FICARAM ZANGADOS E VOCÊ NÃO SOUBE
Desde que fiquei adulto—e isso aconteceu quando eu ainda era bem jovem—que fui forçado a descobrir que há coisas que só fazem mal quando a gente fica sabendo.
Essas coisas pertencem ao reino do subjetivo.
Quando a casa cai na cabeça, você fica sabendo—pertence ao mundo objetivo!
Mas quando alguém vem e diz que o irmão fulano está com raiva de você há três anos porque você não deu retorno ao telefonema dele—às vezes você nem ficou sabendo, ou esqueceu mesmo, ou estava tão massacrado por coisas maiores que a mente nem conseguia ter aquela preocupação—, então sua tendência é se afligir na hora, especialmente se você gosta do irmão fulano.
Já sofri muito essas dores.
Passei boa parte da vida me sentindo endividado.
E quanto mais amam você, mais você sofre as conseqüências desse amor que deixa você sempre com dívidas a pagar.
É óbvio que sempre que ouço uma história dessas—e não foram e nem são poucos às vezes em que as ouço—, tento na hora desfazer esse equivoco.
Antes eu fazia com a culpa de quem devia.
Hoje faço com o carinho de quem não deseja que ninguém sofra pelo que você não fez e nem sofra aquilo que você nem ficou sabendo.
Coisas que têm valor catastrófico-em-si-mesmas a gente sabe na hora. Ou, pelo menos, logo depois. Essas afligem mesmo!
Coisas que deixaram você viver bem durante anos—sem culpa e sem divida—e que não alteraram o curso de sua ignorante existência, não devem roubar de nós a paz, apenas porque alguém decidiu, muitas vezes caprichosamente, que você não foi atencioso.
Durante o período em que a casa caía em minha cabeça—e nem eu e nem o mundo podiam negar ou desconhecer o que estava acontecendo—, tive o dissabor de ainda ter que ir explicar a alguns amigos que não pude dar atenção a eles porque nem a comida eu conseguia comer e nem o sono eu conseguia saber onde havia se escondido de mim.
De qualquer forma, aprendi uma lição:
Quando as pessoas julgam que você tem a solução para o problema delas, elas quase nunca conseguem enxergar que há dias que elas todas reunidas é que precisariam lembrar de você.
Se não o fizeram, não as culpo—cada um sabe de sua própria dor e a trata com a maturidade que possui!—, mas também não me deixo mais seqüestrar pelo mal estar de nenhuma delas, quando acusam-me desse tipo de desatenção.
Graças a Deus consegui reaver muitas dessas amizades.
Agora, todos bem mais maduros, é claro!
Caio Fábio