—– Original Message —–
From: EPÍSTOLA DO NORDESTE
Sent: Tuesday, January 16, 2007 4:02 PM
Subject: Um relatório missionário…- Antônio Fonseca, da Estação Brasília; e mentor em Taguatinga.
Querido e amado em Cristo, Caio!
Relato a você como foi o meu encontro com os irmãos de João Pessoa, de Abreu e Lima e de Recife.
Mudei os nomes desses irmãos para que ninguém os identifique.
JOÃO PESSOA
Cheguei dia 25 de dezembro à tarde
Informei-os que estava lá, à disposição deles, passei meu telefone; e, por saber que estavam envolvidos com o tratamento do irmão Hipólito, aguardei uma ligação deles.
Eles ligaram dois dias depois e marcamos de nos encontrar no sábado, dia 30.
Cheguei de tardezinha à casa do irmão Hipólito, enfermo, e ali tentamos apaziguar a saudade que nos une, debalde.
Toda a sua família estava presente e ali conversamos coisas comezinhas, do dia-a-dia.
Contaram-me da alegria de estarem prosseguindo — apesar de poucos, de fracos, de sós ali
Relataram a bênção que foi o Encontro do Caminho no Recife, o fortalecimento da fé, a alegria de verem que Deus sempre separou para Si sete mil joelhos que nunca se ajoelharam perante Baal. Falaram também do carinho e amor que nutrem pelo irmão Aldro. Vanessa, sua esposa, e filhinho, retornaram para Brasília; e contaram-me que nos últimos dias de permanência deles lá, viveram juntos como se não houvesse amanhã.
Disseram-me que eles têm NOVENTA vídeos de suas mensagens e que assistem três por dia, todos os dias; pelo menos o irmão Hipólito o faz.
Aí eu fiz a conta: em um mês eles assistem todos os vídeos e voltam ao primeiro novamente, num círculo VIRTUOSO e sem fim.
Me apelidaram de “Fon-Fon” e quando me vêem no
Lá pelas dez da noite eu quis ir embora, sentindo dores, e me constrangeram a comer uma “besteirinha”; e atinei que eles deviam ter preparado alguma coisa, e, na lerdeza que você conhece de mim, fui para a cozinha com eles.
Havia uma mesa maravilhosa, farta. Comi pouco, mas não resisti ao ‘queijo qualho’, iguaria nordestina que, quando colocada numa frigideira, vira algo admirável de se comer.
Me esbaldei.
Fui embora não querendo ir.
Não marquei nada para um próximo encontro, para nada forçar, pois eu sabia que eles estavam por conta do irmão Hipólito.
Eles ligaram novamente para mim na quinta-feira e marcaram para que eu retornasse no próximo sábado, dia 6 de janeiro, e eu disse para eles que estaria levando uma Mensagem.
Eles convidaram alguns irmãos de “outro” endereço e ali eu preguei Romanos 1.
“Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável.”
Juntei com o que está escrito em 2 Tessalonicenses 2.
“Porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos, Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira.”
Mostrei para eles que Deus é AMOR. Ponto.
Se não acolhem Esse Amor, que é revelado
Tornam-se, assim, nulos em seus próprios raciocínios e, inculcando-se por sábios, tornam-se loucos, e, desprezando o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entrega a uma disposição mental reprovável.
Isso é o resumo do que preguei para eles nesse sábado.
Falei porque é tão fácil dar crédito à mentira, o que é o atavismo pagão, o que é a operação do erro, o que é desprezar o conhecimento de Deus, o que é uma disposição mental reprovável.
Esses irmãos de “outro” endereço, que, na verdade não são de nenhum “outro” endereço, mas assim defino por estarem ainda ouvindo o que NÃO pregamos aqui — ficaram aturdidos.
Um deles ganhou um concurso lançado por uma editora e, por ter ficado em primeiro lugar, foi publicado o seu livro. Rapaz de boa índole, de bom coração. Aquele que te contei que sofreu uma grande tormenta por pregar Romanos embasado na Graça que você nos ensina
Assim que terminamos, foram servidos canapés deliciosos e havia uma grande alegria em todos os corações.
O irmão Hipólito resolveu tomar a dianteira do que estava acontecendo e, como o ancião dentre todos nós, marcou a próxima reunião para a terça seguinte, dia 9; e eu perguntei se poderíamos ter uma Santa Ceia. Todos
aquiesceram e assim ficou marcado.
Decidi extinguir para sempre, na mente de todos ali, o fardo que os fariseus-evangélicos lançam sobre as ovelhas de Jesus sempre que há uma
Santa Ceia e preguei exatamente em 1 Cor. 11.
“Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.”
A Rosane, minha esposa, nem acreditou que eu tinha lido justamente isso; rsrs.
Expliquei a todos que o juízo que caiu sobre Jesus em nosso lugar, cai sobre nós quando não discernimos o que está escrito acerca do Seu corpo e do Seu sangue conforme João 6.
“Eu sou o pão da vida. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.”
Expliquei para eles que INVERTERAM a ordem.
Jesus disse que primeiro a gente precisa comer e beber para “depois” ter VIDA!
Ensina-se hoje que primeiro precisa estar VIVO para, então, “poder” comer e beber!
Assim, não discernem o corpo de Cristo, o Sacrifício Eterno, fazem vã a Cruz de Cristo e, por jactarem-se de terem vida e por isso comem e bebem, fazem réus do juízo que estava em Cristo e que retorna àquele que despreza essa
VERDADE ABSOLUTA DE DEUS!
Disse para eles que Santa Ceia hoje é servida por hipócritas que ficam de olho nos que não comem nem bebem por “medo”, pela sinceridade de seus corações, por ouvirem as mentiras pregadas; e depois são chamados no quarto do sacrifício para confessar os pecados “na marra”, e serem expostos publicamente ao juízo temerário de homens ainda mais pecadores que eles próprios.
Terminada a mensagem, peguei o pão, servi a todos, pedi aos pais que servissem às criancinhas, posto que Jesus jamais deixaria uma criancinha de fora, depois servi o vinho.
Todos esperamos uns pelos outros e assim comemos do pão e bebemos do cálice sem NENHUMA CULPA em nossos corações. Apenas redenção!
Um desses irmãos de “outro” endereço me chamou à parte, um jovem de 18 anos, e disse que não tomava Santa Ceia havia 4 meses, e que, pela primeira vez em sua vida, ceou conosco e com Ele com a consciência totalmente santificada pela VERDADE; e disse também que nunca mais seria refém de mentiras.
Nos despedimos com grande pranto. O irmão Hipólito soluçava no meu ombro.
Ele carregava em si um fardo. Ele era julgado de ser mundano por, ainda jovem, ter deixado de fazer o Seminário e tomado um destino diferente na sua vida.
A culpa o matava.
Eu disse no ouvido dele: “Irmão Hipólito, que culpa você tem de ser guiado pelo Espírito Santo? Você ia para a Ásia e Ele disse para você: ‘Passa à Macedônia e ajuda-nos’. Olhe essa pequena multidão ao seu redor. Ela
existiria caso o senhor tivesse feito o seminário?”
Ele olhou ao redor, voltou-se para mim, entendeu o que eu estava mostrando e passou a falar, soluçando no meu ombro:
“Irmão Fonseca, é isso! Passa à Macedônia… Passa à Macedônia… Passa à Macedônia… Agora eu consigo entender tudo!”
Eu não agüentei sem chorar, também, e a família ficou ali vendo nós dois, chorando no ombro um do outro.
Com grandes lágrimas nos despedimos.
ABREU E LIMA
Dia 13, sábado, peguei o ônibus para Abreu e Lima. Cheguei lá às 11:30.
Kláudia já me esperava na praça onde o ônibus parou. Ela se despediu afetuosamente de umas dez pessoas que estavam lá quando o Marcondes chegou para nos mostrar a direção de sua casa.
Depois ela me disse que aquelas dez pessoas ela tinha acabado de conhecer.
Pense num dia quente. Pense num calor.
Chegamos à casa do Marcondes. Fomos recebidos por ele e pela sua esposa com toda a delicadeza que você possa imaginar.
Assentei-me na varanda, aonde uma brisa quente vinha da rua.
Não sei se foi por causa da viagem de ônibus, mas alicates de morte me davam beliscões terríveis nas minhas entranhas, do lado da minha cirurgia. Minha cabeça rodava de náusea pelo analgésico que eu tinha tomado, eu suava frio; e ali fiquei assentado, tentando conversar e entender o que a Kláudia dizia para mim.
O Marcondes veio até a mim, com todo o carinho do mundo e me perguntou:
– Fonseca, você quer ver o material do encontro de Recife?
Eu respondi:
– Não, obrigado.
Cinco minutos depois eu me dei conta da falta de educação, polidez, delicadeza e civilidade com que o tratei!
Eu disse para a Kláudia!
– Kláudia, o que eu fiz! Meu Deus!
Expliquei para ela como eu estava me sentindo, chamei o Marcondes, pedi perdão a ele pela forma como o respondi e expliquei as dores que eu estava passando; e ele, naquele “nordestinense” encantador, me respondeu:
– Avexa não, Fonseca.
Sua esposa nos serviu uma mesa farta, deliciosa. Camarão.
Ela disse que eu não deveria comer camarão e eu respondi para ela que, escondido da Rosane, não era pecado.
Findo o almoço, voltei para a varanda, me assentei calado e sombrio por causa da dor, esperando os irmãos que já estavam chegando.
O Marcondes retornou:
Fonseca, quer ver o material do Caio que eu tenho?
Eu quase respondi NÃO novamente, mas me lembrei da angústia de alma que a primeira vez me trouxe.
Assim me levantei nauseado, com uma má vontade de dar gosto, e assim fui até o seu quarto.
No lado maior da parede, rente à porta, ele fez uma estante de fora-a-fora.
Havia um computador já plugado no seu site.
Havia ali dezenas, centenas de áudios e vídeos.
Havia ali milhares de folhas impressas desde o começo do seu site. Ele me disse que fora a primeira pessoa a escrever para você e que a vida dele mudou após a sua resposta.
Ele dispôs essas folhas impressas em sacos de plástico divididos por temas.
A parede estava lotada de livros seus. Ele me mostrou um já velho, “Confissões de um Pastor”, todo orgulhoso que uma irmã o tinha emprestado e que ele ainda não o tinha lido.
Eu fui vendo aquilo tudo e fui desabando aos poucos.
Me assentei na cama de casal e ele foi me mostrando tudo, dizendo coisas que não mais ouvia. Eu só olhava tudo aquilo.
Eu me senti como Stern, o contador de Oscar Schindler, ao datilografar a lista de centenas de almas que Schindler tinha comprado de Amon Goeth com toda a riqueza amealhada durante a guerra.
Quando faltava apenas um nome para ser colocado na lista foi que Stern se deu conta de que toda a fortuna de Schindler tinha sido gasta para comprar aquelas almas.
A vida de Schindler estava ali naquela lista.
Stern, pela primeira vez, pegou o calhamaço de folhas datilografadas, com um respeito até então nunca tido na vida, juntou-as com aprumo, mostrou-as para Schindler, passou a mão pelas bordas e disse:
“Aqui reside um abismo. Dentro desse abismo está a salvação. Milhares de gerações serão gratas a você por isso”.
Oscar Schindler pareceu não discernir bem o que Stern dizia. Eu li o livro e o mesmo relata exatamente como no filme.
Caio, eu estava vendo, ali, na minha frente, a sua vida.
Todo o dispêndio do seu ser em salvar almas humanas. Vendo sua pobreza para que outros pudessem viver.
O irmão Marcondes conversava comigo, mas eu ouvia apenas um som distante. A visão daquilo mexeu comigo.
Eu o cortei na sua explicação prazerosa de me mostrar todas as coisas e disse:
– Marcondes, eu tenho é que ouvi-lo. Eu não tenho o que dizer aos irmãos ou pregar para vocês.
Entretanto, mais uma vez o “nordestinense” me surpreendeu:
– Se avie, Fonseca. Você veio aqui para falar e nós estamos nos reunindo aqui para te ouvir, visse?
Magdalena chegou de Recife e mais alguns irmãos. Éramos mais ou menos umas dezoito pessoas.
Não havia nenhum instrumento musical. O Marcondes começou, então, a bater palmas e a cantar hinos junto com os irmãos. Eu fechei os olhos e me senti na Andaluzia ouvindo uma mistura mágica de FLAMENCO-FORRÓ-GOSPEL.
Após cantarmos, relatei para eles porque se deu o meu encontro com Deus, o momento em que eu comecei a discernir as urdiduras eclesiásticas, o nojo e repúdio que isso causou em mim, a revolta e enfrentamento na postura que tomei, a mensagem que culminou com a minha exclusão e a incredulidade que tomou conta do meu coração em homens, por trocarem dons genuínos de Deus pelo poder, pela vaidade ou pelo dinheiro.
Contei do meu encontro contigo, de como me afetou sua mensagem sobre as igrejas de Apocalipse, dos direitos autorais que lhe devo e que jamais poderei pagar por ter pirateado sua mensagem e enviado em cd’s para centenas de pessoas, da desconfiança mineira que tive de você no início, porém totalmente dissipada quando eu ouvi da sua boca que “o amor se estabelece ABAIXO da linha de qualquer moral” e que eu me lembrara que Deus nos amou sendo nós ainda pecadores, que nesse dia eu fui até você, apertei a sua mão e te disse que eu queria ser seu amigo, mas só aceitaria se a amizade se estabelecesse ABAIXO da linha da moral e que você provou para mim que contigo É assim.
Contei, enfim, da sacudida que o seu livro SEM BARGANHAS COM DEUS me deu e que o tempo que tenho convivido contigo me mostrou que você É você.
Não sei se minha percepção foi correta, mas o que eu comecei a ver nos olhos embaçados por lágrimas daqueles irmãos é que, de repente, você foi deixando de ser uma LENDA para eles e passou a ser ALGUÉM, assim como Jesus Cristo NÃO é LENDA, mas ALGUÉM.
Um dos irmãos, que é apelidado de “Everybody”, cujo estereótipo não permitiu ser aceito em nenhuma igreja, e que tinha perguntado ao Marcondes se ali era o lugar aonde não se fazia acepção de pessoas e ouviu do Marcondes que “sim, ali era o lugar”, ria de se esbaldar.
Um irmão que estava ao meu lado, não me lembro o nome, com lágrimas nos olhos, levantou umas quatro vezes para sair por causa de um compromisso, mas não conseguiu fazê-lo.
Um pastor ainda jovem, Orlando, “Lando”, ria e chorava ao mesmo tempo.
Seis e meia da tarde eu terminei o que tinha que falar, pois às sete e meia iríamos nos encontrar no galpão que alugaram para reunir os irmãos.
Todos os que ali estavam foram jantar enquanto eu fui tomar um banho rápido.
Alguém me perguntou o que era “Everybody” e eu disse que, no contexto do apelido do irmão (me esqueci seu nome) “Fulano Everybody” significava alguém querido por todos.
A risada foi geral, eles deixavam os pratos e iam celebrar com o nosso irmão “Everybody” a realidade dele ser querido por todos ali.
Chegamos às sete e meia no galpão alugado para a reunião dos irmãos.
Um forno.
Pedi que colocassem as cadeiras, muitas, do lado de fora sobre uma grama baixinha.
Fizemos vários semicírculos para que todos ficassem mais perto de mim, pois eu quase não conseguia mais falar por conta das dores abdominais.
Caio, começou a chegar gente e mais gente e mais gente. Uma pequena multidão se reuniu. Faltaram cadeiras. Gente ficou em pé.
Eu preguei: O QUE É O CAMINHO DA GRAÇA.
Li primeiro Isaias 40:
“Todo vale será aterrado, e nivelados, todos os montes e outeiros; o que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos, aplanados.”
Disse para eles que o Caminho da Graça É um caminho que começou antes da fundação do mundo e que foi “asfaltado” por Jesus Cristo.
Mostrei para eles a semelhança que existe no que Jesus Cristo fez e a pavimentação de uma estrada.
Primeiro aterra-se o que é profundo e nivela-se todas coisas. Cortam-se os montes e outeiros para que continue tudo no mesmo nível, torna-se reto o que é um caminho de terra cheio de curvas; e que lugares escabrosos, cheios de pedras, de difícil acesso, escarpado, são aplanados para que vire uma estrada plana, livre, sem curvas, asfaltada, fácil de se andar por ela.
Disse para eles que isso foi feito na Eternidade e que nos foi revelado em plenitude há dois mil anos atrás; que esse Caminho corre paralelo à vida de todos os seres humanos, pois ele termina justamente no ponto em que cada um passa da morte para a vida.
Disse para eles que quem toma conta desse Caminho é o Pai.
Nesse caminho existe água pura, fresca e gratuita para quem precisar mitigar a sede… Disse que existe alimento da melhor qualidade e gratuito para tantos quantos tiverem fome… Disse que existem abrigos gratuitos, lugares de parada gratuitas e gasolina gratuita para todos quantos quiserem e precisarem.
Disse que muitos que não conhecem este Caminho estão andando paralelos a Ele numa mata difícil de ser transposta, com cipós, espinhos; e basta alguém chegar para eles e dizer:
– Olha, a quinze metros à direita ou à esquerda, “whatever”, existe um Caminho plano, asfaltado, gostoso de andar, livre, sem tropeços, com tudo gratuito.
– Este é o Caminho, andai Nele!
– Contudo, ao longo deste Caminho, assim como se constroem diversos postos de gasolina, também foram construídos, durante esses dois mil anos, alguns “clubes” com muito “som” e “néon”.
São clubes bonitos de se ver. São clubes que dão vontade de provar. São clubes que nos dão uma carteirinha e nos fazem sentirmos importantes.
Só que precisamos pertencer a eles.
Em suas entradas existem travancas para diferir um pouco do Caminho tão reto, tão fácil de seguir.
Assim a pessoa pode se habilitar em pular novamente obstáculos.
Entra-se lá dentro e adquire um cartão-fidelidade. Tudo colorido, tudo sonoro.
Você tem que comprar da água que se serve ali e que, apesar de ser uma destilação barata de excrescências humanas, vem dentro de uma garrafinha bonita, com rótulo bonito e mesmo que o gosto não seja bom, só de ostentar a garrafinha já dá um enorme prazer.
Você tem que comprar a comida que ali se serve; que são subprodutos de vômitos humanos ressecados e assados como bolo e biscoito; porém cuidadosamente embalados em papel machê e rotulados com a etiqueta da grife do clube.
Disse que o CARTÃO FIDELIDADE que nesses lugares se dá franquia o direito de sempre e somente abastecer nos postos adjacentes a estes clubes, cobrando-se por isso a importância que cada um estipula.
Posto que, pertencer ao Caminho e andar Nele, não basta para eles.
A síndrome de Lúcifer de experimentar do fruto bom de se ver, de se provar e de ser parecido com Deus; a concupiscência dos olhos, da carne e a soberba da vida, os sons e néons desse mundo que se diz “evangélico”, aprisiona a todos que Jesus chamou para caminharem LIVRES Nele.
Falei, também do que está escrito em Joel 2.
“Cada um vai no seu caminho e não se desvia da sua fileira. Não empurram uns aos outros; cada um segue o seu rumo.”
Ninguém nesse Caminho se sente enciumado pelo “dom” que existe no outro!
Exemplifiquei que alguns, como você, Caio, conseguem dirigir um ônibus e colocar muita gente dentro dele.
Outros já conseguem dirigir uma van.
Outros dirigem um carro com quatro pessoas.
Outros vão de moto com alguém na garupa.
Outros vão de motoneta pó-pó-pó.
Mas vão.
Se eu dirijo uma Ferrari que só cabe alguém do meu lado eu vou sentir ciúmes de você, um motorista de ônibus, que carrega uma multidão atrás de si?
Eu disse para eles o que é sofrer por causa de Cristo, como Paulo!
Disse para eles como é bom estar assentado e só ouvir! Como é terrível poder ficar em casa assentado, assistindo televisão, sem se importar com outros; porém o “chamado” nos impele com força tão grande que, ao invés disso, somos obrigados a estar ali, como eu estava, esgotado pela dor, mas obrigado pela minha consciência em amor de estar passando para eles aquilo que eu tenho visto, ouvido e aprendido.
Sentir ciúmes de você pelo dom que você recebeu, ou de qualquer outra pessoa, pelo que Deus deu, é infantilidade espiritual.
Quando terminei… — pediram que eu cantasse Chico Buarque, Geraldo Vandré; e, por fim, “Imagine” de John Lennon.
Eu olhava para aquela pequena multidão e os amava a ponto da alma doer. Gente simples, gente humilde, sendo pastoreada por alguém com uma alma tão pura quanto é pura a alma, o irmão Marcondes.
Um violão novinho em folha, com a etiqueta ainda pendurada apareceu. Nenhum deles tocava violão ali. Apenas batiam palmas.
Eu toquei para eles.
No final, eles vinham me abraçar e beijar.
Recebi dezenas de abraços e beijos.
E todos, TODOS, diziam:
– Por favor, diga para o pastor Caio que eu o amo.
Caio, aqueles beijos e abraços eram para você, meu irmão.
RECIFE
Desci naquela mesma noite para Recife.
Me hospedei na casa do irmão Basílio, pai da Magdalena.
Alto estilo. Cinco estrelas. Um quarto deliciosamente decorado, com ar condicionado, televisão, ventilador, uma cama gostosa, travesseiro e lençóis cheirosos.
Azulejos e grades antigas me faziam lembrar Além Tejo.
Deitei-me esgotado, vazio, oco.
Comecei a orar, pedindo a Deus o que dizer para os irmãos de Recife no dia seguinte.
Dormi enquanto orava.
Acordei-me umas quatro vezes à noite ainda orando e pedindo a Deus o que dizer, pois eu nada mais tinha o que falar.
Acordei-me, finalmente, às sete e meia da manhã com a seguinte Palavra no meu coração em 1 Tim 4.
“Ninguém DESPREZE a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis… Não te faças NEGLIGENTE para com o dom que há
Havia
A Palavra que se formava na minha alma ia preenchendo meu ser a ponto de perder a fome.
Passei na confeitaria do irmão Basílio, pai da Magdalena, um senhor que trabalha de domingo a domingo, pois confeitaria não pode fechar. Homem trabalhador, digno, já ancião, sério.
Me encheu de orgulho ver alguém assim.
Ele me mostrou toda a confeitaria, do ponto de recebimento de mercadorias aos fornos. Ele disse para mim que nunca podia ir à Escola Dominical, e eu respondi a ele que continuar a dar emprego às dez pessoas que trabalhavam para ele, que eram dez famílias que estavam sendo alimentadas, era muito mais importante do que ir à Escola Dominical.
Orei ali por ele, para que o Senhor continuasse a fortalecê-lo e à sua esposa que trabalhava com ele, apesar da artrite que o consumia por muitos anos de trabalho e de uma enfermidade que o debilitava, apesar de não deixar que isso transparecesse em seu ânimo.
Cabra macho.
Uma amiga da Magdalena, Marluce, nos pegou e nos deu uma carona de carro até à casa da Kláudia, onde chegamos de manhã. Marluce foi lá apenas para nos levar. Um doce de pessoa.
Assim que chegamos à casa da Kláudia, eu me assentei na sala junto com os irmãos.
Éramos Kláudia, Magdalena, mais um casal que, infelizmente, nesse exato momento não me lembro o nome. Gente jóia, gente de Deus.
Abri a Palavra e falei de duas coisas:
Primeira: o DESPREZO que os poderes eclesiásticos têm por nós por nossa vida
não atender às demandas impostas pela visão caolha de um evangelho que não é de Cristo.
Segunda: a NEGLIGÊNCIA que isso causa em nós, a aceitação tácita que toma conta de nosso ser por acabar acreditando que não há DOM DE DEUS em nós apenas por não podermos atender a essas demandas.
Ali falei e fui exemplificando até a hora do almoço.
Almoçamos uma massa deliciosa com suco de uma fruta nordestina que esqueci o nome.
Na hora do almoço Kláudia me falou duas coisas que mexeram comigo:
1 – Ela compra, sempre, dois cd’s seus de um mesmo título. Um ela deixa em casa e outro ela carrega no carro para o caso de alguém precisar ouvi-lo; e ela o dá de presente.
2 – No seu curso teológico, sendo instruída por um pastor americano que somente “homens” podiam ser ícones de Cristo, ela se levantou e perguntou POR QUE UMA MULHER NÃO PODE SER ÍCONE DE JESUS CRISTO?
Aí eu entendi porque eu estava pregando sobre DESPREZO e NEGLIGÊNCIA.
Findo o almoço, voltamos para a sala.
A Kláudia me perguntou:
– Qual o dom que há em mim?
Eu respondi:
– Kláudia, está tão lúcido, tão claro e você não percebe?
Ela:
– Não. Eu não sei. Realmente, eu não sei.
Eu então perguntei:
– Você quer mesmo que eu diga para você?
Ela:
– Sim.
Eu, assim, disse para ela:
– O dom que há em você é de pastorear.
Ela respondeu:
– Eu não me vejo como pastora.
E eu disse para ela:
– Lógico que não! O signo de pastor que você distingue é o oposto do que você é e o oposto do que Jesus chama de pastor.
Ela:
– Como assim?
Eu:
– Kláudia, meu avô foi um grande fazendeiro. De suas posses semoventes, ele tinha um plantel de ovelhas. Eu ia passar minhas férias, duas vezes por ano em suas fazendas.
Comecei, então, a explicar coisas absolutamente simples.
Falei das cavalgadas que nós, os netos, fazíamos com ele indo de fazenda
Um dia eu perguntei para ele: “Vovô, por que o senhor parou?” Ele me respondeu: “Não fui eu quem parou, foi a Gemada”. Perguntei, então: “Por que ela parou?” Ele respondeu: “Não sei, meu filho, ela não me disse. Deve ser que ela esteja cansada, ou com alguma dor” Nisso eu perguntei: “O que o senhor vai fazer, vovô?” Ele me respondeu: “Vou esperar o tempo dela, Tõe”.
Quem bate em burro é mais burro do que o burro. Daí a quinze minutos ele se levantava, pegava a Gemada pelo cabresto, andava uns cinqüenta metros com ela, montava novamente e seguia num passo um pouco mais lento até chegar ao destino.
Havia, também, suas ovelhas.
– Ovelhas se estressam de forma extrema com aproximações humanas. Elas tentam se proteger pulando umas sobre as outras para que consigam ficar no meio do rebanho, posto que o predador ataca pelos flancos. Esse movimento as fere. Elas devem ser conduzidas à distância pelo pastor.
– Meu avô não permitia que nenhum empregado batesse em seus animais, principalmente nas ovelhas. Elas eram conduzidas de longe por um rapaz novo que as arrebanhava para o curral à tardinha, e as tirava de lá de manhã, com movimentos lentos para que elas não se assustassem e fossem de encontro à cerca e se machucassem; e assim saíam para o pasto e para o ribeirinho que cortava o pasto.
– Elas é que escolhiam o tanto que tinham que comer e a hora de comer. Elas é que escolhiam a hora de beber e o tanto que queriam beber.
– Elas é que escolhiam quando e com que acasalar.
– Elas viviam livres na vida delas de serem ovelhas; e a única coisa que aquele rapaz fazia era conduzi-las, de manhã para fora do curral e de tardezinha para dentro; e, de vez em quando, colocar um pouco de sal no cocho ou passar remédio em alguma ferida, bem como limpa-las de alguns carrapatos.
– Isso é que é um pastor, eu disse para ela.
– Você consegue se ver assim diante de outros seres humanos? Sem exigir deles o tanto ou a hora em que eles têm que comer? Sem exigir deles o tanto ou a hora em que eles têm que beber? Sem exigir com quem se enamorar e casar? Sem bater? Apenas conduzindo-os para dentro e para fora, curando-os, tirando deles alguns carrapatinhos? VOCÊ CONSEGUE SE VER ASSIM?
Caio, eu não sei se vi de forma correta. Porém seus lábios moviam e eu tentei ler o movimento de seus lábios e, se não estou enganado, ela dizia:
– É mesmo… É mesmo… É mesmo…
Aí eu perguntei de novo:
– VOCÊ CONSEGUE SE VER ASSIM?
Ela, finalmente disse:
– Sim!
Eu:
– Pois bem, esse é o dom que há em ti!
Nesse instante, a Magdalena, que estava assentada ao lado dela, disse algo que me surpreendeu profundamente:
– Que bom! Eu preciso tanto de alguém que me pastoreie! Assim reclinou sua cabeça no ombro da Kláudia.
Caio, a Magdalena não estava nem aí para a volúpia de ser ou não “mentora” da Estação local.
A humildade ali chegou e ficou!
Nisso, ela, a Magdalena, vira para mim e pergunta:
– E o meu dom, qual é?
Eu disse:
– O seu dom é ir buscar as almas que estão andando paralelas ao Caminho, no meio do mato e mostrar para elas a direção, trazê-las para o Caminho e deixar a Kláudia arrebanhar.
Ela me olhou, pensou um pouco, olhou para a Kláudia e saiu com essa:
– Kláudia, olha, aqui em Recife está fácil. Na cidade onde eu moro, eu já vejo outra Estação do Caminho, e outra mais em uma cidade perto…
Nisso todos começamos a rir até às lágrimas por constatarmos que realmente era dela aquele dom.
Nisso chegou uma outra irmã, Maria Auxiliadora, com um bolo de maracujá, delicioso, para nos alegrar. Toda feliz, toda alegre, toda despojada.
Porém eu me virei para o casal que estava conosco e disse:
– O dom de vocês é trabalhar com jovens.
Todos olharam para os dois e disseram:
– É mesmo! Tem tudo a ver!
Esse casal conseguiu ver isso e distinguir, também.
Virei para a Maria Auxiliadora e disse:
– Essa aí, tem o dom de saber receber e de saber ser bem-vinda. É aquela que fica na porta recebendo as pessoas e depois despedindo. É a pessoa que faz acontecer. É como os valentes de Davi que foram providenciar a água do poço de Jacó que ele tanto queria.
Todos olharam para ela e começaram a rir por ser verdade.
Ríamos o riso da liberdade de podermos ser Nele.
Ríamos de ver que, apesar de nenhum de nós ali preenchermos os requisitos das demandas “evangélicas”, o DOM de Deus estava em todos nós; e que Ele não DESPREZAVA e nem NEGLIGENCIAVA esse DOM pelo fato de não atendermos, nenhum de nós, às demandas “evangélicas”.
Finalizei com as seguintes palavras:
A realidade de Recife é totalmente diferente da realidade de Abreu e Lima e de João Pessoa.
Existe aqui um grupo que, se quiser, pode trazer e arrebanhar vidas humanas para o Caminho.
Basta cada um querer.
Porém, se algum de vocês aqui não quiser, prometo a vocês que eu não ficarei triste, posto que jamais empurrarei para dentro de vocês o alimento que vocês não queiram comer e nem a água que vocês não queiram beber.
Assim terminamos.
Me levaram até à Rodoviária e peguei o ônibus das 18:00 h de volta para João Pessoa.
Fui chorando até lá.
Vim chorando no avião até aqui.
Fiquei pensando, Caio: quem sabe você e eu vamos lá e passamos três dias com esses irmãos!
Sexta
Quem os comprou com Sangue foi o Cordeiro. Mas você deu a sua vida, a sua existência por eles. Os abraços e beijos que eu recebi foram para você.
A gênese desse processo passou pelo seu coração até chegar aos deles, aos nossos!
Em mim só restam as palavras de um poeta da minha família:
“Saudade é folhagem que o tempo não muda de cor…”
“Saudade não mata ninguém, mas quer me matar”.
Fonseca.
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Resposta:
Amado amigo Antônio Fonseca Forestt Gump: Graça e Paz; e toda a minha amizade e lealdade!
As cartas que tenho recebido acerca de sua viagem, meu mano, corroboram cada uma de suas palavras, de modo que nenhuma de suas impressões está equivocada.
Eles amaram. Sentiram-se amados e fortalecidos.
Esta era a razão pela qual eu tanto desejei que você passe algum tempo com eles, assim como desejo que você visite dezenas de outros grupos; uns já formados, outros ainda em formação; pois, eu sei acerca dos dons de Deus que existem em você, os quais, são simples como a luz, e lindos como a transparência da água.
Amo você, meu amigo!
E bem-vindo ao lar!
Vejo você hoje à noite na Casa do Caminho, ou durante a semana, ou no próximo domingo no local provisório de nossas reuniões, neste mês de janeiro, que é a Escola Parque da 210/211- Sul.
Nele, que fez você como dom de misericórdia aos homens,
Caio
17/01/07
Lago Norte
Brasília