Em 1971 papai estava, com as próprias mãos, construindo uma casinha para nós lá em Manaus. Ele havia deixado tudo para trás a fim de servir à causa do Evangelho. Fechou o escritório de advocacia, abriu mão de ganhos advocatícios e passou causas ganhas e lucrativas aos amigos de profissão. Não havia dinheiro algum. Seu salário pastoral eram dois salários mínimos. Comemos ovo com arroz e arroz com ovo alguns anos. Mamãe pedia milagres todos os dias.
Os milagres aconteceram aos borbotões!
Depois de muito sacrifício papai conseguiu reunir um dinheirinho para a laje da casa. Pediu ajuda a umas poucas pessoas e foi “bater a laje”. Eu fui junto como adolescente rebeldemente incluído em programa de índio.
Ao meio dia fomos almoçar em casa—uma casinha cedida pela família Reis!
Ovo com arroz e arroz com ovo—mais uma vez!
De súbito, trovões, relâmpagos e chuva diluviana.
—Minha velha, perdemos a laje!
Ficou pensativo. Depois orou.
“Senhor, eu sei como essa chuva é boa para tanta gente. Se o Senhor quiser pode fazer o bem a todos e me poupar dessa perda. Faça-se a Tua Vontade!”
E voltou para ver a tragédia. A cidade estava toda molhada. Chuva no Amazonas é dilúvio no resto do mundo.
Chegou à esquina das ruas Urucará com Tefé. A casa estava na esquina.
Chovera em todo lugar, menos naquele quadrante das duas ruas. Aliás, mais precisamente, não chovera apenas em nossa esquina da cidade.
Papai chorou de gratidão.
Sabia que Seu Deus é Pai.
Nós aprendemos com ele também!
Caio
Copacabana
2003