ESTOU DOENTE DE INVEJA!

——— Mensagem Original ——– De: ESTOU DOENTE DE INVEJA! Para: [email protected] Assunto: ME AJUDE! Data: 28/09/04 21:49 Oi, Rev! Acabei de ler o seu texto “Tu te tornas eternamente responsável…” ; por isso já sei que o sr. não tem nenhuma “obrigação” de responder minha carta. Só gostaria que ela tocasse em seu coração e o sr. se dispusesse a me ajudar. É que preciso muuuuuuuuuuuuuito. Vou lhe abrir minha alma principalmente porque o sr não me conhece, e provavelmente nunca vai me conhecer; caso contrario, morreria de vergonha de lhe dizer tudo isso que vou dizer agora. Pastor, acho que estou doente: doente da alma, doente de inveja. Inveja que dói até os ossos, me sufoca, me faz fazer coisas das quais depois sinto envergonha. Me tira a paz, me faz infeliz!!! Trata-se da namorada do meu cunhado. O mais curioso é que ela não é o tipo de pessoa que admiro. Sempre mantive profunda e intensa admiração por pessoas inteligentes, cultas, bem articuladas, bem informadas. Se elas produziam arte, ou algum trabalho de substancial valor intelectual, esse era o tipo de gente que eu queria para ser meu amigo, para gastar meu tempo. Sempre me apaixonei por homens assim. Aparência física nunca me disse muito. A namorada do meu cunhado é apenas uma enfermeira que nunca abre um livro, se ela puder evitar. No máximo lê uma dessas revistas que ensinam a se vestir, se maquiar e a agradar um homem. Não dá pra falar com ela sobre temas interessante que exigem um pouco mais de leitura.O problema é que ela namora meu cunhado. O tipo exato de homem (que Deus me perdoe) que eu sempre quis pra mim: culto, sofisticado intelectualmente, bem sucedido profissionalmente, viajado, fala várias línguas, além de ser muito educado. Meu marido (que é irmão caçula dele) é o oposto de tudo isso. Ele é extremamente bonito, e mesmo fazendo faculdade, é do tipo que prefere malhar e gastar tempo com esporte. Ele é brincalhão, às vezes meio menino. Mas ele é um homem muito bom, ótimo pai, temente a Deus, muito responsável e apaixonado por mim. Nossa vida sexual é muito boa! Apesar de ter sido criada numa Assembléia de Deus, na cama sou do tipo que “como, limpa a boca e diz eu não cometi iniqüidade”, para lembrar um de seus comentários aqui no site. Casei por amor e creio que continuo amando-o muito. Apesar de tudo isso, meu cunhado (a quem só vim a conhecer depois de alguns meses de casada) tem ocupado minha mente mais do que deveria. Na verdade as coisas agora estão bem melhores, mas já houve tempo em que eu transava com meu marido pensando nele – que Deus me perdoe! Me sinto horrível quando lembro disso. Orei muito pedindo a Deus que me ajudasse a amá-lo apenas como a um irmão e que colocasse tanto amor no meu coração pelo meu marido que eu não viesse a pensar em nenhum outro homem. Depois li no seu site que é melhor não orar para começar a amar ninguém porque amor tem que ser algo que nasce espontaneamente, etc, etc. Parei de orar e tentei não pensar no tema, e isso me ajudou muito. O sr. estava certo. Mas a antipatia por ela permanece. Há muito tempo ela percebeu isso. Eu nunca verbalizei nenhum dos meus sentimentos por ela, mas sou do tipo que não consegue esconder o que sente. Minha cara, meus gestos e meu silencio dizem tudo.(Será que meu cunhado percebeu meus impuros sentimentos por ele?) Por muito tempo ela continuou sendo gentil comigo e me tratando muito bem. Sei que em parte ela estava tentando agradar meu cunhado, que sempre gostou muito de mim e tem adoração pelo irmão. Eu aproveitei a primeira oportunidade que apareceu para me afastar dele. Uma vez houve um mal entendido entre mim, meu marido, ele e a namorada ( eles dois fizeram algo que eu interpretei como ruim, eles garantem que não foi nada disso), e me afastei. Tenho usado isso como desculpa para deixar de falar com ele e me recusar a ir visitá-los outra vez. O problema é que os dois moram na mesma cidade de minha sogra, que esta sempre ligando e pedindo para a gente ir visitá-la, e assim ela poder ver sua netinha – nossa filha de três anos. Eu me sinto entre a cruz e a espada, pois gosto muito de minha sogra – ela é como uma mãe pra mim – mas quero ficar longe do meu cunhado e da namorada. O que eu faço, Rev? Quero deixar de invejar minha futura cunhada, deixar de sentir o que eu não devo sentir por meu cunhado. Por favor, me ajude a entender essa situação toda. Será que eu não amo meu marido? Eu sinto que eu o amo. Porque então sinto saudade dele quando esta longe? Por que gosto tanto de sexo com ele? Por que me preocupo tanto com ele? Que Deus o ilumine em sua resposta. Beijos (Anônima) ___________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Graça, Paz e Contentamento! Minha amiga querida, o que vou lhe dizer soará duro, mas não é. É apenas o meu desejo de ser honesto com você a fim de poder ajuda-la. Portanto, não fique magoada, mas grata com a verdade. Seu problema é esse culto estético-intelectual. Sua descrição do tipo de gente que você gosta, conta mais sobre isso tudo do que você pensa. Primeiro, saiba, é um horror ser do tipo de gente que confessa que só gosta de um certo tipo de gente. É um horror. Empobrece a alma. Amesquinha o espírito. Torna a pessoa um balão de vaidades, mesmo que aquilo que ela diga gostar nos outros seja arte, beleza, sensibilidade, cultura, requintes, finezas, e outros monstros da etiqueta e do fetiche intelectual. Segundo, esse tipo de atitude é exatamente igual a da namorada de seu cunhado. A diferença é que ela é “banal”—de acordo com seus gostos—, e você é educada intelectualmente. Mas, na prática, vocês são muito parecidas. Quem confessa as coisas que você confessa—não me refiro a ter tesão no cunhado, mas a dar importância esse besteirol intelectualizado—, não é em nada diferente da mulher que só gosta de “Caras” e “Contigo”. São ambas irmãs gêmeas. Habitam a mesma região, bem perto das poeiras do chão mais tolo desta existência. Vaidade é vaidade! E tanto faz se é a vaidade da maquiagem cosmética ou se é a vaidade da maquiagem intelectual. Tudo é vaidade! Essas coisas têm que nos servir. Mas o simples fato de darmos a elas essa importância, já nos apequena, mesmo que só se viva de ler os filósofos e os clássicos da literatura da alma. Este é o primeiro aspecto. Você inveja a ela também porque ela é uma versão de você que você nunca quis botar para fora—e talvez até negue que queira—, mas que está aí, dentro de você. Seu berço na Assembléia explica sua raiva da vaidade cosmética, tanto quanto explica seu amor pela vaidade intelectual. Lá na Bleia é pecado gostar de maquiagem cosmética, e é vaidade ser intelectual. Então, você “venceu” ambas as coisas fazendo da primeira uma bobagem, e da segunda um requinte para a alma. Ou seja: tanto seu desprezo pela maquiagem quanto seu apego pelo intelectual, são fruto do mesmo chão: complexo de culpa e inferioridade evangélicos. Toda hora eu vejo mulheres com seu berço religioso me contando os mesmos sentimentos, ou mostrando os mesmos sintomas. Pensam que isso passa desapercebido, mas não passa. É muito bandeiroso. Ou seja: O estético é pobre. O intelectual é nobre. De fato, querida, pura bobagem. Com isto não estou dizendo que sou contra os cuidados com a aparência e nem tampouco contra os prazeres do intelecto. O que estou dizendo é que a ênfase nessas coisas e nas suas supostas importâncias, é, de fato, igual. Isto porque atribuir tanta importância a essas coisas ainda é algo que se assemelha à empolgação dos “emergentes”, dos novos ricos, com a chamada “alta-sociedade”. Assim, minha querida, antes de tudo, trate dessas “falsas importâncias”, posto que é na raiz delas que está o seu problema. Digo isto porque seu interesse por seu cunhado vem, supostamente, desses predicados intelectuais que ele tem, muito “superiores” aos de seu marido. Razão pela qual você se sente tão importunada pela namorada dele, que, a seu ver, não deveria estar com ele, posto que uma mulher como você, à seu próprio juízo, é que deveria ter a oportunidade de usufruir a companhia de um homem tão “nobre”. Com relação ainda ao seu cunhado, digo-lhe que provavelmente seu encantamento com ele nada tenha a ver com ele mesmo, mas sim com o “tipo de homem” que ele é, conforme seu juízo de “valores”. Sem dúvida que esses seus “valores” é que seduzem a você mesma em relação a ele, muito mais do que ele próprio, posto que, provavelmente, ele mesmo, sem tais “predicados”, nada suscitaria em você. Assim, antes de tudo, saiba: você tem que se curar dessas falsas importâncias. Do contrário, todo homem com tais “predicados” lhe será sempre uma ameaça-tentadora. No que diz respeito ao seu marido, parece não haver dúvidas de que você o ama. Seu problema não é amor, mas vaidade. Você, de fato, não admira o seu marido—não que ele não tenha do que ser admirado; afinal, você mesma disse como ele é “legal”—; e é em razão dessa falta de admiração por ele como homem “sensível intelectualmente” é que vem essa sua predisposição quanto a projetar essa sua ilusão na direção de seu cunhado. Na realidade você anda tão empolgada com você mesma, e com a superioridade de seus gostos e apreciações, que, ao conhecer o seu cunhado, um pouco depois de haver casado com o irmão dele, pensou: “Puxa, que azar! Se eu ao menos tivesse esperado um pouco…teria encontrado ‘melhor partido’”. Desse modo, digo-lhe, como diria à minha filha se essa fosse a situação que ela me apresentasse: Pare de bobagem, aquiete-se, e aprenda do se faz um homem; e, certamente, homens não são feitos pelas línguas que falam, pelos livros que lêem, e nem pelos refinamentos de etiqueta que possuam. Homens são feitos de conteúdos mais profundos. No entanto, enquanto você tiver “tipos”, todo aquele que no “tipo” superar aqueles que no momento forem os seus “tipos”, esse último, “superior”, haverá de provocar em você algum “balanço”. Cobiça é a palavra. E mais: cobiça nada tem a ver com amor, mas com poder. Você olha para a namorada de seu cunhado, e diz: “Essa tola não tem cacife para ser mulher dele. Eu sim.” Olha para o seu marido, e diz: “Tadinho, tão legal, tão alegre, tão bom. Gosto tanto dele. Mas ele não tem cacife para mim. O irmão dele sim.” Assim, querida, comece a tratar da doença dessa vaidade e você vai começar a se sentir muito melhor, parará de comparar as coisas, e aprenderá a descobrir o que realmente tem valor. E eu lhe garanto: o que tem valor não passa por ai… O que fazer? Ora, esta verdade aqui, por mais dura que lhe pareça, é o caminho de sua libertação. Caia na real e você verá como o seu cunhado deixará de ser um homem cobiçado por você, e a namorada dele passará a ser apenas a mulher que ele gosta de ter. Quanto a você, aproveite seu marido, e não o compare com homem algum. Na realidade você está vivendo de deslumbramentos, e, se a eles se entregar, logo descobrirá que nada disso tem importância, e que casamento de intelectual com intelectual, em geral, nada mais é que comunhão de livros e filósofos, mas, quase sempre, não satisfaz a eles próprios, posto que nem só de livros e filosofias vive o homem, mas também de carinho, amizade, identificações inexplicáveis, e gostos não lógicos. Não tema o seu cunhado e nem tenha inveja da namorada dele. Seja grata pelo que você tem, e trate muito bem ao seu marido; pois, minha querida, pode ser que ele veja o que está acontecendo, e, assim, não venha mais a querer você. Nesse dia, então, você descobrirá quanto custa viver de ilusão. Eu teria muito mais a lhe dizer, mas hoje vou ficar por aqui. E não tema me encontrar e se apresentar. Eu já passei dessa fase—se é que algum dia estive nela—de pensar que as pessoas são montras em razão do que sentem. Receba meu carinho, meu amor e minhas orações. Nele, que não era um intelectual, mas era o Homem dos homens, pois era o Filho do Homem, Caio