FUNDAMENTELISMO E MORALISMO: Você já bebeu dessa água?

—– Original Message —– From: “pc.figueiredo” > To: [email protected] Sent: Thursday, December 23, 2004 5:19 PM Subject: Fundamentalismo ou Moralismo. Você já bebeu dessa água? Olá Reverendo! Deixe-me registrar meus parabéns ao site que esta bem interessante. Espero, que você possa responder minhas questões, e que esse diálogo sirva de alguma orientação para os leitores, e para mim também. Talvez eu esteja sendo infeliz no meu comentário, e espero que o Sr. entenda esse questionamento não sob tom de crítica, mas apenas de dúvida. Percebo hoje uma mudança em seu estilo; talvez seja mais na forma que no conteúdo; mas o fato é que até no jeito de escrever mudou alguma coisa em seu estilo. Não sei, mas parece-me que havia um “q” de fundamentalismo (ou moralismo) antes, e que hoje não está presente em seus textos. Isso ocorreu mesmo? Faço essa pergunta por que pela minha percepção esses elementos (fundamentalismo e moralismo) ainda são elementos que regam grande parte dos púlpitos brasileiros. Como o sr trabalha essas questões? Um big hug de um irmão que te admira muito! Paulo Cesar _____________________________________________________________________________ Resposta: Meu amigo Paulo Cesar: Graça e Paz! Eu nunca fui legalista na vida. Nem na infância da fé. Eu tive sim — meu livreto “Abrindo o Jogo Sobre o Namoro”, escrito quando eu tinha 21 anos — um forte trauma sexual, com a súbita suspensão de toda atividade sexual que minha conversão então provocou; e, como antes disso, desde a infância, eu jamais deixara de ter atividade sexual contínua, o efeito em mim provocado pela decisão celibatária até o casamento, produziu uma reação psicológica muito forte, e que, infelizmente, se transformou num livro sexualmente repressivo e desequilibrado, e com pobre interpretação da Bíblia. Ora, o modo como enxergo os conteúdos daquele livro não são fruto de uma reflexão recente; ao contrário: pouco tempo depois, ainda em Manaus, vi, na prática e na vida, que meus conselhos naquele livro eram psicologicamente adoecedores, e, pior: poderiam conduzir as pessoas à muita culpa em razão das inevitáveis transgressões àqueles princípios apresentados no livro, e que, logo vi, nem eram bíblicos, nem humanamente sadios, e nem realistas. Quanto a todas as demais áreas de minha percepção da Graça de Deus na vida humana, desde há muito que vejo a vida como vejo hoje. Na realidade, o que se tornou diferente é o fato de que hoje eu não sinto mais que devo esconder de ninguém tudo o que penso, pois, estou livre dos antigos temores de ser julgado e mal interpretado. Apenas isto mudou! Quanto aos conteúdos de meus textos públicos, quem antes se aconselhou comigo em privado, sabe que em nada meus conselhos mudaram nas últimas duas décadas. O que acontece é que, como estou vivo, e, pela Graça, bem vivo, não paro de crescer. O crescimento, todavia, acontece sobre o Fundamento Eterno, e que foi em mim implantado no ato da fecundação da “divina semente”. Por exemplo, quem hoje lê alguma coisa que eu escreva sobre a Ordem de Melquizedeque, deve saber, que esse foi o espírito de minha tese de ordenação, na década de 70, lá no Amazonas. Portanto, até naquilo que hoje alguns acham que é “novo”, para mim, é convicção do berço da fé; e tudo o que fiz e disse na vida sempre esteve carregado dessa certeza de que há um sacerdócio universal de Cristo sobre todos os homens—independentemente da presença da igreja e seus agentes—, e que Ele tem a liberdade de se revelar a quem bem quiser, e como bem desejar. Até 1980 eu ainda confundia um pouco moral com ética. Mas quando tais diferenciações se clarificaram em mim ainda naquele ano, especialmente relendo Kierkgaard, a moral passou a ser apenas uma convenção de uma geração, uma moda comportamental. A ética, porém, é perene; posto que a ética é o que é; é a coisa em si; é o ethos, é o chão da vida; é o telhado na cabeça de todo homem. Logo, logo aprendi que muitas vezes a fim de ser ético eu tinha que lutar contra a moral. Logo vi que Moral e Justiça se desconhecem. No entanto, devo admitir que conquanto eu sempre tenha tratado as pessoas com graça e misericórdia, ter me tornado objeto de juízos fulminantes, de intrigas, de invejas, de difamações, de heregificações, de mentiras; e, assistir as súbitas transformações de “amigos” em “alegres observadores”, ou em “hostis algozes”, ou em “filhos que se envergonhavam do pai”, ou em “implacáveis satanazes”, mudou muito mais minha visão do significado do preconceito, do sofrimento, do desprezo, do desconhecimento, das amnésias auto-induzidas, e da multiplicidade das mascaras humanas. E, como resultado disso, minha solidariedade para com todos os que sofrem opressões, e, especialmente os que sofrem as opressões da religião, aumentou imensamente. Antes eu era misericordioso “imaginando” como as pessoas se sentiam. Hoje eu sei como elas se sentem. E sei em medidas até muito, muito maiores… Tudo o que existe neste site é o que eu sempre acreditei no meu coração a vida toda. E muita gente pode testemunhar isso. O que mudou foi a franqueza no dizer, e a total liberdade para o fazer. Receba meu carinho! Nele, a Quem amo a cada dia mais, Caio