ESTOU NUM MESTRADO, MAS NÃO QUERO SER “ORDENADO”



—– Original Message —– From: ESTOU NUM MESTRADO, MAS NÃO QUERO SER “ORDENADO” To: [email protected] Sent: Wednesday, November 30, 2005 5:08 PM Subject: Ordenação de pastores? Ola Caio, Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo extraordinário trabalho que você esta realizando através da Internet. Gostaria também de lhe dizer que você está bem adiante de muitos Doutores em Teologia que conheço, e também teólogos aqui nos EUA. Estou terminando um mestrado em Divindade no Texas. Caio querem me ordenar pastor, porém não vejo base bíblica para isto. Existe um grupo de pastores aqui nos EUA que querem que eu participe de tal processo. Se “passar” na entrevista, teste, whatever, serei ordenado pastor. Não quero passar por tal processo. Caio, como você vê a ordenação de pastores? Um abraço e beijo do seu amigo das horas certas e incertas, ___________________________________________ Resposta: Meu amado irmão: Graça e Paz! Não creio em nada que não seja espontâneo. Não quero para mim e não aconselho aos outros. Fui ordenado pastor um dia, na década de 70. Todavia, todos os meus contemporâneos em Manaus, sobretudo meus pais, sabem que ser ordenado “pastor” nunca foi minha ambição, sonho ou whatever… Eu só queria pregar. E pregava. Sem pedir licença a ninguém. Prova disso é que nem mesmo ao seminário eu aceitei ir, embora já pregasse na televisão desde os 19 anos, sendo ouvido e levado a serio pela cidade inteira, do Governador aos pobres e miseráveis. Houve insistência para que “aquela vocação não fosse desperdiçada, não indo ao seminário”. Pastores amigos me pediam que fosse. Queriam que eu que já era chamado de “pastor” pela maioria, “merecesse”, de fato e legalmente, esse “título”. Mas me neguei peremptoriamente a ir. Entretanto, entre longos jejuns e orações, dedicava-me à leitura da Bíblia, e, além dela, de muitos outros livros, tanto teológicos, quanto filosóficos, astrofísicos, antropológicos, históricos, psicológicos, sociológicos, e de todas as naturezas. A leitura bíblica era a ótica pela qual eu lia as demais coisas, incluindo o surgimento de muitas questões. Vencia-as em algumas “pelejas apologéticas”; ou, então, saía em busca honesta de resposta, não sem muitas angustias na procura de respostas. Quando decidiram me ordenar ao ministério, após minhas negativas quanto a ir ao seminário, pediram que eu escrevesse uma “tesesinha”; e, com efeito, foi o que fiz, escrevendo sobre a salvação dos pagãos no contexto do Velho Testamento, e, na argumentação, evocando a Ordem de Melquisedeque. Foram dois ou três dias de discussões. Por fim me ordenaram numa “ordenação” que não me ordenou nem uma grama espiritual a mais. Ou seja: o que já era não passou a ser em razão daquele rito. A única coisa que mudou é que os “ordenados” deixaram de ter o desconforto de que um “leigo” fosse visto pelos “leigos” como pastor. Acho que uma “ordenação” só não faz mal aos que já são ordenados previamente por Deus, mediante a manifestação do chamado e dos dons do Espírito Santo que sejam equivalentes ao chamado confessado. Do contrário, “fazer pastor” um cara que estudou teologia e olha para a “igreja” como lugar de “ofício sacerdotal”, crendo que tal “ordenação” tem em si o poder de ordenar, nunca faz bem. Creio que quando alguém tem alma de pastor, tal realidade se manifesta sem seminário, visto que o lugar no qual tal dom se manifesta é nas relações humanas, na vida. Se alguém, todavia, deseja ir ao seminário a fim de se dedicar aos estudos de coisas boas como línguas originais, história, e matérias bíblicas, se o fizer com o coração cativo do amor de Deus, e se o fizer tendo a Jesus como Chave Hermenêutica—ou seja: lendo a Bíblia a partir de Jesus, e não Jesus a partir da Bíblia—, certamente que o seminário fará bem; e isso se a pessoa espontaneamente desejar fazer o curso. Sendo, entretanto, prático, eu diria o seguinte: 1. Teologia e matérias a elas correlatas, no geral, são fáceis de serem estudas de modo auto-didático; especialmente quando se tem um mentor culto e lúcido nos assessorando, indicando boas e instigantes leituras. Portanto, sempre acho que quando alguém tem avidez intelectual para dedicar-se à leitura, e que possui capacidade de abstração, aconselho tal pessoa a “poupar” o tempo do seminário, e isto mediante leituras de boa qualidade, dedicando tempo a áreas do saber nas quais o progresso é vinculado a freqüência a um curso formal; visto que, no caso da pessoa desejar dedicar-se à ajuda humana (“pastoral”), possivelmente um curso de psicologia fosse mais prático visando tal finalidade do que um curso de teologia. 2. Quando o chamado da pessoa tem a ver também com a pregação e o ensino, julgo que boas leituras teológicas, bons comentários bíblicos, e bons livros de história da Igreja; e um bom curso de comunicação e psicodrama, ajudam muito mais do que um seminário formal. 3. Se, todavia, a pessoa deseja se preparar academicamente para ensinar teologia e línguas originais, então aconselho que vá para uma universidade “secular”, das boas, e ali se prepare convenientemente. 4. No entanto, se o desejo de alguém quanto a ir a um seminário for exclusivamente aquele vinculado ao desejo de saber mais, caso não tenha o desejo de aceitar a proposta da “igreja” de somente admitir “ministros” que tenham sido “ordenados”, sugiro a tal pessoa que termine o curso e não aceite ser ordenada, posto que a mera “ordenação” já coloca a pessoa num nível de “cobrança” interna e externa, que nem sempre fazem bem; sem falar que alguns, fracos de personalidade, acabam por se dissolver como indivíduos, acolhendo a “clonagem” da sacerdotalidade oficial. 5. Em razão disso eu creio que ninguém deveria ir a um seminário com o fim de estudar e dedicar-se ao “pastorado”, sem que antes, no seu quarto, no recôndito do ser, não tivesse sido ordenado pelo Espírito de Deus. 6. Por último, quero dizer que tais conflitos não acometem quem tem o dom de misericórdia, ou de milagres, ou de curas, ou de discernimento de espíritos, ou presidência, ou diaconia, etc…—, mas tão somente aos “dons” ou “chamados” relacionados à “fala pública”; ou seja: pastores, mestres, e, de vez em quando, evangelistas. Ora, isto apenas mostra que a estrutura de ensino foi toda criada visando produzir profissionais da fala e do ensino, e isto em conformidade com as doutrinas da “igreja” à qual a pessoa estiver vinculada. Desse modo, muitas vezes, o seminário é lugar de “amestramento” de futuros “domadores de almas”. Concluindo, meu irmão, eu creio que quem é, é. E, quando alguém decide seguir seu coração em Deus, tal pessoa encontrará sempre o tempo e o modo de com sabedoria fazê-lo. Entretanto, não creio em nenhuma manifestação de dom no qual eu não veja graça, unção, vontade, espontaneidade, paixão e capacidade pratica de “partir pra dentro”, sem consultar “carne e sangue”, conforme Paulo, e, sobretudo, conforme o modo de Jesus chamar as pessoas no caminho, de acordo com os evangelhos. Esta é minha opinião. Espero que lhe tenha servido de algum modo. Nele, em Quem qualquer coisa sem amor de nada aproveitará, Caio