FUI VIOLENTADA, E HOJE ME FAÇO MAL
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Subject: AUTO-BOICOTE
Mensagem:
Amado,
Tenho 20 anos e uma história comum às muitas descritas aqui na seção Cartas, as quais li muito antes de ter coragem de escrever.
Bem, faço parte da 4ª ou 5ª geração evangélica da minha família. Fui apresentada na igreja, e desde pequena venho aprendendo sobre a Palavra de Deus, e não tenho dúvidas de que seja a Verdade.
Mas vou começar a dizer o por quê venho a escrever, e vou resumir um pouquinho porque ainda dói falar nisso…..
Aos 6 ou 7 anos, fui molestada por um primo meu, que morava próximo à minha casa e era uns 11 anos mais velho que eu. Com 8 anos dei meu 1º beijo mesmo, com um amigo 4 anos mais velho; seus pais freqüentavam minha casa, eram muito amigos de meus pais, e também da igreja.
Um sobrinho da minha avó veio passar férias em nossa casa de praia e tocou minhas partes íntimas duas vezes.
Minha tia começou a namorar um rapaz e ele também me molestava.
Não contava nada à minha mãe, e ainda a culpava, pensando que tudo acontecia porque ela não me protegia, se preocupava mais com meus irmãos que comigo.
Aos 13 anos comecei a namorar um menino 1 ano mais velho, estudávamos na mesma escola, éramos da mesma classe. Namoramos 1 ano e pouco, e tivemos algumas relações sexuais no final do namoro.
Mudei de escola, e pouco depois já estava com outro namorado, e durante mais ou menos 1 ano tivemos relações sexuais constantemente.
Antes de terminar com ele comecei um relacionamento com um rapaz da igreja (mais novo que eu), e isso nos colocou em disciplina.
Aí o modo como eu namorava veio à tona. Eu sabia porque eu fazia aquilo tudo, mas não contava à ninguém. Eu massacrava os meninos por um tipo de vingança pelo que tinha acontecido comigo, mas ninguém sabia disso, eu não contava a origem do problema. Me fechava mais e mais, e sofria muito.
Saí da disciplina e eu e esse rapaz tivemos três relações sexuais, e ele contou à mãe dele porque eu não quis mais nada com ele.
Em 2002 eu entrei em disciplina, desta vez por 1 ano.
Foi um escândalo na igreja…. toda e qualquer programação eu estava presente. Eu era imensamente humilhada, minha mãe, meu pai e irmãos, e minha família toda não conseguiam mais ir à igreja por minha causa. Éramos desprezados, humilhados, arrasados…. e eu provoquei tudo isso….. eu era acompanhada por uma amiga de minha mãe, que se tornou como uma segunda mãe pra mim. Ela e seu marido ficaram ao nosso lado, nos apoiando, orando conosco.
Meus irmãos tinham vergonha de fazer qualquer coisa comigo.
Minha disciplina durou 7 meses; meu pastor é um homem de Deus realmente; e ele viu meu comportamento e tudo o mais que estabeleceram para mim durante este tempo; e viu o quanto eu cresci diante de Deus e dos homens. Ele orou muito, e relutou com Deus, mas no fim disse que eu já havia cumprido minha disciplina e me deixou voltar pro meu ministério na igreja.
Foi maravilhoso para mim!!!
Ano passado comecei a namorar um seminarista. Depois de orarmos durante um tempo—ele já sabia do que tinha acontecido comigo na igreja, mas segundo ele conta – “me amou desde o primeiro instante que me viu”—, começamos a namorar para casar, se fosse da vontade de Deus.
Ele é o primeiro com quem eu me importo, a quem eu amo realmente, sem medo. Foi com ele que consegui me abrir e contar toda a história, desde pequena. Daí ele contou à minha líder, e ela junto dele me encorajaram a contar à minha mãe.
Passei anos pensando que minha mãe não se importava comigo, que não gostava de mim, e hoje entendo que isso era uma grande mentira de satanás. Tento recuperar o tempo perdido com minha família, hoje já estou noiva pra casar logo, já oraram por mim para que tudo isso fosse curado, mas ainda hoje quando me lembro de tudo sinto um dor muito grande, não consigo me livrar disso.
Por quê?
Sou líder na igreja, ensino e participo do louvor, sou vista com um enorme potencial de fazer qualquer coisa na igreja. Deus restituiu tudo o que o inimigo me roubou. Tem me dado um homem que será um marido segundo o Seu coração, um pastor com uma palavra abençoada.
Tudo o que aconteceu na igreja o pessoal já esqueceu, e hoje sou exemplo para tantos. Vivo sorrindo, sou sincera com meus sentimentos.
Mas ninguém sabe o que eu passei mesmo, e a dor que eu ainda sinto.
Preciso de ajuda. Não tenho coragem de falar com ninguém o que às vezes me ocorre. É uma angústia, uma tristeza, e aí começo a atacar minha mãe, pai, irmãos, e até meu noivo com palavras, grosserias… e eles não sabem o motivo, porque pensam que tudo já passou.
Me caso ano que vem, e não quero começar uma família sentindo ainda isto. Preciso de cura. Peço ao Pai a misericórdia a cada dia, e sei que Ele tem me escutado, por isso tenho esperado com paciência. Sei que o amado reverendo tem sido usado por Deus para digitar cada letra, e peço ao meu Paizinho que o use para me dar uma palavra.
Em nome de Jesus, com amor;
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Resposta:
Minha amada amiga: Paz e Cura para as suas memórias!
Se entendi direito você ainda sente raiva do que lhe aconteceu na infância.
Sinceramente eu acho que é mais do que isto.
Creio que isto mais tudo o mais.
Trata-se de um pacote só. O que houve na infância e o que houve na adolescência fazem parte do mesmo pacote.
Acho que sua revolta vem das seguintes fontes:
1. Dos traumas sexuais da infância. Covardia o que fizeram com você.
2. Dos espasmos sexuais da adolescência. Desperdício é o sentimento de ter si dado a uns bobos em razão das pulsões da infância!
3. Do peso que você dá ao sexo, justamente por já ter sido tão punida—psicológica, moral e eclesiasticamente—por suas experiências sexuais.
Sexo é coisa séria. Não deve ser praticado apenas por se praticar. Mas sua história, levando-se em consideração seus traumas, é ainda um mar de rosas. Você talvez não tenha percebido como as coisas poderiam ter sido muito piores!
Talvez hoje, pelo fato de ter encontrado o homem e o amor, você esteja sentindo outro tipo de raiva: a de não estar inaugurando tudo com ele!
Mas minha querida, foi como foi. Infelizmente!
Nenhum de nós tem as coisas conforme gostaria que elas tivessem sido.
Felizes os que aprendem a aceitar o que não podem mudar. E o passado é uma dessas coisas que não podem ser mudadas.
Paulo diz que nem morte nem vida, nem altura nem profundidade, nem coisas do presente nem do porvir e nem mesmo qualquer outra criatura poderá nos separar do mor de Deus!
Mas não menciona as coisas do passado!
E por quê?
É porque é nas obras mortas—portanto, no passado—onde vive o “espírito da separação” do amor de Deus!
As culpas, as fobias, os traumas e as autopunições alimentam-se do passado!
O Hoje é! tem que ser vivido! É inapropriável como tempo. Quando chega, já não é!
E o futuro, na linearidade de Cronos existe como o que será, mas também ainda não é!
De outro lado o futuro já é! pois para Deus tudo é, assim como todos vivem!
Eu Sou—é o Seu Nome!
O problema é que mesmo quando Deus diz que o passado está perdoado, ainda assim, a maioria não se perdoa por ter vivido, ter errado, ter se enganado!
E por quê?
É que a maioria gostaria de ter vivido, acertado sempre e tido bom êxito em tudo!
Alguma coisa errada com isso?
Sim e não!
Não, porque ninguém tem que buscar o mal. Nossa consciência se alimenta da busca do que é bom!
Sim, porque na maioria das vezes a gente só se arrepende do mal porque ele esvaziou o nosso arquivo de créditos para barganha com Deus e com os homens!
E mais: negar a possibilidade mais que presente do engano em nós é irrealidade com nossa própria condição de seres caídos. Quem não é honesto com a Queda jamais será totalmente aberto para a significação da Graça!
É no e do passado que o diabo vive!
O diabo é, entre as criaturas, mais uma das que não tem poder para nos separar do amor de Deus. Mas nós somos as criaturas que podemos não crer não inseparabilidade desse amor, especialmente em razão do passado!
As obras mortas são as que mais matam!
O salmo 139 também nos diz que as distâncias, a solidão, o abismo e até os céus não podem nos afastar do amor de Deus. Mas outra vez o passado não é incluído!
A razão é a mesma: o passado não pode nos separar do amor de Deus, mas pode nos separar da experiência do amor de Deus!
O amor de Deus só é inaproveitado como graça em razão das culpas e justiças próprias que viraram neurose, fobia, trauma e legalismo paralisante e auto-punitivo!—e que procedam do passado!
Por isto é que Hoje é o Dia!
Não brinque de esconde-esconde com o passado!
É dele que procedem os demônios que nos atormentam hoje!
Assim, uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para as que adiante de mim estão!
A nova criatura não tem passado! As coisas antigas já passaram, mesmo as velharias do dia de ontem, 24 horas antes de eu haver escrito esse texto!
Quer dizer que o que vivi não foi vivido?
Não! Quer dizer que já foi…
“Fui”—é a gíria da moçada!
E se eu não fui, não sou!
Não saber e não querer dizer “já era” é o que impede a positividade do “ já não era e Deus o tomou para si”.
Agora, depois de ter lido tudo que está acima, gostaria que você meditasse em tudo.
E mais: gostaria que você parasse de boicotar sua própria felicidade.
É incrível, mas nós, os humanos, sofremos de uma dose horrível de sentimento auto-destrutivo inconsciente.
Fico estarrecido com a constatação de que sempre que algo começa ficar muito bom a gente dá um jeito de não deixar.
Não se moleste e nem e abuse!
Hoje, o grande perigo é que a mulher que você é se vingue da “menina” que você foi, e não se permita gozar o bem.
Nele, que nos chama à Vida,
Caio