EU QUERO SER NORMAL
A maioria das pessoas deseja ser normal. É obvio que por “normal” se deve entender a capacidade de existir sem caricaturas psicológicas ou comportamentais que sejam fruto da inexistência de auto-percepção.
Por outro lado, a busca da “normalidade” tem levado muitos há pólos extremos, e adoecedores.
Há aqueles que entendem ou sentem o “normal” como aquilo que seja “mediano”. Para esses o “normal”, muitas vezes, vira neurose na mesma medida em que se torne uma busca obsessiva por um padrão exterior; e que nem sempre é a continuidade natural do próprio indivíduo, sendo apenas uma horrorosa máscara de ferro “modelada pelo retrato falado pelos outros”, e que a pessoa coloca sobre face a fim de que sua cara real dê lugar à formatação que a mascara carrega como “selo de qualidade social da normalidade”.
No outro pólo há aqueles que odeiam “as máscaras de ferro das feições de normalidade”; e que, justamente por esta razão, põe sobre a cara uma outra máscara, e que é a antítese da “marcara feita de retratos falados de normalidade”; sendo, portanto, construída como dupla negação: da própria identidade individual, e também como negação do “modelo forjado” pelo parâmetro social. Assim, o indivíduo não é nem para si e nem para os outros.
A questão é: o que fazer a fim de encontrar a normalidade? Como se chega a tal “ponto”? Quais são as linhas de demarcação nesse chão se sutilezas?
Bem, se depender de mim, e com toda a simplificação possível, eu diria que o segredo é discernir o que é harmonicamente normal para você, não para ninguém mais; pois se a referencia da normalidade for buscada toda ela na norma exterior, passa-se a fabricar doentes em série.
Cada um tem sua própria normalidade!
Por outro lado, qualquer normalidade que não signifique individualidade capaz de interação humana e, portanto, social, não é normalidade.
Por isto, somente você poderá ser normal para você mesmo e para os outros.
Se você for normal apenas para você mesmo, desconsiderando totalmente a existência dos demais seres humanos, não haverá em você a saúde que advêm da interação social, por menor que ela seja.
Desse modo, a individualidade se torna individualismo; que é a existência do indivíduo pretensamente isolado dos demais.
A individualidade, contrariamente ao individualismo, mantém o indivíduo uno e singular; porém recebendo as contribuições da diversidade que salva o ser do individualismo.
Isto porque por mais que você seja você mesmo, esse “você mesmo” só será uma individualidade sadia se for capaz do “você também” em alguma medida relacional.
A saúde da existência pessoal acontece nessa permanente tensão entre o “você mesmo” e o “você também”. O objetivo, no entanto, é que a maturidade faça diminuir tal tensão no existir.
A normalidade individual cresce na medida em que essas duas categorias—“você mesmo” e “você também”—não se percebem mais em oposição uma a outra; porém em total continuidade e sincronicidade.
Ou seja: leva tempo para ser normal; e, ainda assim, saiba que você será apenas normal, nada além disso; o que a meu ver ainda não é grande coisa.
O final dessa jornada acontecerá quando o indivíduo tensionado entre ele mesmo e os outros, virá a ser absorvido na plenitude de seu ser em Cristo; onde todo aquele que é, é único; e, ao mesmo tempo, o é em absoluta harmonia com todos os demais diferentes.
Esta, porém, é a jornada da vida…
Caio