, profecias, curas, milagres, ciência, sabedoria, fé, coragem altruísta, esperança, tudo.
Não demorou, no entanto, para que ele visse que sem amor toda aquela construção seria tão sem sentido quanto o era a tentativa de agradar a Deus pela Lei apenas.
Era possível que um cristão virasse fariseu pela simples observância da fé em Jesus, porém, sem amor e misericórdia.
Ora, certamente foi a partir de si mesmo que Paulo também discerniu as infantilidades [de fato: transitoriedades] anteriores da revelação nas Escrituras, de acordo com o tempo de maturidade do povo, na seqüência histórica que se pode acompanhar pela Bíblia.
Ele teve que não apenas deixar a mente de um fariseu educado aos pés do Rabino Gamaliel, e que ainda muito jovem já se destacava no meio de todos, ganhando poder, confiança e prestigio. Sim! Ele teve que deixar também a tentação de conciliar a fidelidade à Torá, ao Velho Testamento, com o fato de que em Jesus a maior de tudo aquilo deixara de ser ou de ter qualquer valor: tornaram-se apenas sombra de coisas que em Jesus haviam sido realizadas e consumadas.
Paulo nada diz, porém, eu creio, pelo que sinto no modo como ele se serve do Velho Testamento em suas cartas, que seu modo de sentir os textos das Escrituras levava em consideração as épocas e os contextos; porém, a ênfase da leitura era sempre espiritual e centrada em Jesus.
Para mim, falando de como eu sinto os textos, é mais ou menos assim:
A linguagem do Gênesis, por exemplo, segue o modelo narrativo universal, que até as crianças podem entender.
O Êxodo é um livro da pré-adolescência da fé, com todas as aventuras da hora e do tempo da libertação.
Os demais livros narram a juventude rebelde de Israel.
Os profetas são as vozes que se levantam contra o estado adolescente de Israel, em face do fato de que já deveriam ser adultos, mas não eram.
Os salmos são os espasmos da lucidez da alma ante a cegueira do povo, a maior parte deles.
O Cativeiro em Babilônia foi o “Campo de Concentração” no qual a criancice idolátrica de Israel foi curada, pelo menos no que tangia à primitividade da manifestação do que fosse idolatria grosseira.
O interregno entre a idade adulta escravizada e a vinda do Messias, Jesus, foi um tempo de idade adulta carente e perdida…
Então vem o que é…
Vem Jesus!
Nesse ponto a Revelação se plenifica.
Já não há mais nada a ser acrescentado.
A Palavra se Encarnara.
Deus está conosco.
Porém o povo das Escrituras não discerniu a Palavra.
Entretanto…
Sobre um dia ter sido criança e andado na direção da maturidade no amor, o que percebi foi que assim como foi na linearidade da história, assim tem sido também comigo como individuo.
Todos os que estamos andando no Caminho da Vida em Jesus tivemos o tempo gênesis, a fase êxodo, as rebeldias enfrentadas por profetas, os próprios exílios e enganos; e, sobretudo, a chegada do tempo das desilusões salvadoras, quando fica apenas Jesus e a pessoa; sem nada mais entre ambos.
Assim segue…
Este é o processo…
Encantamento… — gênesis.
Libertação de cativeiros… — êxodos.
Excesso de autoconfiança e rebelião… — reis e templo.
Culto ao si mesmo… — as ameaças de cativeiro.
Cativeiros outras vez… — Babilônia sempre volta.
Solidão. Silencio — sem profetas.
Então, Deus em Plenitude!
Somente a Palavra.
Assim foi com Israel. Assim foi com Paulo. Assim é comigo. Assim está sendo com vocês. Com nós todos.
O caminho sobremodo excelente faz a viagem toda…
Por isto é que para Paulo tudo o que não fosse ainda somente a Palavra e somente amor, conforme Jesus, ainda era coisa de menino.
Assim, aprende-se que no Caminho todos temos estado…, embora andando em meninice.
Todavia, o que se afirma é simples:
Pode-se fazer a viagem para sempre…, mas ela somente se conclui quando o amor passa a ser [no Caminho] o caminho sobremodo excelente.
Foi assim na história linear da REVELAÇÃO… Até a Encarnação do Amor: Jesus.
É assim na viagem pessoal de auto-conhecimento e de crescimento na Revelação; até que a Palavra vá se tornando amor, amor, amor em nós.
Todos nascemos bebês. Todos já fomos meninos. Já nos distraímos com muitas coisas… Mas ninguém se torna adulto em Cristo enquanto não aceita que o Dogma é apenas amor; e que sem amor toda adulteza é mera criancice.
Sim! Sem amor Abraão é apenas um velho obcecado; Moisés é um narcisista preferindo um trono no nada… do que qualquer segundo lugar no Egito…
Sem amor, Josué pode ter tido fé, mas o sol apenas tostaria a sua cabeça… Davi, sem amor, seria apenas um adultero e homicida, surtado pelo ego.
Sem amor os profetas nada fizeram de bem para si mesmos. Sem amor Daniel seria apenas um serviçal vendido a qualquer que fosse o rei ou o reino.
Sem amor a Lei se tornava trevas e morte…
Sem amor nada existe no homem que Deus chame de ‘adulto’.
Sem amor, Paulo entendeu, nada tem valor algum. E mais: discerniu que qualquer outra compreensão era ainda ilusão de menino.
Nele, que é amor,
Caio
11 de abril de 2009
Lago Norte
Brasília
DF