—– Original Message —–
From: EU SOU O NOIVO QUE TERMINOU…
To: <[email protected]>
Sent: Friday, August 31, 2007 10:24
Subject: É PRA ACABAR 30 DIAS ANTES? (Sou o rapaz)
Link anterior: É PRA ACABAR 30 DIAS ANTES?
Pastor, amado pastor…
Eu sou o rapaz que cancelou a cerimônia. Minha noiva foi simplista ao dizer o que ocorreu. Na verdade, ela não tem culpa nenhuma, o louco sou eu.
A culpa é minha, o surto é meu, a insegurança e o medo são única e exclusivamente meus.
Pastor, casei-me a primeira vez nos idos dos anos oitenta, com uma moça da igreja que, naquela época, como você bem sabe, os casais casavam-se muito rapidamente até em virtude da repressão sexual, repressão de toda e qualquer manifestação da insatisfação com aquele sistema religioso. Desta forma casei-me com uma mulher que nem sabia se gostava ou não.
Todos os meus amigos estavam se casando…
Desta forma, casei-me na inércia do povo da igreja. Na pressão de um “pastor” altamente depressivo e autoritário.
Na primeira semana descobri que tinha cometido um erro enorme. Éramos completamente diferentes. A única coisa que tínhamos em comum era a fé (hoje questiono se a forma era realmente idêntica). Fiquei 16 anos casado até encontrar a pessoa que amo, a pessoa mais importante da minha vida. Com minha ex-mulher tive filhos, deixei o “barco” correr e parafraseando um pagodeiro.. Deixei a vida me levar.
Quando conheci minha noiva, que agora deixou de ser, fiquei desnorteado porque não sabia o que era o amor de Cantares. Descobri com ela. Quando percebi que tal sentimento era como um dique de uma represa prestes a explodir pensei: Meu Deus! Vou me apaixonar por uma mulher loucamente e não sei o que fazer…
Assim, separei, enfrentamos barras enormes junto à família dela, junta a minha, junto aos meus filhos, aos colegas de trabalho, aos amigos que eram comuns, etc. e tal. Passamos momentos árduos na esperança de atingirmos e nosso momento supremo, ou seja: o casamento.
Creio que Deus traçou o nosso caminho com pedras pontiagudas.
Aí Pastor, depois de tudo acertado, a família dela me acolhendo, os amigos torcendo…
Há mais ou menos uns quatro meses angustiei-me. Uma tristeza daquelas que o coração chega quase a parar. Eu não sabia o que era e até agora não sei dizer exatamente o que me ocorreu. Sei que se instaurou um medo, um pânico, uma vontade de morrer enorme.
Ela, alegre, altiva, sorridente, feliz, cheia de planos…
Eu triste, cabisbaixo, desanimado, inseguro, morrendo de medo daquilo que eu mesmo não sei o que é.
Desta forma, cancelei a cerimônia. Eu mesmo. Mesmo tendo-a ferido de morte.
Você nem imagina o que ela está passando, nem de longe. Posso comparar uma espécie de morte
Pastor, sou um homem sozinho. Já não tenho minha mãe, mulher forte, mulher de pulso que, se estivesse viva, nada disto teria ocorrido, pois ela iria estar comigo até no altar. Não tenho mais meu pai, meus irmãos pouco falam comigo, meus filhos (mesmo que não gostassem da minha noiva) tomaram a dor dela com similaridade da dor da mãe e me chamam de louco, no trabalho, por todos os amigos a conhecerem (ela encanta a todos) não querem nem mais encontrar comigo.
Assim, estou como Davi no seu pior momento.
Nestes momentos o vencido se faz muito presente. Apareceram conjecturas que não são verdades, que não são as minhas verdades, que não aconteceu da forma com que todos estão comentando.
Aí minha loucura aumenta, aumenta muito. Eu mesmo fico me questionando… Aconteceu isto mesmo?
Só mais dois detalhes. Há anos atrás recebemos de uma profetiza profecias:
1) Que eu passaria o meu pior momento com ela (aconteceu em 2004);
2) …(também aconteceu em 2005);
3) Que ela ficaria magra, pesando perto dos sessenta e poucos quilos e que eu a carregaria no colo (aconteceu em 2006 e nunca imaginaríamos que poderia acontecer);
Pastor, como vê, as profecias estão concretizando quase que na totalidade.
Todas elas porque a pessoa que nos deu era, verdadeiramente, uma serva do Deus vivo.
Finalizando, ela não quer terminar, quer continuar, mesmo enfrentando o Tsunami que se abateu sobre as nossas vidas. Ela diz que me ama e que está comigo para o que der e vier.
Estou sem forças, medicado por um psiquiatra competente, tomando remédios mil. Perdi a vontade de viver, perdi o significado de tudo o que eu mais quis.
Perdi tudo.
Aí está Pastor a real versão, a meu lado “sujo” da página, da incompetência, da fraqueza.
Ore por mim.
_____________________________________________________________
Resposta:
Meu amado mano: Graça e Paz!
Primeiramente gostaria mesmo de poder concordar com você quanto ao fato de que eu não tenho idéia do que você e ou ela estão passando. Quem me dera meu pior dia tivesse sido ainda assim como esse…
Não! Eu sei…! E sei o que você graças a Deus não sabe e não saberá acerca da perversidade que acomete milhões em horas assim!
Sobre o que o ocorrido, eis o que penso com simplicidade e objetividade:
Na dúvida nunca se deve fazer nada, mesmo que a dúvida seja fruto de um trauma, de uma fobia, de pânico sem chão e sem causa no real-hoje.
Lendo o seu lado da história, continuo a dizer a ela o que disse; pois, se houve hiper-simplificação da parte dela, tal coisa revela a simplificação do significado profundo da conjugalidade para ela também.
Ou vocês nunca pensaram que um casamento que se tenta erguer sobre um outro que acabou em razão dele – já nasce sob grande stress e profundas chances de dar errado?
Ora, se de um lado você está traumatizado e com Síndrome do Pânico de Casamento; de outro lado, ela está vivendo a Síndrome de Cinderela, crente que as coisas da conjugalidade são resolvidas com a cerimônia de casamento — óbvio que esta minha afirmação é uma “simplificação”; mas na carta que a ela escrevi deixei claro o que penso que nela deve amadurecer acerca disso.
Assim, temos de um lado uma noiva neurótica e, de outro lado, um noivo paranóico.
A neurose da noiva é o casamento. A paranóia do noivo é casar-se. A neurose cria a obrigação do fazer. A paranóia gera o pavor de fazer errado e, por isso, a pessoa vê tudo conspirar contra as chances de dar certo.
Entretanto, isto ainda é uma hiper-simplificação!
De fato, há bem mais coisas pertencendo ao que aconteceu:
1. Você ficou traumatizado com a idéia de casamento. Talvez, olhando para trás, você mesmo identifique na base das crises que vocês já tiveram antes, essa insegurança presente em tudo; e, por vezes, talvez você mesmo tenha usado outros temas como álibis para criar as situações que inviabilizassem o casamento ainda que isso lhe fosse inconsciente.
2. Veja também que tanto o seu 1º casamento como este, foram ambos objeto de intensa participação “familiar e comunitária”. Ou seja: é gente demais no casamento de vocês.
3. Ora, casamentos assim, comunitários, são umas desgraças. Casamento já difícil sendo apenas feito de dois — imagine com essa “nuvem de testemunhas”?
4. Suspeito que seu pânico também tenha vários desdobramentos:
4.1. O casamento anterior e o trauma que deixou;
4.2. A culpa do casamento anterior; pois, segundo entendi você terminou o 1º casamento, deixando os filhos, para ficar com ela;
4.3. Assim, o “pão de Gideão” voltou sobre você como pânico e medo. Porém, ele decorre muito dos aspectos acima mencionados;
4.4. A leveza dela em relação a casar, em contraposição à sua angustia e paranóia acerca “do manter o casamento”, aflito pela possibilidade de ter que passar por tudo outra vez caso não desse certo — pode ter feito você pensar e sentir que esse casamento só estava sendo percebido nas implicações de gravidade do ato por você; e, assim, você pode ter tido a crise de pânico;
A tal da profecia [me perdoe dizer “a tal da profecia”] é perigosíssima numa hora como essa.
Explico:
1) Induz os acontecimentos; conforme você mesmo declarou: “Pastor, como vê, as profecias estão concretizando quase que na totalidade. Todas elas porque a pessoa que nos deu era, verdadeiramente, uma serva do Deus vivo”. Não ande sobre o chão das profecias. A seguir a lógica profética, volte para ela e consume o desejo da profetiza; pois, falta pouco…
2) Tira o discernimento do coração, pois, na mesma hora, faz a pessoa transferir o ocorrido para a conta de Deus [“Creio que Deus traçou o nosso caminho com pedras pontiagudas.”]; ao invés de fazer a pessoa olhar para dentro de si mesma e perguntar: “Existe em mim uma profecia de amor e de coragem em relação a esta mulher? Eu a amo mesmo? Ou mais uma vez estou sendo levado e conduzido?” Aliás, você disse outra coisa que muito me preocupou: “Já não tenho minha mãe, mulher forte, mulher de pulso que, se estivesse viva, nada disto teria ocorrido, pois ela iria estar comigo até no altar.” Ou seja: você até admite que o que lhe faltou foi alguém para dizer: “Você já chegou até aqui, então, meu filho, você irá até o fim”. Veja como o coração fica sem discernimento próprio e prefere se entregar aos cuidados e determinações de alguém — fosse sua mãe ou uma profecia.
Agora…
A referencia que você fez a ter conhecido com ela o amor de Catares; ou seja: feito de sentimentos belos e poéticos e de desejo ardente — também me deixou preocupado, não com o fato, mas com o que ele possa significar para você.
Sim! Porque caso você tenha tido nela a projeção de seus sonhos de homem em relação a ter uma mulher em plenitude [o que você ainda casado provou nela e com ela], a situação fica ainda mais complicada interiormente.
Veja:
Você casou a 1ª vez para poder transar e para poder ser normal conforme os “amigos, a mãe, a igreja, e todo o mundo”. Mas não havia amor, e, portanto, você se irrealizou
Brigas, desencontros, medos, culpas, auto-boicote, vicio em dor, medo de felicidade, etc. — passaram a habitar você.
Entretanto, pelo tempo, as coisas se acalmaram junto aos dela, e, assim, surgiu a chance do ilícito se tornar licito perante eles: o casamento.
A questão é que sua alma sempre duvidava se o que tinha unido vocês era o amor entre vocês ou a sua frustração como homem casado e sem amor no casamento anterior.
Ora, toda hora isto acontece; especialmente quando alguém termina um casamento, com filhos, e o faz pela paixão projetada sobre outra pessoa.
Desse modo, pelas circunstancias, a alma realmente não sabe se ama ou se amou para ficar livre do desamor no qual vivia. Em tais circunstancias a alma teme estar abraçando uma projeção, ainda que o dono dela, da alma, diga: “Até agora eu não sei o que é…”
Ora, por tudo isso, e mais um pouco, é que acho o seguinte:
1. Você não deve tomar nenhuma decisão unilateral; tipo: “Ela me quer, eu vou…” Não! Lembra da mamãe? “Se estivesse aqui me levaria até ao altar?” Pelo amor de Deus! Não se trate mais assim. Se você for, que seja porque você quer, e não porque ela topa apesar do Tsunami.
2. Você deve dar um tempo; se tratar; procurar um bom terapeuta; não ficar ouvindo os “amigos”, mas a sua alma, em verdade; e deixar que seu coração silencie. Pra quê pressa? Você está decidindo algo supostamente para a vida inteira. Então, calma!
3. Se você concluir que a ama [mesmo], case seja feliz [sem nunca esquecer seus filhos; pois, não há benção de Deus para pais desnaturados]. Mas se concluir que ela foi a “projeção” que resultou de sua infelicidade no 1º casamento, por mais que você goste dela, a ame de certo modo especial, sinta atração por ela, ou qualquer outra coisa, saiba: não é ainda suficiente para bancar uma relação sadia e durável.
4. Mas não tema chamar pelo nome os seus sentimentos e não tema viver com coragem baseado na verdade deles; pois, a vida é sua; e nenhum de seus amigos irá vivê-la por você.
Quanto aos “seus amigos”, fique por hora longe de todo mundo que deu mais valor à cerimônia não ocorrida do que aos sentimentos que levaram você a tal angustiada decisão.
“Amigos” assim são piores que a maldade numa hora dessas!
Por último, seja qual for o resultado, não participe nunca mais de nenhum casamento comunitário. Se você seguir com ela ou com quem quer que seja no futuro, que seja só você e “ela”; sem as ingerências desse bando de descomprometidos com a verdade, mas apenas com significados sociais.
Ninguém é obrigado a amar ninguém conjugalmente caso não ame!
Por outro lado, ninguém se torna virtuoso apenas por nos amar. Aliás, tem muita gente que casa apenas porque a grande virtude do outro é amar a gente de qualquer modo ou forma; o que faz de tal amor um amor a ser amado…; mas isso ainda é amor pelo amor recebido; é divida de gratidão que assola os fracos; é missão fraterna; é a paga do endividado!
Pense no que lhe falei e ore. Busque a verdade
Você disse: “Ela quer de qualquer modo!”
Pergunto: “Você quer de qualquer modo?”
Pense e responda em paz!
Para mim você continua a ser um rapaz bom procurando a verdade e desejoso de não errar. Ao mesmo tempo em que vejo que hoje [pelo menos hoje], você não está e não se sente apto a casar. Portanto, não se force; pois, não estamos falando em dar uma mão a uma tia querida que deseje botar um piano de cauda no 10º andar e precisa de uma força…
Entendeu?
Se entendeu… — então fique calmo!
Nele, que prefere qualquer verdade mais feia a qualquer coisa bela, porém feita em desfaçatez e engano,
Caio
1/09/07
Manaus
AM