Os quatro anos que tenho dedicado escrevendo e respondendo a pessoas na Internet, têm me feito perceber a energia espiritual de gente que nunca vi e nem conheço. E isto pelo simples fato de lê-las.
Para cada 10 cartas que respondo, aproximadamente 8 retornam me dizendo que o discernimento foi preciso. Alguns dizem que a resposta foi quase tudo o que eles nem queriam encarar, mas que é verdade. Outros não respondem durante meses, e, quando retornam, em geral é dizendo que lutaram contra, e quebraram a cara. E, no passado, havia os que escreviam me desancando. Recebiam a resposta, e, um tempo depois, me escreviam (ou escrevem) pedindo perdão ou solicitando ajuda, pois, haviam caído em coisa muito pior.
Entretanto, o que mais me impressiona é ver a quantidade imensa de enfermos no caráter e que usam a Internet a fim de criarem o que desejam.
Sim. Criam relacionamentos que não existem. Criam fofocas eletrônicas covardes. Criam vínculos com pessoas que não sabem nem quem são os seus missivistas.
Enfim, a Internet é o melhor lugar de fantasia e mentira que qualquer maluquinho precisa a fim de se entreter com o engano feito aos outros; e, em muitos casos, divertem-se na prática do engano conscientemente mesmo.
Aqui temos um caso que bem ilustra o que digo.
Há um moço (homem talvez) que me escreve como milhares o fazem. Já havia registrado na memória os e-mails que manda, e de que tipo.
No fim de semana recebi uma carta que ele escreveu aos líderes batistas com cópia para mim.
Irritou-me ver aquele espírito fofoqueiro e safado se espraiando e perturbando pessoas. O individuo queria que houvesse conversão a ele pela via do decreto legal.
Então decidi responder a ele como exemplo ao mesmo tipo de gente e de espírito que prolifera por aí no chamado “meio cristão internetiano”.
Assim, respondi a carta do moço, tirando o nome dele e dos demais que ele cita na carta, mas não deixei de dizer a ele o desconforto que aquele tipo de carta de comadre me causa, especialmente quando a proposta é essa de conversão por decreto amparado na fofoca.
Quem não leu, faça-o agora, por favor.
—– Original Message —–
From: ESCOTEIRO BATISTA SE ZANGA CONTRA OS LÍDERES
Sent: Saturday, March 31, 2007 8:02 AM
Subject: Despotismo no Meio Batista
“Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso, porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus que não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão”
I Jo 4,19-21
Qual foi a minha reação ao descobrir ter sido retirado do grupo dos Batistas por ter batido de frente com o ‘dono’ do grupo.
Justamente quando eu mais preciso da igreja, justamente quando meus ossos anelam e minha carne retorce.
Baita exemplo cristão de solidariedade, amor, compreensão, zelo e, acolhimento.
O exemplo vem de cima.
Estou perdendo a Fé na Igreja de Cristo por causa do exemplo vivido com alguns de seus líderes e ‘vozes’.
Donos de seu entendimento próprio.
Desprovidos do Amor e da Graça, dispensado pelo sacrifício único de Jesus na Cruz.
Deleitam-se com política sem apresentar solução para as mazelas e trabalho com os ‘desabrigados’ da Fé Protestante.
Basta!
Por favor, alguém tome uma providência antes que mais caiam como eu, deslizando no ‘limo’ das pedras mortificadas pelo intelectualismo.
Atribulado por ‘“irmãos cristãos”
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Resposta:
Meu querido amigo: Graça, Paz e Maturidade!
Você me mandou a carta acima e um monte de endereços eletrônicos (aqui omitidos de propósito) para os quais você a enviou. Vi que você mandou para quase todo mundo com autoridade no meio Batista.
Entretanto, devo dizer a você que sua carta me fez muito mal.
E por quê?
Porque você se diz chocado, escandalizado, vitimado, caído da fé, posto para fora de um “grupo”, e a ponto de desistir de “cristo” em razão disso; ao mesmo tempo em que escreve a carta dentro de um “frame digital”, com um monte de arte também digital (que eu tirei), posiciona a carta no “meio”, estilo normalmente usado para “poesia”, e envia isso para os líderes da Igreja Batista, e para mim (que nada tenho a ver com isso), com a cobrança de “alguém faça alguma coisa”, pois, você está “a ponto” de cair completamente.
Uma pessoa que tem fé não a perde. O que você chama de fé em cristo (minúsculo) deve ficar no minúsculo mesmo, pois, não é fé em Cristo, mas apenas num cristo.
E diz: “Estou perdendo a Fé na Igreja de Cristo por causa do exemplo vivido com alguns de seus líderes e ‘vozes’.”
Ora, quem escreve isso e desse jeito, e o faz de modo tão organizado, e ainda de modo tão audaz na cobrança aos líderes e ‘vozes’ — está querendo o quê?
Eu não tenho a menor idéia do que lhe aconteceu, mas seu jeito de tratar a questão como desligamento do grupo, me diz que na verdade você pode ter sido afastado por chatice, por cobrança, por discurso, por denuncia sem sabedoria (e que você não banca sozinho) e por criancice-madura, a qual, é insuportável para qualquer convívio em grupo.
Você diz que está perdendo a fé na Igreja de Cristo em razão do mau exemplo dos líderes.
Veja bem:
Primeiramente, ninguém deve ter fé na Igreja. Mesmo a Igreja (com I maiúsculo) não deve ser objeto de nossa fé. A Igreja somos nós. Você tem fé em nós? Você tem fé em você?
Segunda-mente, você diz que está perdendo a fé no todo por causa de um grupo. É como perder a fé no corpo em razão de umas verrugas, ou de um tumor, ou de uma erisipela.
Ou seja: sua fé era fé de clube, de grupo, de juba-fé.
Minha sugestão a você é que pare com essa carta de menino; a qual é enviada a outros como uma espécie de fofoca em família feita pelo menino dengado e tolo, e que espera que alguns do mesmo grupo punam quem fez isso ao menino, a fim de que a sua fé na “Igreja de Cristo” seja restaurada.
É a tal da restauração pela via da punição dos outros.
Essa é, portanto, uma briga de comadres espirituais, e que só terá fim quando uma das senhoras do chá da tarde se converter à sua causa.
Estou respondendo apenas porque você me enviou a carta, embora eu nada tenha a ver com o assunto. Mas como você ma enviou, senti que poderia responder a você; até porque sua carta me irritou muito, pois, é a carta de quem não teve ainda nada ou quase nada do Evangelho escrito no coração, mas que pensa que tem e que é assim que é.
Há um tom infantil-feminino na sua carta que me fez mal.
Homem não deixa essas cartas-fofocas para trás. Homem é homem. Homem faz, homem assume. Homem crê, homem confessa. Homem diz, homem banca. Homem põe a cara, homem segura a parada. Homem diz o que deseja, homem ouve o que não gosta e agüenta. Homem acha algo inaceitável, homem diz. Homem não é ouvido e não suporta mais, homem simplesmente sai e pronto.
Então, agora, com raiva de mim, pode até ser que você se reconcilie com a Igreja Batista, pois, almas como a sua, até que se convertam ao entendimento do Evangelho (e que nada tem a ver com o que eles fazem e nem com o que você faz), convertem-se a grupos, à “igrejas”, mas não ao Evangelho.
Afinal, esse negócio de ver que a “igreja” não é Igreja, e, por isso, perder a fé, é coisa de quem nunca creu em nada.
Agora, meu filho, saiba: ou você abraça a fé em Jesus, que não é conforme os homens; ou, então, pega seu uniforme de lobinho batista e vai para um juba-piquenique — ainda que tais ‘trajes a rigor’ agora venham a ser vestidos por você nas reuniões de um outro grupo.
Se você não agüenta mais, então saia. Mas saia como um homem, e não como um menino reclamando a algum avô por perto, acerca da má distribuição de pirulitos no clube da família.
Ou sua fé é em Jesus e no Evangelho; ou, saiba: não há socorro para você.
E mais: esta não é uma carta estilo 1º de abril; pois esta é a data de hoje.
“Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso, porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus que não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão”.
I Jo 4,19-21.
Assim, concluo apenas lhe dizendo que na fé tudo vem do fato de que Ele nos amou primeiro. E não há distinção entre líderes e povo. O texto acima apenas faz todos serem irmãos; e diz que seu compromisso, em razão de conhecer o amor de Deus para você, é amar os irmãos. E se os irmãos não querem o seu amor, então dê seu amor a outros seres humanos; pois, o texto não pressupõe uma “prisão em família”, mas sim a pratica da fé na vida e na totalidade do mundo.
Desse modo, lembra-se e pratique o texto acima, ao invés de usá-lo como espada contra o próximo.
Nele, que nos ama, e nos disciplina para aproveitamento,
Caio
1/04/07
Lago Norte
Brasília
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Continuando:
Ainda entusiasmado com a “peça de direito canônico” que supunha havia produzido, o moço se empolgou:
—– Original Message —–
From:
Sent: Saturday, March 31, 2007 8:10 AM
Subject: Despotismo no Meio Batista
Perdão, por enviar a mensagem sem Bcc.
Agora a estou enviando às Autoridades Políticas e Eclesiásticas deste País e Ordens Batistas, Cristãs e Judaicas Internacionais.
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Continuando:
Nisto, ele começou a receber e-mails do “grupo”, repercutindo a minha resposta; pois, enviei-a a todos, já que ele me incluíra no “grupo”.
Desse modo, o tom dele, diante dos demais, mudou a meu respeito.
Para mim é uma coisa. Para o “grupo” é outra a meu respeito.
Para mim ele escreve cartas e cartas. Todas me afirmando como uma coisa muito boa. Mas para os outros ele diz que eu estou zangado com ele. A questão, todavia, é que passei a prestar atenção nas cartas dele há pouco tempo, e todas são do tipo “carta de afirmação”. No entanto, quando é conveniente, ele, sem explicar a consideração de me incluir numa carta aos líderes batistas, como vê que não estou aqui para brincar de missivas, e, mais, que não estou aqui para perder tempo com aquilo que é mais obvio do que o obvio, que é a vaidade e a meninice — assusta-se; e, assim, de referendador da verdade dele contra os outros, eu me torno alvo do que nem sei o que é.
Assim, de sábio e ungido, eu viro um surtado. De alguém com quem ele busca uma troca de correspondência, me torno num louco de episódios, e, como se não fosse suficiente, ele me põe como o justificador do surto dele. Tipo: ele surta, eu surto.
Mas o fato é que ele mandou para mim a denuncia dele contra coisa alguma porque queria a minha chancela à bravata dele. Tem gente que pensa que aceitarei fazer papeis psicológicos para eles. Entretanto, sei quando meu nome entra numa história cumprindo finalidades diversas. Muitas vezes relacionado à manipulação.
—– Original Message —–
From:
To:
Sent: Sunday, April 01, 2007 11:33 AM
Subject: Perdoem-me pelo Caio
“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.”
Hb 4:13
“Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.”
Lc 12:2
“Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.”
Ec 12:14
“Tu, ó Deus, bem conheces a minha estultice; e os meus pecados não te são encobertos.”
Sl 69:5
Graça e Paz irmãos!
Liga, não gente…é o Pastor Caio…numa de suas crises…
Ele está bravo comigo porque enviei um e-mail a ele, perdoando-o pelos ‘incidentes’ no Governo de São Paulo… Ele não gostou muito, mas era o que eu devia fazer, pois, meu coração estava muito angustiado com alguns cristãos, por estarem se aproveitando de sua ‘queda’, na época.
Eu tive uma ontem… Tive a minha crise.
Não busco mais títulos, nem cargos.
Mas há cristãos por demais apegados à eles e, ficam guerreando nas Ordens Batistas, ao invés de ‘lutar’ pela divulgação do Evangelho e a Ação através a dispensação da Graça e da Paz no Sacrifício de Jesus.
Sei que serei ‘punido’ por dizer ‘uma verdade’ mas jamais me calarei enquanto viver por Cristo, com Cristo e, em Cristo.
Como disse, claramente aos Senadores da República: ‘Se for ser preso por pregar a palavra de Deus, o Evangelho de Cristo, é melhor construírem mais presídios pois, eu e muitos seremos prisioneiros de Jesus com o maior júbilo.
Vamos continuar a semear e a colher porque o trabalho é grande, deixemos a política para os políticos, como os grandes cristãos políticos que possuímos em nosso meio.
Lembremos de orar pelas suas vidas e responsabilidades.
Os quais ‘conquistaram’ a nossa confiança com suas ações positivas e exemplificadoras.
Permaneçam em Graça e em Paz!
Tenham uma semana muito abençoada e vitoriosa!
No Amor de Cristo,
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Continuando:
Ele não sabia que os demais do “grupo” dele me haviam escrito imediatamente dizendo um “até que enfim…” E pior: dizendo que o moço usava meu nome sempre que queria discordar.
Ora, como já vimos, a presença do “grupo” mudou o moço em um segundo de tempo. Então ele prossegue. Só que agora escrevendo para mim. Mas como é para mim, o tom é diferente.
—– Original Message —–
From:
Sent: Sunday, April 01, 2007 11:05 AM
Subject: Despotismo no Meio Batista
Nossa Pastor Caio!
Palavras de quem está amargo da vida.
Amo-o e defendo-o por demais.
Desejo Unção de Alegria à sua alma, amado.
Perdão, Caio pelo monte e endereços, foi sem querer, mesmo.
O Senhor o fortaleça.
No amor de Cristo,
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Continuando:
Nesse meio tempo, enquanto todo mundo me escrevia ou escrevia a ele com cópia para mim, o moço foi fazendo o que eu dissera que ele acabaria fazendo —: reconciliou-se com o meio batista por convergência de vitimização a meu respeito. Dá vontade de rir.