ESTOU TRISTE E SEM FORÇAS

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: ESTOU TRISTE E SEM FORÇAS

To: [email protected]  

Sent: Sunday, June 17, 2007 8:39 AM

Subject: Estou triste e sem forças

 

 

 

Querido Caio Fábio,

 

Paz de Jesus!

 

Resolvi lhe escrever logo que li os últimos textos que você postou no site. Pois eles geraram um turbilhão de pensamentos no meu interior. E confesso que me deixaram em estado de crise. Choque. Na verdade, me deixaram triste!

 

Quero aqui abrir meu coração sobre alguns sentimentos que se instalaram na minha alma por esses dias.

 

Acompanho de perto o Caminho da Graça desde seu inicio. Confesso que me sinto pertencente a este movimento histórico por conta do que creio prego e ensino sobre o Evangelho da Graça de Jesus. Sou do Evangelho. Não sou um evangélico. Sou uma alma sobrevivente! Pois sempre cri nas coisas simples de Deus, que estão reveladas no Seu Filho. Sei que por conta do que creio, sofro muito… Pois nem todos, crêem do mesmo modo. E assim, sempre fui visto como um herege, doido, rebelde. Um surtado! Apesar disso, procurei guardar meu coração, de modo que a fé não se esfriasse. O site tem me ajudado muito.

 

Acontece que de um tempo pra cá, tem me batido uma tristeza. Algo estranho. Primeiro, veio a angustia de continuar falando, e não ser entendido. E com isso, veio junto o medo da rejeição. E isso, tem me deixado sem forças. Desanimado. Não quero pregar. Não sei o que me aconteceu. Há uma sensação de incapacidade intelectual, moral, espiritual e vivencial.

 

E depois, me veio uma crise doida, que fez pensar (duvidar) se creio de fato em tudo que sempre preguei e ensinei. Comecei a olhar pra mim mesmo, e perceber quantas incoerências me habitam. O quanto estou distante da existencialização do Evangelho como verdade em mim. Será que entendi mesmo o Evangelho? Será que chamei o Evangelho pra minha existência com a mesma intensidade com que prego às pessoas?

 

Caio, talvez eu não esteja sendo claro sobre o que sinto. Na verdade, estou confuso mesmo. Só sei que tenho chorado diante de Deus pedindo pra ser livre do engano. Não quero estar enganado, e nem enganar a ninguém.

 

Tenho me sentido um incapacitado diante da seriedade que envolve a obra de anunciar o Evangelho pra essa geração.

 

Sinto-me alguém que não deveria estar fazendo o que faço. O Evangelho é algo sério. Não é brincadeira… E com isso, tenho me sentido um inapropriado para esse ministério. Entende?

 

Essa é minha dor.

 

Um beijo no seu coração.

 

Saiba que te amo muito, meu querido irmão.

 

G. P.

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Resposta:

 

 

Querido amigo no Reino: Graça e Paz!

 

 

 

 

Sua dor é a dor dos que precisam descansar de suas obras como Deus descansou das Suas, conforme diz o escritor da epístola aos Hebreus.

 

Digo isto pelo seguinte:

 

 

Primeiro você mencionou os meus “últimos textos”. Ora, nos últimos textos (com ênfase nos últimos dois meses), decidi deixar cada vez mais claro como aquilo que EM GERAL se valoriza “para o ministério”, é pura invenção da vaidade humana, posto que o que vale é apenas ter o coração conformado na Graça, conforme Paulo diz.

 

Depois disso, então, você declara que não quer mais pregar, e diz que não sabe o que aconteceu, embora saiba descrever a sensação que o acomete, que é “uma sensação de incapacidade intelectual, moral, espiritual e vivencial.” Ou seja: o sentimento é de incapacidade total.

 

Assim, tudo isso (o encontro com a consciência do Evangelho; o encontro com a indiferença das pessoas; o encontro com o medo da rejeição; o encontro com a verdade desejosa de entrar nas vísceras de seu ser; e o encontro com a necessidade de decidir algo novo) — colocou você no chão da insegurança.  

 

Veja o que você disse:

 

Comecei a olhar pra mim mesmo, e perceber quantas incoerências me habitam. O quanto estou distante da existencialização do Evangelho como verdade em mim. Será que entendi mesmo o Evangelho? Será que chamei o Evangelho pra minha existência com a mesma intensidade com que prego às pessoas?

 

Desse modo, surgiu em você um conflito. De um lado você crê que o que ensino é o Evangelho, e seu coração sabe isso. De outro lado, vem o medo da rejeição, e, sobretudo, o medo de sua inadequação ao chamado, o qual, não apenas suscitou em você insegurança (em razão da necessidade de de-cisão), mas também gerou em você a pergunta: “Estou à altura do chamado? Da seriedade do chamado? Tenho capacidade intelectual, moral, ética, e vivencial para tudo isso?” E, sua resposta a você mesmo é que você não está pronto para o novo, embora, tenha se sentido pronto para o velho até agora.  

 

Ora, o que está acontecendo é que a fim de não ter que enfrentar a radicalidade da de-cisão, sua alma começou a trabalhar inconscientemente, buscando evasão de tal fato essencial, dizendo a você que existe a possibilidade de que o certo seja o errado; e isto apenas para que você não tenha paz para tomar a de-cisão a ser tomada.

 

Veja:

 

Tenho chorado diante de Deus pedindo pra ser livre do engano. Não quero estar enganado, e nem enganar a ninguém.

 

Entretanto, amigo, fica difícil apenas dizer para si mesmo:

 

“Tenho medo da barra pesada, das rejeições, das perseguições e de todas as acusações de heresia… Tenho medo de perder todos os amigos, e de ter que re-inventar a minha vida toda… Tenho medo de não agüentar a pressão e voltar… Temo a vergonha de ter que voltar se não der certo… E temo que meu coração não esteja preparado para bancar nada… E se eu mesmo não me segurar e for desqualificado para o ministério?”

 

Sim! É isto que quer dizer este seu “… tenho me sentido um incapacitado…”

 

Ora, isto é o que lhe está acontecendo; e sei que é assim pelo fato de já ter vivido isto em mim mesmo há muitos anos atrás; e, além disso, por ver o processo todos os dias nas vidas de centenas de pessoas. Portanto, eu sei que é assim…

 

Todavia, o que suscita esse sentimento é algo ainda mais profundo: a sua justiça própria.

 

Sim! Porque somente a justiça própria faz o individuo dizer a si mesmo que não está adequado ou capacitado para a tarefa do Evangelho (em si mesmos e entre os homens).

 

Paulo, porém, pergunta: “Quem é suficiente para estas coisas?

 

Ou seja — quando alguém diz que está preparado, não está; e quando alguém diz que não está preparado, esse, se crer e confiar, e não andar buscando se firmar em sua própria justiça e capacidade pessoal (como se da própria pessoa procedesse qualquer coisa…), tornar-se-á “preparado” pela mera consciência de seu próprio despreparo.

 

Na Graça o “preparado” é somente aquele que sabe que não é e não está; pois, todo aquele que diz estar preparado, na mesma hora se desqualifica.

 

Inadequação é o que marca o meu serviço ao Evangelho.

 

Ora, é porque sincera e seriamente eu sei que não estou e jamais estarei pronto para o Evangelho; e também por saber e crer que a mensagem do Evangelho anuncia que ninguém está pronto (são cegos, coxos, paralíticos, surdos, doentes, possessos, publicanos, filhos pródigos, meretrizes, pecadores, parias… — os chamados), é que me ofereço como ser ideal para a tarefa; e isso em razão de minha sincera vontade de ser servo da Boa Nova (para mim e para os homens).

 

O problema é que você sempre creu no Evangelho (em sua essência); e, por isso, logo se identificou com o que eu ensino. Todavia, treino e treino e jogo é jogo; e sua alma sabe disso.

 

Sim! Até aqui era bom vir ao site, ler, gostar, aprender, debulhar, usar e pregar…

 

 

Entretanto, agora, sua alma já não aceita isso. Ela quer a verdade e a aventura da verdade, até o fim.

 

Sim! Isto porque você já pregou demais sobre a Graça para outros, a fim de poder ficar o resto da vida sem levar a nova consciência até as ultimas implicações dela em sua vida.

 

Portanto, seu conflito tem apenas a ver com fé, e com a necessidade de confiar e descansar.

 

Você precisa descansar de tudo. De sua justiça própria ao seu medo de rejeição generalizada. Do medo da rejeição associada à heresia (que é o que “eles” dizem de mim; e de todos os que se entregam ao Evangelho, sem barganhas a fazer), ao temor de não mais ter espaço; ou, pelo menos, o mesmo espaço de ministério.

 

Sim! Em tudo isso você precisa descansar.

 

Descansar em razão de entregar tudo a Deus com aquela fé que chega a fazer o indivíduo se perguntar se não está sendo irresponsável por confiar tão radicalmente nos cuidados de Deus.

 

Digo isto porque uma coisa é a gente crer no Evangelho como assentimento intelectual; e outra bem diferente é crer nele para o todo da vida, sem nenhum auto-proteção.

 

Você chegou ao ponto do caminho no qual a viagem se tornará cada vez mais visceral e menos virtual; cada vez mais experiencial e menos intelectual; cada vez mais feita de entrega e fé e menos de realizações pessoais ou de afirmações de terceiros acerca do fazemos.

 

Assim, meu mano, essa é a Hora da Decisão. Aqui os caminhos existenciais se bifurcam e sua alma deseja saber qual é o caminho dela — se esse de hoje (de cisternas boas, porém exíguas); ou se será aquele que levará você até o fundo do Poço das Águas Vivas.

 

Concluo dizendo que a presente crise é a melhor coisa que lhe aconteceu, pois, triste seria se você apenas gostasse muito de tudo, mas fosse capaz de conciliar isso com o que em relação ao chamado do Evangelho é sempre apenas um colocar tímido de pé na estrada, no caminho.

 

Portanto, abrace sua crise como obra do amor de Deus e como vontade de Deus em relação a fazer o Evangelho se expandir em sua vida.

 

Você sabe que se precisar de ajuda, eu e todos os amigos do Caminho aqui estaremos para oferecer a você o ombro, os braços, as pernas e o coração. Creia nisto!

 

Pense no que lhe disse e me retorne!

 

 

Sempre com todo amor e carinho; e, sempre Nele, que é o Caminho a ser seguido sem medo,

 

 

                                                                                                    

 

Caio

 

17/06/07

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