ESTOU PERDENDO A MINHA MULHER PARA OS DOZE (I)
—–Original Message—–
From: ESTOU PERDENDO ATÉ A MULHER PARA OS DOZE
Sent: quarta-feira, 17 de setembro de 2003 19:51
To: [email protected]
Subject: GRUPO DOS DOZE
Mensagem:
Mui Amado Pastor,
Antes de abrir meu coração, gostaria de dizer-lhe que tenho profunda admiração por sua conduta.
Acredito que não somente eu, mas uma infinidade de irmãos sentiram-se como que órfãos naquele momento de turbulência em sua vida, mas graças somente a Deus temos novamente o seu afago, suas palavras de graça e sabedoria que emanam abundantemente sobre aqueles que acessam este site.
Aqui nós somos confortados em saber que maior é o que está em nós do que o que está no mundo.
Agora vamos ao assunto.
Fui criado numa família evangélica (batista) e desde pequeno orientado por minha mãe nas sagradas letras. Cresci dentro do ambiente tradicional das igrejas batistas (que você conhece muito bem), e embora ocorressem aqui e ali divergências, acreditávamos que vivíamos dentro da limitação de nossa natureza, e do ambiente que nos cercava um pouco do Evangelho (hoje vejo que havia muita religião). Tivemos um pastor que acabou se envolvendo com algumas mulheres; em seguida outro que cometeu adultério, seguido de outro que abandonou a igreja e o ministério; e hoje temos um que lidera a igreja, e é especificamente sobre este último e os desdobramentos de sua vinda para nossa igreja que eu quero me deter.
Há aproximadamente quatro anos e meio ele e esposa apareceram um domingo à noite gritando algumas coisas, dizendo que cultuávamos de forma errada, vivíamos um modelo de igreja errado, estávamos bastante doentes e por demais religiosos; que a igreja precisava de conversão, e muitas outras coisas das quais já não me recordo. Muitas delas ou todas verdades, mas que eram ditas num tom incendiário e de profetismo histérico que me pertubaram e a outras pessoas também.
Apesar de me causarem espanto, hoje penso que não deveriam ter causado, pois era próprio em suas mensagens falar em demasia com uma ira e rancor contra tudo e todos, insistir em temas de sexualidade, etc…
Para mim os temas só revelavam e revelam que ele vive numa sexualidade bastante deformada.
Após este dia a igreja começou a passar por uma série de mudanças, muitas das quais, inicialmente, foram efetuadas subterraneamente, mas que vieram a público também num culto de domingo à noite, quando um grupo de irmãos entrou gritando na igreja dizendo que ali ninguém era crente, que todos viviam só como religiosos, que estavam doentes; tudo num tom alarmante e esquisitíssimo.
A partir daí mais e mais pessoas começaram a chegar contando que tinham passado por isto e aquilo, a dar testemunhos de mil e uma coisas; diziam que viviam no pecado, mas que tinham visto num tal ENCONTRO que precisavam voltar-se para Deus, e que tinham encontrado realmente a CRISTO.
A coisa começou a alcançar níveis tão bizarros que eu e minha esposa e alguns familiares resolvemos sair da igreja.
Esta decisão foi amadurecendo à medida que conversávamos com outras pessoas (tanto do grupo que tinha aderido ao novo modelo –G 12—como também entre aqueles que ainda não tinham se posicionado sobre o que acontecia); e, por fim, sem divisões, intrigas e sem procurar causar nenhum incômodo ao pastor, saímos…
Fortaleceu-nos também na decisão tomada outros incidentes, como por exemplo, um dia em que ele na sessão “cassou a palavra” de minha esposa dizendo que ela estava ali somente para atrapalhar.
Ela tinha feito uma pergunta, solicitando um esclarecimento, o que causou um tumulto na igreja, culminando numa reunião ao fim do término do culto à noite.
Conversamos com ele dizendo que sentíamos muito que a igreja enveredasse por este caminho, mas que não gostaríamos de ser empecilho para o seu ministério.
Ficamos afastados por um ano (minha esposa não se adaptou à outra igreja para a qual fomos), e depois de muita insistência dela e do pastor da igreja, voltamos…
Voltamos, mas eu me sentia totalmente desconfortável com os cultos que mais pareciam e parecem um grande show de auditório, com um animador fazendo todo mundo levantar mãos, abaixar mãos, aplaudir, manter-se em pé indefinidamente, fazer declarações, abençoar-se, ter visões rotineiramente, fazer discursos inflamados, etc., etc., etc., coisas que você já está calejado de saber.
Fui sendo acuado e pressionado a participar de um tal Encontro, e depois de tanta insistência acabei indo, embora bastante relutante…fui também porque minha esposa queria bastante, embora eu lhe dissesse os riscos de tal aventura e porque a amava.
Passamos quase 3 dias ouvindo sobre maldições hereditárias, batismo no Espírito Santo, curas, perdão, confissão, arrependimento, pecado, inferno, mas quase nada (só um titico) daquilo que move nossa vida: a superabundante Graça de Cristo.
Não podíamos conversar uns com os outros e não podíamos manter contato com os que estavam de fora (parentes, filhos, etc.)
No último dia nos surpreenderam com mensagens de irmãos dirigidas a algumas pessoas—eu entre elas—, o que no meu caso, rompeu uma multidão de lágrimas, e por tais mensagens fiquei bastante tocado (mensagens de felicidade, de paz em Cristo, de prosperidade, de abundância das bênçãos de Deus, etc…)
A partir dali comecei a crer que, embora muita coisa eu não concordasse, que a igreja precisava de um re-avivamento, e que esse talvez fosse o momento para a deflagração do processo (eu sei que precisa de piedade e volta à Palavra, mas também sei que era só o início e que os rumos seriam desentortados adiante, e que a igreja novamente receberia tempos de abundante Graça).
Fomos sondados (eu e minha esposa) alguns meses depois para liderarmos uma Rede de Casais; e depois de algum tempo de reflexão aceitamos o convite.
Em seguida fomos convidados para estarmos à frente da Igreja como co-líderes juntamente com outros 11 casais, e decidimos aceitar. Começaram então a surgir certas coisas (ou talvez o termo correto seja “revelarem-se”), que foram e são ainda hoje um estopim para uma série de acontecimentos posteriores e que ainda ocorrem lá.
Na formação da liderança o tal do G-12 exigia obediência absoluta, conivência; e “em troca” éramos recompensados com festas íntimas (somente o grupo participava – nada de conotação sexual); e o conhecimento de certos problemas da igreja.
Procuramos, eu e esposa, dedicarmo-nos ao máximo ao trabalho, crendo que seria uma oportunidade para a igreja amadurecer nos relacionamentos conjugais (adultérios, separações, agressões físicas e tantas coisas que aconteciam entre casais que nos assustavam), e aperfeiçoar-se no discipulado cristão.
Aconselhamos, visitamos, pregamos a palavra, confortamos, admoestamos, encorajamos, confrontamos, e dedicamos nossos esforços, tempo e dinheiro com paixão, crendo que estávamos fazendo a vontade do Pai e servindo aos irmãos.
Enquanto isso ouvíamos, quase dominicalmente, as maiores barbaridades de púlpito (orações por morte de irmãos, revelações divinas que “fortaleciam” certas mensagens e atemorizavam os ouvintes incautos, quedas, desmaios, simulações e dissimulações que ainda hoje quando me lembro levam-me quase ao desespero; marchas de guerra, tipo: “esquerda, direita, esquerda, direita eu piso no diabo; esquerda, direita, esquerda, direita eu sou um conquistador, tudo devidamente encenado com música marcial, etc…
Enfatizava-se continuamente a oferta, os dízimos e contribuições; ameaçava-se quem não desse com o texto de Ageu, aquele do gafanhoto migrador, cortador e destruidor…
Gritava-se, exigia-se o bater de palmas, pulava-se; enfim, tudo parecia um grande show.
As mensagens diziam uma coisa num domingo e no outro contradiziam (o jeito Pavolv de ministrar).
Na contradição, acaba-se por perturbar as consciências e o entendimento, a tal ponto de não ser mais possíveis, depois de tantos estímulos contraditórios, discernir o que estão certo do que está errado.
Ocorreram, então, dois problemas: um irmão do grupo foi acusado de ofender com palavras torpes uma nova irmã, e isto acabou por revelar mais uma face obscura do líder, que já vinha divergindo de uma série de pontos com o acusado; e que depois de acreditar na irmã (coisa que ainda hoje acho absurda, pois tal irmão procurava viver de forma digna e piedosa), acabou for forçá-lo a sair da igreja; e causar um certo desconforto em uma parte da liderança e aceitação tácita de outra parte.
Logo depois foi com o outro casal de pastores da igreja que se sentiram deslocados com as constantes interferências no trabalho que exerciam à uma parte da igreja e acabaram também de sair da liderança.
Exigia-se mais e mais obediência; mais e mais a palavra era menos ensinada; e mais e mais esquisitices eram ensinadas a ponto de achar que o culto se transformou num espetáculo em que os mais bem preparados fisicamente seriam os artistas, e os demais fãs e espectadores de um mundo grotesco.
Minha angústia, pastor Caio, é que acreditei de boa fé que a igreja estava realmente disposta a mudar, e a liderança desejava isto, e embarquei nesta canoa (como já disse sei que o avivamento começa pela Palavra de Deus), instruindo alguns a envolverem-se, e buscarem em Deus, em oração…
Procurei orientar conforme a Palavra, instruir conforme a Palavra, confortar; e sei que confortei a muitos, pois muitos assim mo disseram, mas não consigo saber como depois de ter descrido e voltado a crer em tal coisa, posso agora reparar tantos danos. Pois embora decidido a não mais me envolver com tal coisa, não sei para que igreja ir…
Gostaria de estar é longe de minha casa, e isto também porque minha esposa ainda é “adepta do movimento” e resiste às minhas indagações; sustentando que não temos para onde ir.
Já pensei em abrir um ponto informal de oração e leitura da Palavra em minha casa.
Tenho divulgado este site com muitos textos seus sobre o assunto para amigos que estão também perturbados com tal estado de coisas.
Gostaria de lembrar que o guru do pastor é de sua terra (acredito que saiba quem é), e ele não toma um passo sem consultar a ele.
Muito teria ainda a lhe dizer, mas encerro suplicando: AJUDE-ME, pois até o meu casamento esfriou por conta de tais coisas; e não sinto forças para raciocinar lucidamente.
Eles querem que apresentemos resultados estatísticos de crescimento, mas creio que é Deus quem dá o crescimento; e a ênfase excessiva em números para mim só revela que existe vaidade e arrogância.
Um grande abraço, e aguardando sua resposta um BEIJÃO.
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Resposta:
Meu amado irmão: Graça e Paz sobre sua alma!
Que saudade daquela velha e problemática igreja batista!—deve ser o que você está sentindo.
Meu amado irmão, falo sem rodeios: este movimento é uma seita cristã, e que carrega em si um dos mais poderosos poderes de manipulação de grupo que a chamada “fé evangélica” já desenvolveu no Brasil—embora o modelo não seja novo, e seja importado, mas o Brasil é “criativo”, e seus muitos pastores não amam o povo, mas a si mesmos; não amam a Palavra, mas apenas o poder.
Neste sentido aqueles que dominam o “Mercado de Vendas de Produtos de Deus” na televisão, são menos perigosos para quem tem alguma fé, que esses tais apóstolos; pois, aqueles já carregam a marca do comércio na testa, porém esses tais apóstolos se dissimulam sob as mascaras do avivamento, a fim de aprisionarem os crentes incautos e inseguros.
Minha tese é que um dos elementos mais fortes para o “evangélico” não é a Palavra, é a “igreja”.
Em geral o “Evangélico” não é de Cristo; ele é antes de tudo da “igreja”.
Daí até mesmo você—com toda consciência que você expressou possuir durante o processo—, ter voltado ao lugar por inadaptação a outra igreja.
Agora esse é também o problema: sua esposa ficou seqüestrada, e você está refém desse hospício.
Muita calma nessa hora!
É lamentável que dois mil anos depois da Ressurreição a gente esteja aqui falando disto; dessa enfermidade que faria a qualquer dos apóstolos mergulharem em estupefação.
O que vemos, meu amado, é o retrato do que Paulo disse que aconteceria nos últimos dias.
Olho para isto tudo e só vejo apostasia da fé. É o pastoreio daqueles servos que disseram: “Meu Senhor demora”. E, então, começaram a dominar, fazer violência e a espancar os irmãos.
Jesus nos advertiu de que haveria aqueles que se embriagariam, e mergulhariam em dissolução (foi o caso dos pastores anteriores); e também disse que haveria aqueles que “dominariam o rebanho”; sem falar no horrível vaticínio: “E farão comercio de vós”.
Portanto, está tudo conforme a profecia.
O que fazer?
Bem, inicialmente você deve ficar quieto e calmo; isso se você não quiser perder sua mulher.
Já vi inúmeros casamentos que se esfacelaram em razão disso. Serão capazes de manter sua mulher “presa” enquanto dizem a ela que você é um “rebelde” que não entendeu a visão, e que deseja afastá-la do caminho desse “mover”.
Assim, eles têm permissão para separar a todos os que não se fazem obedientes como casal.
Portanto, nada de brigas e discussões. Você tem que ganhar a sua esposa na sabedoria, não no antagonismo.
Fazer uma reunião em casa será ótimo se o tema não for a “malhação” da outra igreja.
Reúna-se com amigos a fim de estudar a Palavra.
Seja propositivo, não reativo!
Se a Palavra não conquistar as almas vocês ficaram apenas tendo longas e amargas discussões.
Também seja mais marido e homem para a sua mulher do que jamais antes em toda a sua vida.
Quanto ao que se pode fazer de modo mais geral, minha resposta é Tudo e Nada. Sendo que Tudo significa não participar de Nada. E Nada é não fazer Nada, exceto Tudo: não participar de Nada!
Quem freqüenta tais lugares não tem porque reclamar. Quem freqüenta reclame de si mesmo, mas não se escandalize.
Sabe por que eu não me escandalizo com nada?
Primeiro porque acho que sou meio não-escandalizável (quem lê a Palavra e crê nela, não se escandaliza mais com a natureza humana); segundo porque eu não dou nem a chance de me escandalizar de raiva (seria o máximo que aconteceria comigo), pois eles nunca tiveram e nem terão minha presença em seus ajuntamentos. Nem curiosidade eu tenho.
Infelizmente já sei como é, e não é de hoje.
Seita é seita!
Quanto ao que penso sobre o assunto, aqui no site já há farto material.
E mais: não é nada pessoal contra as pessoas (apesar de que penso que alguns deles estão malucos e outros mal-intencionados), mas trata-se de uma total revolta contra a subversão da mensagem do Evangelho de Cristo.
E olhe só: pela verdade do Evangelho eu estou disposto a dar a minha vida, não para salvar o Evangelho de nada, mas para manter minha consciência intacta ante o que creio, cri, preguei, prego, pregarei e, sobretudo, por me saber testemunha da Palavra na minha geração—como tantos outros o são!
Receba meu carinho e minhas orações.
Vá com calma.
Nele,
Caio