—– Original Message —–
From: ENTRE O ÁTRIO E O SANTUÁRIO: acerca do rabino Sobel
Sent: Monday, April 02, 2007 3:22 AM
Subject: Somos apenas homens.
Caio meu querido amigo!
Há muito tenho meditado na necessidade de estar no santuário (presença de Deus).
Quando me pego meditando sobre essa necessidade imagino sempre o santuário do Velho Testamento, especificamente o “Santo do Santos”, onde o sumo sacerdote se prostrava na presença de Deus, recitava em seu coração e em sua alma o “Adonai”, Senhor dos Senhores, Senhor de todo poder…” E ali ele se rendia, chorava, se tornava totalmente humano.
Quando acontece assim comigo, gosto da sensação de ser humano, totalmente dependente de Deus. Ao passo que quando não tenho a necessidade de estar no “santuário” pelo poder da minha auto-suficiência, me sinto muito “santo”, não só por mim mesmo, mas também pelo que as pessoas acreditam de mim.
Assim, quando vou me sentindo muito “santificado”, corro para o Santo dos Santos, e, novamente me vejo como simples homem.
Nessa forma de ver as coisas, pude compreender que quanto mais perto de Deus, nos tornamos mais humanos, e quanto mais longe, nos tornamos cada vez mais “santos”.
Nunca vi o Rabino como um “santo” e sim como um homem que busca a intimidade com Deus, mas o grande problema são as pessoas que por não buscam essa intimidade, se vêem como “santas” com o poder de julgar os outros.
Para concluir, posso dizer que é nessa humanidade que somos acolhidos como filhos amados de Deus, em sua imensa misericórdia, pois não somos anjos nem demônios, somos apenas humanos.
Junto a você em oração pelo conforto do coração do Rabino Sobel para que ele possa ser confortado e amado na sua humanidade.
Com carinho,
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Resposta:
Querido amigo no Senhor: Graça e Paz!
Muitos escreveram a fim de comentar acerca do Rabino Sobel. Eu, entretanto, tirei umas férias até o fim da Semana Santa. Assim, vejo o e-mail quando dá vontade, e também respondo apenas se desejar. Afinal, quando sento aqui fora de casa para responder os e-mails e escrever algumas coisas, nem sempre estou com vontade de responder, mas apenas de escrever o que me está na alma. Mas escrevo respondendo a muitos, pois, me sinto comprometido; e, além disso, quando começo, não paro.
Assim, aproveito a sua carta para postar no ar um agradecimento a todos os que escreveram no mesmo espírito que você manifesta.
O rabino Sobel declarou recentemente que o “Sobel que fez aquilo não é o Sobel que se conhece”.
Dois Sobel. Um que nunca faz. E um que pode fazer, ou fez.
Pessoa e Persona.
A persona nunca faz. A pessoa pode fazer.
A persona é uma idealização que vai se inchando pelos outros e por si mesma.
A pessoa é o ser que é, mas que, inibido pela presença de uma forte persona, pode ir se escondendo nas sombras.
Um dia a pessoa aparece contra a persona.
Nesse dia só se pode dizer que aquele “que fez aquilo não é […] aquele se conhece”.
Você falou de sua experiência entre o humano e o “santo”, e usou o Santuário da Antiga Aliança a fim de ilustrar a vida na Presença de Deus (Santuário) e a vida no átrio público, entre os que o louvam por entrar no Santuário (presença de Deus).
E você disse que a vida no átrio (público) o faz sentir-se “santo” (pelas projeções dos outros sobre você, além de muitas transferências), e que a vida no santuário (intimo) o humaniza.
Assim, você fala de presença de Deus como o lugar secreto do qual Jesus falou.
Entretanto, a presença de Deus inclui o lugar secreto, mas não se faz esgotar nele.
A presença de Deus deve ser para nós aquilo que acerca dela se idealiza na Nova Jerusalém. E lá não há santuário, pois o Cordeiro é a sua luz, e nada e ninguém foge ao seu iluminar.
Somos chamados para andar com Deus dentro e fora. Somos chamados a viver em Deus.
Assim, o que vejo é que quando você vai para o Santuário, as pessoas ficam sabendo de um modo ou de outro, pois, de algum modo, não é algo secreto.
É em razão de que os homens ficam em pé no átrio esperando o sacerdote sair do Santuário, que ele é visto cada vez mais como “santo” pelos que o observam.
Esse Santuário só pode ter lugar de existência no lugar secreto, pois, do contrário, ele vira apenas o palco da glorificação do sacerdote.
Assim, se existe esse Santuário como situação a ser definida ou ilustrada de modo físico, e se estar ou não nele significa algo como estar ou não na presença de Deus, então, é porque a atividade da adoração ainda não se fez trans-cósmica para nós. Pois, quando se chega ao que É, isto para nós É também. E já não se sai mais daí.
Houve um tempo, durante anos, que eu jejuava tanto, que passava literalmente a maior parte do tempo sem comer. Foram quase sete anos. Dez ao todo considerando a diminuição dos jejuns.
Eu ia pro lugar secreto sozinho, mas milhares iam comigo; pois, de um modo ou de outro, ficavam sabendo; e, por isso, colocavam-se psicologicamente à porta do lugar secreto para ver se eu saía com a cara brilhando.
Então, começaram a querer a minha sombra, o meu suor, os meus lenços, a minha Bíblia, a minha qualquer coisa…
Esmaguei isso contra o chão como quem esmaga uma barata.
Mas não há homem que resista às muitas formas desse engano, o qual, quando se vive em Deus e como totem de humanos, sempre vem como bondade e como beleza de vida, e acaba criando a sutiliza de algo que significa o conforto do totem acerca de si mesmo como tal.
Assim, anos depois, me vi tomado por tal engano, e do modo mais sutil que se pudesse imaginar: na forma da estética ética e da ética psicológica e espiritualmente sadia.
Lá estava o engano e eu não via…
Entretanto, quando você já não esmaga as ilusões do átrio com a simplicidade com a qual você esmaga uma barata, antes, sutilmente também dá lugar à entrada delas, então, você começa a aceitar com tranqüilidade a ilusão dos do átrio como sendo algo bom para os que nele vivem; e é quando a Persona começa a jogar a Pessoa para os abismos das sombras em você mesmo.
No final, para encurtar a história, fica a pessoa dizendo que a persona não é ela, ao mesmo tempo em que se algo vai errado com a imagem da persona, ela, a persona, tem que dizer que a pessoa não é ela; e vice versa.
E no crescer da ambigüidade a sombra toma o poder.
Eu, todavia, pela Graça de Deus, fui batizado como pecador em Cristo publicamente, e aceitei a morte de Jesus para mim, e me deixei levantar por Ele na ressurreição dos mortos (não dos vivos); permitindo assim, pela fé, me ver hoje já assentado nos lugares celestiais em Cristo; enquanto eu mesmo, como homem (que é a única coisa que estou andando para ser), experimento dia a dia a vitória da verdade sobre a mentira na minha vida, num processo que só terminará quando eu for feito tão perfeito quanto perfeito em Cristo eu já sou.
Verdade, Justiça, Misericórdia e Amor — são a Presença de Deus!
Obrigado pelo seu carinho e por tomar tempo em escrever-me.
Com todo o carinho, alegria e reverência pela sua alma.
Nele, que é a nossa Luz,
Caio
02/04/07
Lago Norte
Brasília