GENTE 126
Quando o Senhor restaurou a nossa sorte,
e fez voltar os exilados de Sião das terras de Babilônia,
parecíamos sonhar:
Nossa boca se encheu de riso
e nossa língua, de canções.
Até entre os povos se comentava:
“Deus fez grandes coisas por eles!”.
Sim, o Senhor fez grandes coisas por nós,
por isso estamos alegres.
Ah! Senhor, muda também agora a nossa sorte
como os córregos do deserto do Neguebe,
despertados pela chuva repentina!
Pois quem semeia com lágrimas,
colhe com gritos de alegria.
Quem vai, vai chorando,
a semear sua semente.
Ao voltar, voltará cantando,
a carregar o seu trigo.
Salmo 126
Às vezes somos levados de roldão pelos eventos da vida e tudo que era deixa de ser…
Então acordamos em outro mundo.
Um mundo não nosso, diferente, algo como um exílio de nossa própria vida.
Tempo, vento, espera, lágrimas, incapacidade de cantar canções de Deus em terra estranha…
Aí, do nada, tudo muda…
Nossa sorte é restaurada.
Nós ficamos nos beliscando, como quem sonha acordado…
Então a nossa boca se enche de riso e nossa língua fica só sabendo falar a linguagem do jubilo.
Então… — os que nos julgavam mortos, dizem: Eis que vivos estão!
Então… — nós mesmos dizemos: Sim! Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos muito alegres!
Entretanto, passado o impacto da alegria, todo tempo de exílio demanda a realidade que viaja da alegria interior para as ações exteriores.
O coração está restaurado na esperança, mas o mundo que era nosso ainda está como o deixamos: caído e amontoado com seus próprios escombros.
Assim, logo o gozo da libertação dá lugar aos árduos trabalhos de reconstrução!
Nesse ponto a alma precisa de referencia de dois tipos de milagres: o súbito e o gradual…
“Restaura Senhor a nossa sorte como as torrentes do Neguebe” — é o que expressa a esperança do milagre súbito.
O Neguebe é deserto do sul de Israel, o qual, uma vez ao ano, quando caem as chuvas invernais, da noite para o dia se abre em flores, e, de súbito, vira um jardim; pois, bilhões de sementinhas mortas e secas se abrem ante o derramar da água da vida.
Dorme deserto e amanhece jardim!
“Os que com lágrimas semeiam com jubilo ceifarão. Quem sai andando e chorando enquanto semeia voltará com júbilo trazendo os seus feixes” — conclui o coração maduro; o qual tem esperança pelo Súbito, mas sabe que a vida acontece um passo depois do outros, e que enquanto não chove, o que se tem a fazer é irrigação lágrima a lágrima; pois, lágrimas de esperança caindo sobre sementes secas, fazem florescer qualquer deserto.
Assim, no tempo da restauração o coração tem que caminhar com a esperança do súbito e com a perseverança do gradual.
Os céus podem se abrir e chover; e, de repente, tudo pode mudar!
Enquanto isto, entretanto, a vida vai sendo vivida; e lágrimas de perseverança vão irrigando os caminhos nos quais em fé deixamos nossas sementes velhas e plantamos as novas.
Quem tem tal atitude não fica paralisado com o sonho da restauração.
Há muitos que ficam apenas como quem sonha e nunca olham para o chão queimado pelas tragédias, e, a seguir, dispõe-se a mudar do lado de fora aquilo que do lado de dentro já se fez novo em nós.
Só que o sonho que se faz real como possibilidade e que não se torna real como realidade, acaba por fazer do libertado um ser passivo e acomodado; e, para tal pessoa, o que restará será sempre uma saudade que nunca se fez vida nova para a pessoa; ou então, tal pessoa vive da sorte, esperando chuvas, enquanto não anda no caminho das lágrimas de vida.
Eles estavam em cativeiro, receberam a ordem de libertação, porém, muitos continuaram
Não foram e não são muitos os que, tendo conhecido a libertação, saíram do cativeiro; e buscaram o chão das perdas; e alegraram-se pelo acontecido como Graça; mas que não temeram olhar para os escombros e reiniciar tudo outra vez.
Assim, passado o tempo do sonho acordado, acordaram-se para a realidade; e, assim, olharem para o deserto e disseram:
Que venha o milagre do Neguebe.
Abram-se as sementes mortas ante a água da vida que cai do céu.
O deserto se torne em jardim.
Andaremos sobre os caminhos antigos e novos.
Caminharemos e choraremos…
Difícil é reconstrução.
Cada lágrima será uma irrigação.
Até o dia em que chova de cima.
Até a hora da vida.
Vida que vem pela umidade da humildade.
Tudo plantaremos com os humos do humor da esperança.
Brotem assim as sementes que já nem sabíamos que viva estavam.
Ora, este é o tipo de gente Salmo 126.
Essa gente 126 é assim: sonham, abrem os olhos, constatam que o sonho se tornou possibilidade, aproveitam a oportunidade, saem de onde estavam cativos, procuram o chão das reconstruções, esperam milagres de cima e andam em estado de milagre-esperança na vereda das semeaduras, as quais, em pouco tempo, serão os caminhos das colheitas e das alegrias que já não são sonhos.
Nele, que tanto chove sobre nós, como faz em nós chover a esperança que sai andando e chorando enquanto semeia, até à volta com imensos feixes de produtos consumados da fé que se fez vida em nós,
Caio
06/09/07
Manaus
AM