—–Original Message—–
From: GRAVEI UM VÍDEO PELADA!
Sent: terça-feira, 10 de agosto de 2004 09:13
To: [email protected]
Subject: É POSSÍVEL DAR EXEMPLO SENDO TÃO HUMANA?
Mensagem:
Bom dia, meu amigo Caio!
Eu me dou a liberdade de chamá-lo assim, visto que faz parte do meu dia-a-dia mesmo sem saber, quando me sinto maravilhada em ler coisas sobre a Graça que nunca pude imaginar! Sei que tem também muitas cartas de gente mais aflita, mas ficaria muito feliz com a sua resposta!
Sou uma moça nova, tenho 24 anos, me converti há 5 anos e sou a única pessoa em minha casa que freqüenta a igreja.
Sempre fiquei preocupada em ser exemplo para minha família, visto que sempre foram muito hostis com minhas opções, além do fato de ter aprendido que o exemplo, muitas vezes, tem mais poder para ganhar vidas do que a própria palavra.
Acontece que de vez em quando eu sinto que derrapo no que aprendi que devo ser, e isso me aflige bastante!
Eu por exemplo, tenho um namorado-rolo que mora em outra cidade e nós compramos webcams para a gente ficar se vendo e diminuir a distância… Acontece que eu descobri que podia gravar um filme nela e gravei um striptease (sem mostrar o rosto) para mandar de surpresa para ele. Ele, obviamente, gostou muito! Acontece que, sem querer, o pessoal da minha casa viu o arquivo e aproveitou para questionar tudo aquilo que eu demonstro ser, me chamando de hipócrita (imagina se meu pastor soubesse disso – disse minha irmã)…
Fiquei me perguntando se tinha feito algo absurdo, visto que vivemos sob o prisma da repressão, ou que talvez Deus tivesse usado a situação para me mostrar que não gostou, essas coisas que a gente se pergunta! Sei que não é nada sério, nada que alguns dias meio envergonhada não sare, mas isso abriu caminho para que eu questionasse algumas coisas:
Como podemos ser exemplo, e se realmente devemos ser exemplo, sendo tão humanos?
Acho que muitos devem se perguntar isso…
Comparativamente, é como se na igreja eu fosse repreendida porque sorri ou ri um pouco mais, e em casa me sentisse repreendida porque ensino que não se deve gargalhar, mas me pego rindo escondida, caso o riso um pecado fosse!
Um grande abraço e muita paz na sua caminhada,
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Resposta:
Querida amiga no Caminho: Graça e paz!
Exemplo é fazer com que algo que antes era abstrato —plano apenas— se torne algo concreto. Exemplo é tirar algo do “plano das idéias” e trazer para a luz da realidade. Ou seja: exemplo é o que aparece, mas só é benéfico se corresponder ao interior que o expressa.
Bom exemplo não é bom comportamento, visto que é mau exemplo construir um comportamento que seja apenas para “consumo”, como é o caso do tal do “bom testemunho” dos crentes, que quase sempre é apenas a performance proselitista, e que é praticada com o fim de enganar os outros, para que pensem que nós somos melhores do que eles por sermos crentes.
Ora, essa fixação no exemplo e no bom testemunho já é a própria denúncia de que tais realidades não procedem da verdade de quem somos, mas têm apenas a ver com um “esforço de venda” de nós mesmos como sendo superiores aos demais, em razão de sermos cristãos.
O que eu observo acerca disso é o seguinte:
1. O grande exemplo que temos para dar é sempre a verdade de quem somos, não as performances “santificadas” de quem nós não somos.
2. O único impacto que sua vida terá na sua casa será aquele que for coerente com a verdade de seu coração. Portanto, não invente para a sua a família um ser que você não é. É essa tentativa de vender o evangelho através de um testemunho falsificado nas suas exterioridades o que mais “escandaliza os de fora”.
Com relação ao que você fez, sem que nisto haja qualquer julgamento de natureza moral, mas apenas uma palavra de bom-senso, lhe digo o seguinte:
1. Você disse que é um “namoro-rolo”. Portanto, fazer um show desse para o “rolo” me parece completamente desproporcional. Essa poderia ser uma liberdade sua para com o seu marido, o seu homem de verdade, não para com o seu “rolo”. Portanto, mesmo que lhe seja apenas uma vergonha que dá e passa, digo-lhe que o que me preocupou foi a desproporção do ato.
2. Quando você tiver seu marido ou parceiro sério, então ninguém tem nada a ver com o modo como vocês possam desejar brincar. No entanto, se preserve. Não ande por aí lançando “pérolas aos porcos”. Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm. E, certamente, o que você fez não foi nem um pouco conveniente. Daqui há uns poucos anos você desejará, de todo o coração, que esse carinha jamais tivesse essa imagem sua no HD do computador dele, e muito menos gostará de saber disso aquele que porventura venha a ser o seu companheiro. Portanto, não só nunca mais faça nada assim com ninguém que não seja o seu companheiro, como também não conte para ninguém que isso um dia aconteceu, pois, no caso de seu futuro marido, lhe digo: ele preferirá não ficar sabendo!
Por último, quero dizer o seguinte:
Você, mesmo tendo feito o que não deveria, deve saber que só foi questionada em razão de que a sua “imagem” não tem correspondência com a sua realidade, conforme percebida pela sua família. Caso você mesma não vivesse proibindo a gargalhada —enquanto você mesma ri escondido—, ninguém estaria lhe dizendo nada que não fosse “isto não é conveniente” em vez de lhe dizerem “isto é hipocrisia”.
Crente precisa saber que sempre será julgado com o padrão com o qual julga. E sempre será proibido das coisas que proíbe, é claro!
Assim, fique sabendo que o que impressiona as pessoas “de fora” não é essa performance de “Barbie Crente” que você apresentou a eles, mas sim a verdade de quem é Jesus para você, e isto em meio à plenitude de sua humanidade.
O verdadeiro testemunho dos discípulos de Jesus não é mostrarem-se ao mundo como sendo quem eles não são, mas tão somente como sendo aquilo que eles de fato são.
Nisto está o testemunho da Graça!
O espírito do Evangelho ensina que Jesus ama a verdade de cada estação da vida humana. É por isto que Ele amaldiçoou a figueira que de modo anômalo tentava dar aparência de fruto três meses antes da estação própria.
Todas as demais figueiras estavam peladas. E a figueira é uma árvore que primeiro apresenta os frutos, e só depois a folhagem.
A oferta de folhagem era a promessa da certeza de haver fruto. Mas não havia; era só camuflagem.
Nenhuma figueira nua foi amaldiçoada no monte das Oliveiras, mas apenas aquela. E a razão é simples: aquela figueira carrega o valor simbólico de algo primordial: a tentativa humana de se cobrir com folhas de figueiras ao invés de se deixar cobrir pelo próprio Deus, e, assim, viver em verdade.
De fato, as folhagens da figueira expressavam a realidade espiritual de Israel, cheio de religião, Templo, porém sem fruto digno de arrependimento.
A lição da figueira é forte. Sim, porque está dito que Deus respeita todas as estações da vida, posto que mesmo quando aparentemente não há fruto, é porque o fruto está em gestação; portanto, sempre há fruto.
Mas quando se tenta dar aparência de frutuosidade, não havendo verdade —pois o fruto do ser é verdade—, a própria tentativa de produzir o que não é verdade já é, em-si, a maldição. Esse ser seca.
A verdade é verdade quando é estação de fruto e quando não é estação de fruto. Posto que a verdade é o que é. E Deus ama a todo aquele que não teme ser verdadeiro para com Ele.
NEle, que ama o que é, e não tem prazer em quem não somos,
Caio
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(Carta respondida em agosto/04)