FOI PAULO QUEM INVENTOU JESUS E A RESSURREIÇÃO?



 

 

—-Original Message —–
From: FOI PAULO QUEM INVENTOU JESUS E A RESSURREIÇÃO?
To: [email protected]
Sent: Tuesday, March 28, 2006 7:56 AM
Subject: Paulo e o Mito da Ressurreição… Seria uma teologia Paulina??


Olá Caio…
 

É com alegria que eu te escrevo essa carta… Toda semana entro em seu site e leio suas posições, críticas, etc… muito interessante… Percebo que seu teor de repúdio à teologia é bastante forte assim como às instituições.


É duro observar que em alguns meios a teologia pela teologia gera seres teológicos que esvaziam o envangelho… pois a sistematização do evangelho reduz o evangelho…

Mas não seriam as sistematizações úteis para evitar os exageros?

Uma dúvida Caio: o fato de você ir contra a filosofia cristã que assume a forma de teologia, não iria contra o fato de Paulo ter criado uma doutrina também?

Ora…segundo alguns “cristãos” Paulo teria criado o mito da ressurreição; ou seja: uma forma filosófica de inserir e propagar o mito dos nazarenos entre os não judeus!?

Eram os feitos de Jesus um mito?

Será que o evangelho de Paulo é um evangelho-grego-teológico de Jesus?

O que é o evangelho de Paulo quando contraposto ao de Jesus?
 
 

Nele, que foi um simples “mito” para quem nunca desmitificou o orgulho da razão e nunca vislumbrou o Cristo Ressurreto Real e Verdadeiro na Vida!!!
 
Muitos abraços


Saulo

obs: Não querendo ser um copião …será que minha frase final ficou legal?? rsrsrsrsr….
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Resposta:


Meu amado amigo: Graça e Paz!


Saulo, amigo, que a Luz faça de você mais que um Paulo, em fé; e nunca um Saulo; pois Saulo significa pequeno; e, na fé, você pode ser maior sendo o menor de todos os que não param de crescer na fé. Paradoxo!


Infelizmente você apenas passa aqui pelo site uma vez na semana e ‘observa’. Digo isto porque se você estivesse aqui sempre, e não apenas observasse, mas lesse, veria que suas questões já estão todas elas respondidas aqui no site mesmo.

Assim, embora as suas questões estejam respondidas no bojo de muitas cartas e reflexões, tentarei, objetivamente, responder a você.

Primeiro, devo dizer que “esses alguns cristãos” que você mencionou são “saduceus-cristãos”; visto não crerem nem em espírito, nem em anjo e nem em ressurreição. Paulo diz: “Mas de fato Cristo ressuscitou dos mortos…”; e diz a quem Ele apareceu depois da ressurreição, chegando a ser visto por mais de quinhentos irmãos de um só vez. Só então, ao final de suas declarações, ele diz: “Depois de todos, também foi visto por mim; como um nascido fora de tempo”. Portanto, Paulo diz que os apóstolos dos evangelhos e outros discípulos, eram as testemunhas históricas da ressurreição, e que ele, Paulo, também tinha encontrado o Cristo Ressucitado e Glorificado na estrada para Damasco. Todavia, ele não evoca para si nada além de um “último lugar”, como quem tinha sido gerado em estado de sofrimento, tirado à força do ventre da incredulidade. Assim, se a Ressurreição fosse um mito, a criadora dele teria sido Maria Madalena, a primeira a Vê-Lo; e depois dela Pedro e os demais apóstolos, incluindo os quinhentos irmãos que o viram “de uma só vez”. Nesse caso, Paulo teria apenas sido o mais iludido de todos os homens, o mais pré-condicionado, o mais honestamente surtado, o mais impactado de todos os crédulos da Terra. Mas nada além disso. Afinal, o encontro de Paulo com Jesus, na estrada, aconteceu cercade dez anos após Jesus haver, históricamente, conforme o testemunho apóstolico, ressucitado de entre os mortos.

Além disso, o evangelho que teria tido a influência de Paulo seria apenas o de Lucas, o qual já foi escrito alguns anos após os textos de Marcos e Mateus. Portanto, a fonte histórica do evangelho de Lucas, também não têm relação com Paulo. Isto porque tem-se que dizer que Lucas, o discípulo de Paulo, produziu seu texto tendo os dois evangelhos anteriores como base, fazendo apenas acréscimos relacionados a alguns acontecimentos do nascimento de Jesus, e algumas poucas histórias e parábolas que somente em Lucas aparecem.

Assim, meu irmão, dizer que Paulo é o criador do “mito da ressurreição” é algo tão idiota quanto dizer que eu vi a Copa do Mundo de 58, com três anos de idade, e morando em Manaus.

Com relação à menção que você fez acerca das sistematizações teológicas ou de minhas criticas à telogia, vinculando-as à Paulo como tendo sido o primeiro sistematizador e o primeiro teológo da igreja; saiba: elas todas estão equivocadas desde as raízes.

Primeiro porque Paulo afirma que nada se pode saber de Deus pela filosofia ou pela teologia. Segundo porque ele diz que se Deus não der revelação e não iluminar os olhos do coração, ninguém discerne o Evangelho; pois ele é, em-si-mesmo, loucura para as lógicas filosóficas e para as sistematizações de dogmas religiosas dos monoteístas, os quais naqueles dias eram, como grupo, apenas os judeus. Terceiro porque foram justamente as hermenêuticas dos judeus e suas sistematizações acerca do Messias, o que os impediu de ver Deus em Cristo Jesus.

Além disso, deve-se dizer que tanto Jesus quanto os apóstolos e Paulo usaram as Escrituras de um modo não-grego de interpretação; e, portanto, sendo interpretações cuja lógica se baseia na não-lógica, pois decorre da fé. Portanto, o modo de Paulo interpretar era totalmente não-lógico, segundo os critérios da linearidade de pensamento estabelecida pelo mundo grego.

Por exemplo. Vejamos alguns casos relacionados a os apóstolos, a Jesus e a Paulo.  

A virgem de Isaías — e que “vira Maria” nos evangelhos —, do ponto vista da linearidade histórica e de acordo com as melhores exegeses e considerações do contexto histórico, não poderia ser “transferida” para Maria; pois o texto em Isaías vinculava de modo imediato aquela profecia a algo que deveria se cumprir naqueles dias como sinal; digo: nos dias do profeta, oitocentos anos antes do nascimento de Jesus.

Se olharmos para o modo como Jesus tratou as Escrituras também vemos uma total liberdade não linear, e, portanto, não-grega no olhar a sentido das coisas. Não esqueça que Jesus é aquele que diz que para se conhecer, antes tem-se que crer, conforme João 7: 14-17 — o que é algo totalmente não grego. E mais: não esqueça que Jesus não sistematizou nada: nem o pecado, nem a queda, nem a dor, nem o céu, nem o inferno, nem o evangelho, nem a escatologia, nem a eclesiologia, nem coisa alguma. Sim, Jesus se parece muito mais com o sábios do oriente em Seu modo de falar e ensinar do que com os escribas dos judeus ou com qualquer filósofo grego; e por uma só razão: Deus não explica Deus. Deus revela Deus. E isto é algo só discernível com o coração e não por nenhuma lógica humana, nem que seja teo-lógica.

No que diz respeito a Paulo, pode-se dizer o mesmo que se diz de Jesus no modo como o apóstolo olhou as Escrituras. Delas ela não faz “doutrina”, conforme os gregos e os romanos. Não! Ele apenas evoca o sentido espiritual da fé de Abraão, Davi e outros, a fim de mostrar que a promessa era sempre de que a justiça de Deus se manifestasse mediante a fé. Uma prova dessa liberdade de Paulo para trabalhar com significados conforme o espírito do Evangelho, e não com as ciências da interpretação, aparece de modo gritante em Gálatas, onde usa alegorias relacionadas a Sara, Hagar, Isaque, Ismael, o Monte Sinal, a Jerusalém terrena e a celestial, fazendo aplicações que, para os teólogos, seriam de natureza hermenêutica originiana, o que seria considerado heresia. E quando Paulo faz sua viagem mais ousada de pensamento, em Romanos de 9 a 11, sua conclusão é a de um ser auto-encurralado: “Ó profundidade…” — diz ele; para, então, concluir que ninguém pode sondar a mente do Senhor; e, assim, pondo um fim no Império da Razão que se mostra como poder da lógica humana.

Portanto, que doutrina é essa que, como tal, se suicída? E que teólogo é esse que constrói a própria descontrução de toda presunção da lógica e apenas apela para que os corações se abram pela fé a fim de poderem compreender em amor e fé aquilo que com a mente não pode entender?

Ora, até mesmo o modo como Paulo usa alguns texto do VT, como é o caso do Salmo 19, no contexto de Romanos 10, não pode ser acusado de ser linear conforme a apreciação do apóstolo. Isto porque o salmo fala da revelação que Deus faz de Si mesmo mediante a voz da natureza, da criação. Entretanto Paulo faz uso do texto para mostrar o fato de que o testemunho de Deus está presente em toda a terra, e também evoca tal testemunho como algo a ser unido ao ato dos discipulos pregarem a Palavra na terra. Assim, do ponto de vista grego dos teólogos cristão ter-se-ía que dizer que Paulo usou um texto fora do contexto; ou, então, ter-se-ía que dizer que para Paulo, tanto a pregação da criação como a pregação dos discípulos equivaliam como testemunho da Graça de Deus na terra. Assim, falta honestidade aos interpretes em todas essas coisas, e em muitas outras; pois, aceitam tal critério interpretativo em Paulo — essa teria sido uma liberdade não-linear a ele concedida; afinal, ele era Paulo! —, mas chamariam de heresia hermenêutica se eu, por exemplo, me der tal liberdade, mesmo que o sentido todo aponte na direção do “espírito do Evangelho”.

O que “eles” não discernem é que a Escritura é multimensional, além de histórica; e mais: não compreendem que Jesus não olhava para a letra da Escritura, mas para o espírito dela; daí dizer que Suas palavras eram espírito e vida; e não letra morta e fixa.

Ora, para não escrever mais, quero apenas dizer que para Jesus, os apóstolos e Paulo, o que importava não era a “ciência da interpretação”, fosse ela judaica, grega, romana, ou qualquer que fosse; pois, para eles, o que valia não era a letra, mas o espírito das coisas, se mantêm ou não coerência com o ensino de Jesus; o qual é o espírito do Evangelho.

“Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?” — questionou Jesus um teólogo judeu, Nicodemos, que não sabia pensar senão com categorias de lógica linear. 

Ora, sinceramente, eu poderia escrever um longo livro sobre esse tema, pois, o que não me falta é material.

O que passar disto, todavia, meu amigo, não pode se disfarçar sob o manto educado e intelectualizado do “mito” — eu não diria a mesma coisa de Gênesis de 1 a 3 —, mas precisa ser chamado pelo seu próprio nome, que é INCREDULIDADE!

E saiba: brincar com a ressurreição de Jesus como se fosse “mito”, fará de você um mito: um ser que não existe como fato; pois, para mim, se Cristo não ressucitou, saiba: eu nem mesmo acredito na sua (me refiro a você) existência, tamanha é minha visceralidade com a historicidade da ressurreição de Jesus como sendo superior até mesmo à minha fé na sua existência histórica; pois, se Jesus não ressucitou, eu mesmo não teria como reconhecer sua existência, visto que se o Existente não-é, os existidos não são.

Sobre sistematizações, nem falarei muito, mas apenas direi o seguinte:

O poder das sistematizações é como o da técnica de fabricação de Bonsais. Fica com carinha de mangueirinha, de pitanguinha, etc… — mas não dá fruto e ninguém jamais fica conhecendo a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e, menos ainda, o amor de Cristo, que excede a todo entendimento.

Afinal, que teologia ou filosofia trabalha sobre o pressuposto de que o que se busca “excede a todo entendimento”?

Quanto ao mais, venha todos os dias, e leia sem ser como observador; e então você verá que tudo está mais que claro, e que só não entende quem não crê; e, no caso, não significa não crer no que eu digo, mas no que o Evangelho ensina e afirma.

Desculpe a franqueza, mas que eu creio, por isso é que falo, conforme me ensinou Jesus e de acordo com a afirmação de Paulo!

 

Nele, que é quem é, e não “aquilo” que se deseja fazê-Lo ser para nós, a fim de agradar o paladar de nossa própria incredulidade,

 

Caio