EU TROCARIA O MEU JARDIM PELA LIXEIRA DA AMARGURA?



O dia está lindo. Aqui de onde estou, no jardim que me abriga, há pássaros de muitas variedades. Molho a grama enquanto atendo gente e respondo cartas. Chuvas de flores caem sobre minha cabeça quando o vento sopra. O laptop fica pintado de cores. Enquanto isto a passarada, literalmente, vai ficando amiga. Dia a dia aumenta o número de aves; todas lindas; todas com seus cantos; todas com sua “personalidade”; ou seja: natureza. Em Brasília está tudo seco; especialmente a grama, que está marrom. Mas o meu jardim está verde. É a água. Sim, ela faz toda a diferença. Sim, eu rego o jardim entre-cartas-e-textos! É daqui desse oásis que leio Cartas e Cartas; e vejo muitas coisas! Já vivi muitas vidas; por muitos anos; e, por isto, creio que também me sinto como quem faz as coisas apenas porque ama. Sim, não sinto pesos e nem obrigações; embora trabalhe muitas horas por dia. Mas é tudo tão leve, solto, limpo e alegre que, de fato, não posso nem dizer que trabalho. É um prazer fazer o que faço. Antes, quando meus direitos autorais me sustentavam, eu pagava para fazer as mesmas coisas. Hoje, não tendo meios, deixo tudo acontecer. E acontece. Aliás, é desse lugar calmo e tranqüilo que, sem fazer nada além de fazer tudo com amor, vejo Deus levar a Palavra aonde eu mesmo jamais imaginei! Não tenho planos. Não tenho estratégias. Não estou procurando nada. Mas as coisas procuram a gente quando em nós o reino tem seu trono de paz. Então, você age pelo não-agir; e todas as coisas são acrescentadas! Há coisas que sonho ver acontecerem. Mas não luto por elas com nenhum meio humano; ou com qualquer que seja a arma, além da Palavra. Na realidade, depois de muitos anos vivendo como se minha existência fosse importante para milhões, entendi que ela tinha que ser importante para mim também. Então, parei! E, sem sair do lugar, o que vejo é o caminho andar por si mesmo. E quanto menos tento qualquer coisa, mais as coisas se tornam; e quanto menos busco, mais tudo acontece; e quanto menos planejo, mais surpresas boas recebo; e quanto menos quero, mais me é dado. E tem gente que pensa que trocaria o meu jardim de silencio a paz pela loucura do mundo perturbado, angustiado, ansioso, invejoso, ignorante, insensível, falso, perverso, diabolicamente mundano na mentalidade — desses que são os que “Veja” diz que “viu”. Só um louco voltaria tanto atrás! Um, dia, entretanto, quem não viu, verá; e quem não creu, crerá! É só esperar! Do jardim e muito em paz, Caio