GRAÇAS A DEUS EU SOU RELATIVO: é a minha salvação!



Assim que Maria Madalena viu Jesus no jardim da tumba, na manhã da ressurreição, quis tocar Nele, mas não obteve consentimento. “Não me toques”, disse Ele. No entanto, quando Tomé disse que só creria se Nele viesse a tocar, Jesus apareceu a ele, e disse: “Põe aqui a tua mão” — indicando ao discípulo as Suas mãos e o Seu lado marcados pelos ferimentos da Cruz. Aos demais, estupefatos ante a visão de Jesus ressuscitado, Ele também lhes diz: “Vede que um espírito não tem carne…, como vedes que eu tenho”. Desse modo, a questão não era tocar ou não Nele, mas sim o significado desse tocar. Por que Maria Madalena não poderia tocá-Lo, embora Tomé pudesse? Só Jesus sabe. Mas o que ouso especular é que cada ser humano tem um trato pessoal de Deus. Maria não poderia porque, provavelmente, a motivação do toque, ou porque o significado do toque, não fossem nela maduros. Para ela, certamente o tocar não faria bem. Tomé, entretanto, precisava pegar, e, apesar de repreendido, tocou o que já não precisava tocar. O carinha do “ Código da Vince” diria que Madalena não deveria tocar porque sentiria emoções inadequadas… É que a cabeça deles só pensa naquilo… O que penso de tal particularidade em ambos os casos? O de Madalena e o de Tomé? Sim, o que eles significam? Madalena tinha que fazer uma passagem dimensional… A mulher que ajudava a cuidar Dele e que fora ao tumulo para perfumar Seu corpo, agora teria que aprender a amar e servir sem ver e sem tocar. Já Tomé era honestamente um homem que queria crer, mas não queria ser enganado. Assim, embora advertido de que o resto da vida ele teria que crer no que já não mais veria, mesmo assim é dada a ele a chance do toque. Dessa forma a gente vê como Jesus trata cada um de nós de modo absolutamente particular, a fim de gerar individuação e saúde Nele. E para ser assim, tão relacional e pessoal, tem de ser algo chamado de relativo; posto que relativo é aquilo que não é, em si mesmo, tudo; ou seja: nada além de si mesmo. Ora, isto nos faz ver que o que é bom para uns, não é bom para outros. Isto porque o homem não é absoluto. Se fosse, o que servisse para um, serviria para todos. Deus é o único absoluto e nada mais. Por isso apenas Dele é a liberdade de lidar com todas as formas de relatividade… Sim, com aquilo que nem relatividade é, pois é apenas finito, e, portanto, impossível de não ser relativo. Deus é absoluto. Porém a individualidade humana é absolutamente relativa a cada um. Daí Madalena não poder tocar em Jesus e Tomé ser chamado a fazê-lo. Não pensar assim é absolutizar algo que não é Deus…, seja o homem, seja a Bíblia, seja a Igreja… ou qualquer coisa… Pois Deus sendo Deus e vivo, somente Ele lida com indivíduos conforme Sua absoluta liberdade, a qual, em sendo Absoluta, pode ter seu aplicativo a todas as formas de existência, visto que fora de Deus, tudo é relativo. O absoluto é Ele. O relativo sou eu. Tudo o que diz respeito ao homem é relativo. Até o modo como Deus fala e trata cada um, que é conforme o bem que o ser de cada um necessita. E é nessa relatividade que subsiste a nossa salvação, pois, se tivéssemos a chance de penetrar o absoluto, seríamos irredimíveis. Somente o que é relativo tem salvação. Por esta razão é que o caminho autônomo para a Árvore da Vida nos foi vetado. Sim, para que não nos tornássemos absolutamente irredimíveis. Mas graças a Deus que o que não é bom para Madalena é bom para Tomé. Afinal, sendo eu relativo e Deus absoluto, é assim que nós somos, e é assim que Ele é. Ou seja: Só pode haver relação entre Deus e o homem, se pudermos crer na Absoluta liberdade de Deus, de tratar com relatividade da individualidade humana, conforme Ele decidir que seja o bom e o bem Dele para cada um de nós. Olho para Deus e vejo o absoluto para mim. Mas como sou relativo, e como Deus é o único absoluto, então não tenho a permissão de fazer do absoluto de Deus para mim, absoluto Dele para mais ninguém. Do contrário, já não é Deus quem é absoluto, mas sim minha visão do modo como vejo o absoluto de Deus para mim; desse modo, tornando-me eu mesmo, ainda que lutando contra toda relatividade teológica, um ser absoluto; razão porque vejo, nos outros, relatividade; embora, muitas vezes, não a enxergue em mim mesmo. Madalena é Madalena e Tomé é Tomé. E Deus é Quem É! E daí? Afinal, é assim que É. Aqui acaba a teologia e começa a relação do individuo (finito e relativo) com o Deus que É. Pense nisto! Caio