EU ACEITO DESCANSAR!
—– Original Message —– From: EU ACEITO DESCANSAR! To: [email protected] Sent: Wednesday, April 06, 2005 3:09 PM Subject: Amigo Caio Olá Caio, Li sobre sua “terça-feira de mau humor”. Compadeci-me com você. Sabe, há anos atrás, num dos programas “Pare & Pense”, vi você com um semblante cansado e parecendo bastante triste. Parecia que lhe faltava seu brilho comum nos olhos. Refleti sobre sua vida, compromissos, correria, eventos, preleções, viagens, assédios, entrevistas, noites mal dormidas… tudo o que acaba realmente estressando qualquer ser vivente. Sabe Caio, como já lhe falei, embora não nos conheçamos pessoalmente, sinto você como um irmão próximo. Sei que provavelmente não tenho nada a acrescentar a sua experiência e vivência, mas, cuide-se meu amigo. Quem sou eu para lhe dizer isso ? Alguém que lhe estima a distância e ora para que você tenha sempre um pouco de si para dar, como sacrifício suave e agradável a Deus, mas que não se esgote no corre-corre do dia-a-dia. Sim, acredito que muitos precisam de sua voz, mas acho que você também precisa de você. Cuidado com a sangria desatada daqueles que querem sua presença e sua voz. Se puderam esperar um dia, poderão esperar mais uma semana. Se puderam esperar uma semana, talvez possam esperar mais uns quinze dias. É lógico que todos gostaríamos de um Pare & Pense semanal. Mas acho também que, aos poucos, tudo pode voltar como antes, no que diz respeito a compromissos, correrias, eventos, preleções, viagens, assédios, entrevistas e noite mal dormidas e enquanto há um deleite geral por sua presença, você vai ficando cada vez mais sem você. Silêncio a todas as vozes que ficam gritando seu nome, pois tantas vozes podem sufocar a sua voz. Tanta estações ligadas podem causar séria estática na transmissão. Trabalho com pessoas que me são subordinadas. Aconselho que na hora do almoço elas descansem e comam tranquilas. Digo para que desliguem os celulares. Afinal não será uma hora e meia fora do serviço que fará com os problemas não sejam resolvidos. Além do mais, quando voltarem, voltam refeitas e prontas para nova carga de trabalho. Aconselhos aos meus amigos “worklovers” que tirem suas férias e descansem mesmo. Desta forma, cuide-se meu caro, para que descansado, possa sempre estar pronto para outra sessão de trabalho. Perder uma noite ou outra, tudo bem, mas não deixe mais que isso se torne um hábito. Tente não marcar uma viagem atrás da outra. Faça um “turno” de 12 por 36 e sempre tenha tempo para se recompor. Quero chegar a ficar velho e ainda ver você, pacificado e continuando a combater o bom combate. Não me tenha por presunçoso em querer lher dar conselhos, mas amigos falam com amigos e tem liberdade de dizer o que sentem (mesmo quando sentem equivocadamente). Por isso termino pedindo perdão pela intromissão, mas sinceramente eu lhe diria isso pessoalmente e sei que veria nos seus olhos (em dias de bom humor) um olhar e sorriso paciente de quem “já conhece a história”, mas que caridosamente escuta com atenção. Receba meu beijo carinhoso e abraço de afeto. Seu também filho na Graça, Silvio ___________________________________________________________________________ Resposta: Meu querido Sílvio: Graça e Paz! Fique tranqüilo meu irmão, aquela vida, Deus me ajude, nunca mais! Nem de longe. Nem de brincadeira. Nem para atender a nada que não seja uma ordem divina. Nada mais. Só eu sei de fato o que vivi todos aqueles anos. Alguns têm idéia, mas bem poucos sabem algo de como era. A maioria pensa que sabe, mas não tem a menor idéia do significado do que era aquilo. Quando o Lula me conheceu, em 1991, e percebeu meu vai e vem…, indagou, e ficou sabendo de como era a minha vida e agenda. Então ele me disse o que viria a repetir outras vezes: “Eu só vivi assim em Campanha Presidencial. E pensar que você vive assim a vida toda! Não sei como você agüenta!” Nem eu sei como agüentei… Cansa só de pensar… Outro dia descobri que inconscientemente andei apagando da memória muita coisa que se relacionava aos picos mais aflitivos daquele modo de vida. É obvio que tudo começou bem devagar. Mas, quando explodiu, e logo explodiu, a existência saiu completamente do controle pessoal, em muitos aspectos. E, naquele tempo, muito menos maduro, bem menos consciente do que é e do que não é; do que vale e do que não vale; do que tem a ver com o que é essencial e o que apenas se veste de importância—acabei por correr mais do que se concebe correr. O que me fascina é constatar a provisão de Deus para o meu ser mesmo em meio a tudo aquilo. Os aviões se tornaram lugares de ‘retiro espiritual’—não no Brasil, onde eu era muito abordado—, especialmente nas muitas e, às vezes, semanais viagens para o exterior. Li a Palavra e orei muito enquanto rodava a Terra, lá em cima, olhando oceanos, desertos, ilhas, mares, montanhas, calotas polares, floresta infindas… No entanto, eu era apenas um ‘potro’ afoito e apaixonado. Tinha outra energia, fruto de outras esperanças. Mas eu tirava férias naquele tempo também. Ia pra neve, para bem longe… Buscava solitude! O problema é que nem sempre eu feriava nas férias. Cheguei mesmo a descobrir depois de alguns anos, que depois de uma semana de férias eu me deprimia porque o organismo demandava o mesmo nível de adrenalina ao qual era acostumado. E, sabendo disso, comecei a me preparar para as férias… tentando mudar o ritmo um pouco antes… Também, naqueles quase trinta anos, tive dois anos sabaticos e meio. A saber: meio ano na Europa em 1977, e dois anos na Califórnia em 1998-99. Foram dois períodos memoráveis de descanso e reflexão. De oração e muita leitura também. O que me foi extraordinário, foi a experiência de que aquele modo de vida foi quebrado ao meio e estilhaçado, do dia para a noite, e me pôs, primeiro, sob uma existência angustiada e perseguida em todos os níveis; e, depois, me jogou numa disponibilidade absoluta de tempo, visto que eu mesmo não tinha coragem, alma, vontade, ânimo, ou qualquer que fosse a motivação para fazer qualquer que fosse a coisa, a ação, o contato, ou a resposta… Então, de súbito, não podendo estar na Amazônia, me entreguei à natureza na Flórida, até me sentir com alma para voltar ao Brasil, e, não me afastar da praia, que era o único lugar onde eu parecia conseguir respirar. E como foi bom, bem devagar, ir voltando a me sentir normal, livre, com escolhas, com prazeres, com dias e noites meus, com risadas espontâneas, com papos escolhidos, e não apenas circunstancializados. Hoje, não tem retorno. Habituei-me por convicção a outro modo de vida. E também tenho consciência suficiente acerca do que Deus me pede, e do que é apenas apelo do homem. Fiquei muito feliz com seu cuidado e carinho por mim. Obrigado de coração. E fiquei feliz também em saber que você incita seus subordinados profissionais ao descanso. Que o Deus de Descanso abençoe você com Paz! Receba meu carinho e minha gratidão. Nele, em Quem aquele que encontrou a Graça descansa de suas próprias obras, assim como Deus descansou de Suas próprias no Dia do Descanso Eterno, que é a Cruz, Caio