ESTOU “NOS ACHADOS E PERDIDOS”
—– Original Message —– From: ESTOU “NOS ACHADOS E PERDIDOS”- porém com estranha e confusa alegria… To: [email protected] Sent: Tuesday, January 03, 2006 6:19 PM Subject: Carta Olá querido pastor! Sou extremamente grata por fazer parte da geração que pôde conhecê-lo, mesmo que pela internet. Esse email, pastorzinho, é um desabafo, tá?!… Bom, o que acontece é que estou cansada; aliás, não; estou é abismada, surpresa, triste; mas, ao mesmo, tempo feliz; e, também, com raiva; ainda que muito aliviada; porém com medo, muito medo. Confuso; né? Pois bem. Aceitei a Jesus como meu Salvador, quando tinha apenas sete aninhos. Aprendi tudo o que uma igreja evangélica pentecostal ensina, e, sinceramente… me sinto absolutamente… frustrada. Sabe por quê? Porque tudo o que eu pensava ser Jesus, não passa da mais pura essência religiosa. Como a religião é castradora!!!!!!! Tem um grito dentro de mim que precisa sair, mas não tenho onde gritar. O que eu faço? Jesus me foi apresentado como um ser bom; na verdade, o Deus do Amor, da Paz, o Amigo, o Soberano, o Rei dos reis. E ao mesmo tempo um Deus bravo, cuja justiça é lançar fora de sua presença os “servos maus”. O problema, pastorzinho, é que quem escuta música do mundo, quem tem tatuagem, quem tem piercing, entre outras coisas, se torna um “servo mau” perante a igreja. Quem teve relação sexual fora do casamento está limado pra sempre (é digno do inferno). Agora, sem hipocrisia, porque eu estou de saco cheio dela: Eu mesma já me peguei e me pego por diversas vezes sentindo raiva de pessoas que têm ou tiveram relação sexual fora do casamento. Rs… que ironia….!!! Sabe pastor, por causa destes paradigmas da igreja, eu me casei virgem aos dezenove anos. Foi-me ensinado que, quem quisesse ser feliz na vida conjugal, deveria esperar o escolhido (a), se guardar pra ele (a), nunca, jamais ter relação sexual antes de se casar ou mesmo ” fornicar”. Morria de vontade de transar, mas morria de medo também. Tinha medo de Deus (eu pensava, que se eu transasse, morreria logo depois e iria pro inferno). Tinha medo que minha mãe descobrisse. E tinha medo da dor; afinal, poderia doer ainda mais por ser pecado. Pois é, me casei virgem, e durante três anos sofri todos os dias durante a relação sexual. Só sentia dor. Era horrível! Só depois de três anos, sabendo que estava tudo bem com minha saúde, é que consegui relaxar o suficiente a ponto de ter algum prazer sexual. E a igreja, o que diz disso? Ninguém me disse nada! Lutei sozinha. E essa pressa em casar, para só então poder me relacionar, criou em mim uma carência terrível. Passei por momentos tenebrosos. Cheguei a trair meu marido. Tenho muita vergonha em dizer que sentia uma certa curiosidade em saber como seria transar com outra pessoa, se o orgasmo seria diferente. Experiência amarga e frustrante. Hoje está tudo bem, confessei e ele me perdoou. Sei que sou amada por ele, e ainda mais por Deus. Confessei meu pecado e creio que fui perdoada. Mas se um dia confessasse à igreja o que fiz, o que aconteceria comigo? Seria apedrejada? Aquela passagem da Bíblia, em que Jesus livra a mulher adúltera, parece que pouco funciona hoje. Não só no meu caso, mas em qualquer um. Um exemplo claro disso são os homossexuais. Como a igreja trata os homossexuais? Se o evangelho de Jesus é tão simples, por que ser evangélico é tão difícil? Eu não quero mais esse evangelho! Quero Jesus, só Jesus. O que escrevi lá em cima – “Bom, o que acontece é que estou cansada; aliás, não; estou é abismada, surpresa, triste; mas, ao mesmo, tempo feliz; e, também, com raiva; ainda que muito aliviada; porém com medo, muito medo” — significa a multidão de sentimentos que me invadem. Estou abismada, por ter descoberto que Jesus não tem nada a ver com os paradigmas da igreja; tenho raiva por ter passado por coisas, ter tido sentimentos e pensamentos que não precisava ter; mas tenho medo de que ‘o certo’ realmente seja esse o modo como a igreja vive. Viver não é muito fácil; né pastor? Bom seria se tivéssemos nascido no Reino de Deus sem precisar passar por este mundo! Rs… Um grande beijo. ________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Graça e Paz! Como você disse que está bem com seu marido e que o que passou, passou; posso lidar apenas com aquilo que para você parece paradoxal e confuso. No entanto, caso você não tivesse afirmado que está tudo bem na conjugalidade, por alguns instantes da carta, eu poderia ter pensado que sua angustia pudesse também ser de outra natureza. Porém, você foi explicita ao dizer que não é; sendo apenas algo que se relaciona ao que está acontecendo em sua mente frente a mudança radical de paradigmas. O que você chamou de confuso, para mim, entretanto, foi mais que claro e compreensível. Afinal, você está viajando dos pânicos do Monte Sinai para as Línguas de Fogo e para o Vinho da Alegria. Muita gente fica mais que feliz; porém, os traumas do Sinai são por vezes mais que traumatizantes, e não raramente têm o poder de manter a pessoa nesse estado de felicidade medrosa, de alegria culpada, de libertação presa, de entendimento raivoso, de descoberta que faz ter vontade de esganar os que nos enganavam…; ao mesmo tempo em que abisma a pessoa nos medos das maldições passadas… De tal forma que a alma quer a Palavra porque sabe que encontrou a verdade, embora tema se entregar, visto que a carga de “doutrinação” — quase uma lavagem cerebral, e em alguns casos sim —, é por vezes mais que poderosa. Você me parece ainda estar vivendo sob a dicotomia do Jesus bonzinho e do mauzinho. Isto porque em Jesus a adultera é perdoada, mas também se diz que há “servos maus”. A questão é só uma: Quem são os que hoje encarnam esses servos maus e que não têm o espírito do Evangelho como vida e confissão? Ora, Jesus não era como a “igreja”, que tem uma só régua para medir a todos. Jesus lidava com pessoas, com indivíduos; e sabia que o que se diz de bem e bom a um, não é necessariamente o mesmo que se deve dizer a outros; e o mesmo se aplica aos tratamentos. Assim, aos que eram como “cana quebrada e torcida que fumega”, gente quase morrendo de desesperança, Ele trata sempre com as mãos suaves de quem cura coisa delicada. Porém, quando Ele encontra os “casca grossa” que desejavam manipular e controlar as pessoas em nome de Deus, Ele se manifestava dizendo que os “servos maus” seriam lançados fora. A questão é que a “igreja” não chama de gente, e muito menos de gente boa, aqueles com os quais Jesus andava preferencialmente: os pobres, os quebrados, os feridos, os marginalizados, os ricos e infelizes, as meretrizes em busca de amor; e todos os parias da terra; sim todos, de qualquer natureza. E a “igreja” não gosta dessa gente embora Jesus mesmo tenha dito que o critério final do juízo é saber quem O viu entre os seres sem cara da Terra (Mt25). Desse modo, você sempre tem que ver com quem e por que Ele está dizendo algo, que é para você não se assustar com o juízo dos fariseus quando você está precisando da graça que receberam os publicanos e pecadores. Por esta mesma razão, caso Jesus aparecesse pregando hoje, numa sociedade cristã, teria que se valer outra vez das praças, dos bares, das esquinas, das casas dos aflitos, das praias, das estradas, e da companhia de todos os que não o julgassem louco de pedra, só que dotado de poderes especiais. Mas a moçada do templo, do sinédrio, dos fariseus, dos saduceus, dos herodianos, dos zelotes, dos essênios, dos escribas, dos rabinos, e todos os donos de Deus e de Seus oráculos — sim, todos esses, O repudiariam. Sim, não o quereriam por perto, pois acabaria com o negócio deles. Isto porque esse mesmo espírito encarnado pelos personagens acima mencionados continua entre nós. E eles pregam nos púlpitos, ensinam Bíblia aos nossos jovens, educam na arte da dureza espiritual todo novo prosélito, fazem proposta de negócios e barganhas com Deus aos que por eles se deixam conduzir, e convencem os homens de que é apenas por eles e pela “igreja” que Deus fala na Terra. Assim, se Jesus chegasse entre nós, os que hoje estão fora, o estariam ouvindo; e os que hoje falam em Seu nome, nem o reconheceriam; antes o declarariam blasfemo, pois com eles Jesus não teria nenhuma barganha a fazer. Sim, bastava que Jesus se apresentasse como João da Silva! É verdade que qualquer crente diria: “Mas Jesus agora só vai aparecer de novo nos ares; e todo olho verá!”— com isto querendo dizer que não corre o risco de não reconhecer Jesus hoje; até porque Ele não voltaria dessa forma. O problema é que Ele disse que antes de Voltar, voltaria sempre, com muitas caras, e que estaria entre nós, muitas vezes com a cara de gente que os crentes odeiam. Assim, isto posto; o que tenho a dizer a você é o seguinte: 1. Não fique com raiva, pois, você mesma sabe como já julgou a outros. Portanto, apenas agradeça pela sua libertação dos grilhões do pecado da servidão ao ídolo da religião, e viva o bem do Evangelho para a sua vida; e com toda gratidão e simplicidade. 2. Se alguém quiser saber o que houve, explique. Se não lhe perguntarem, não diga nada. Porém, se lhe julgarem, dê a razão de sua esperança. Se, todavia, não aceitarem e nem mais desejarem sua companhia, reúna um grupo de amigos e amigas, e comece a estudar a Palavra e a orar em casa. Com toda paz no coração. Com relação ao medo de estar errada, faça apenas uma coisa: pegue os quatro evangelhos e os re-leia por inteiro, em seqüência, até o fim. Leia sabendo que os fariseus, os escribas, as autoridades do templo, os mestres da lei, e toda a moçada que fazia oposição a Jesus, está entre nós. Sim, estão na “igreja”, não na vida, não na rua, não em contato com o mundo e com a realidade. Quanto aos “publicanos, meretrizes e pecadores”, saiba: eles são os mesmos; e estão à nossa volta. Aliás, à exceção das meretrizes, para a “igreja”, quem não é “dela”, é “publicano e pecador”. Assim, leia você mesma e conclua com a lucidez de seu coração. Tenho certeza de que o resultado será paz e bem! Saiba, entretanto, uma coisa: A pior hipocrisia é aquela que, em nome de Deus, põe sobre as pessoas pesos que já não existem, e que não existem não só porque já foram suspensos na Cruz, mas também porque seus postulantes, eles mesmos, não os praticam desde o fundo do coração, lugar no qual eles sabem que todos pecaram e todos igualmente carecem da glória de Deus, embora, apesar disto, se ofereçam ao mundo como os santos da Terra. Esses se tornam abomináveis ao Espírito de Deus. Nele, em Quem todo aquele que crê não fica confundido, Caio