HELTER SKELTER: vítimas do medo da solidão!



Acabei de ver o filme Helter Skelter, sobre o Família Manson, e tudo o que aconteceu de modo aterrorizador por mãos de Charles Manson. Eu era adolescente quando os crimes de Manson aconteceram e chocaram o mundo. No entanto, o simplismo que caracterizou a cobertura jornalística dos fatos—sempre atribuindo o que acontecera às drogas e ao satanismo—, impediu que o público tivesse acesso mais detalhado à riqueza de maldade psicológica que a história inteira revela. Pelas definições clássicas, Charles Manson seria um psicopata carismático e dotado de extrema inteligência. Todavia, Charles era muito mais do que isso. Na realidade ele era o avesso do espírito hippie—embora tenha sido confundido por muitos como hippie—, podendo ser muito melhor definido como um homem com cara de hippie, discurso publico de hippie, ações de natureza nazista, surto de divindade, megalomaníaco em suas ambições e auto-percepção, extremamente manipulador, fascinante para todas as almas carentes, um mestre do funcionamento da mente, um profeta da perversidade, um gênio do marketing anti-marketing, um terrorista do pensamento, um dos maiores especialistas em fazer o aplicativo da verdade se tornar mentira—e o oposto também—; ou seja: um guru da morte; e um homem-demônio e um demônio-homem, psicologicamente falando. Em Manson homem e demônio fazem sua morada em total simbiose. Manson, todavia, um dia foi apenas um bebê. Como, então, tais coisas acontecem? Como um bebê nasce para ser Charles Manson? Na realidade Manson está a um passo de cada um de nós sempre. Às vezes é um empurrão da vida, um momento, um impulso aceito, uma transgressão consentida e auto-justificada, uma maldade que vira riso, um ódio que se transforma em sedução para a morte, um sentimento que se instala como direito de matar, ou uma morte afetiva que sepulta todo poder de amar—e a pessoa se “mansonifica”. Nesse caso, o eu engole a vida, e a existência fora do eu se torna miragem; assim, esse eu que apenas reconhece sua própria existência, se torna a medida de todas as coisas para o indivíduo; e o resultado é que daí pra frente o único universo existente é do indivíduo, o qual se torna incapaz de ver em qualquer outro ser fora dele mesmo um ente que carregue significado. Nesse caso, fere-se e mata-se os homens como quem espanta mosquitos! O admirável, no entanto, é que Manson não “matou” ninguém. Seus seguidores é que faziam isto em honra de seu “salvador pessoal”, como diziam, que era Charles Manson. Afora a mídia, o primeiro contato que tive com a verdadeira historia foi através do livro de Suzan Aktins, uma das jovens que participou de alguns crimes, e que também ajudou e enfiar garfos até a morte na atriz Sharon Tate, mulher de Roman Polanski, a qual foi chacinada com amigos dentro de sua própria casa, e, com o agravante de ter um bebê pronto para nascer em sua barriga. Suzan Aktins narrou, depois de convertida, os acontecimentos conforme ela os viu e interpretou posteriormente. Manson controlava a mente daquelas pobres criaturas. A questão é: como? O próprio Manson disse ‘como’ quando conversou com o Promotor de Justiça que cuidava do caso. “Vocês esvaziam os filhos de vocês. Dão a eles um mundo de lixo e guerra. Provam para eles que se pode matar por interesse. Elegem seus próprios direitos e os praticam contra quem quer que seja. E você fica assustado em ‘como’ é que eles me obedecem? Eles não me obedecem. Eles apenas fazem o que está neles. Eu apenas tiro deles o medo de fazer o que está dentro deles. Eles fazem isto porque confiam no meu amor!” De fato, o diagnostico dele acerca do poder que exercia sobre aqueles jovens é perfeito. Nosso mundo é feito de almas que são como casas vazias e inabitadas. Jesus disse que quando os ‘lugares interiores’ ficam vazios, demônios vêm; e fazem ali morada para a realização de tudo o que é pior. Mas e por que pessoas ficam assim? É que somente quem conhece o amor em si, como realidade interior, e que se ama—e que tira esse amor-próprio do significado do amor de Deus—, é quem consegue amar o próximo; ao mesmo tempo em que é essa pessoa também quem consegue não temer a solidão, posto que na certeza do amor de Deus ela se protege para não fazer nada que seja o resultado da indução de outros; visto que a segurança que o amor de Deus lhe dá, concede a tal pessoa o poder de não ter que concordar, buscar, se fazer acompanhar, necessitar a afirmação de presenças, ou de carecer desesperadamente ser amado, não importando se a promessa de amor seja feita pelo próprio diabo. Portanto, as pessoas vão perdendo a identidade a ponte de se tornarem quem não são, quase sempre em obediência aos termos de algum poder que lhes diz quem elas devem ser. E isto só acontece com os inseguros e que morrem de medo de não serem amados na Terra. O único ser completamente livre de tentações e induções foi Aquele que disse diante da deserção de amigos, discípulos e parentes: “Contudo eu não estou só, pois o Pai está comigo”. A carência humana, todavia, é filha da insegurança mais essencial, que se manifesta como a falta de significado de uma existência que não se sabe objeto de amor divino. Quanto menos certeza do amor de Deus, mais vulnerável a alma fica para o diabo, mesmo que seja um demônio do tipo Manson. É obvio que nem todo mundo aceita se deixar levar e manipular até o ponto de matar pessoas. No entanto, a maioria se deixa levar e manipular até o ponto de ir fazendo cada vez mais mal a si mesmos, podendo mesmo vir a se matar, seja pelo suicídio, seja pelo suicídio homeopático de uma existência que só escolhe o que faz mal para si própria. As mulheres carentes sabem acerca disso melhor do que ninguém. Nossos dias, no entanto, são maus; pois como o amor está se esfriando de quase todos, o que se verá será uma multiplicação sem precedentes da inafetividade, o que gerará cada vez mais doenças de alma; e o fruto mais comum dessa falência psicológica é a carência afetiva que é filha da falta do significado que vem do amor de Deus, dos pais, e dos semelhantes. Se houve uma época na qual a alma não pode brincar, é a nossa; posto que tudo à nossa volta sugere carências e inseguranças, o que faz com que aqueles que não se sabem amados por Deus, entreguem-se cada vez mais avidamente àquilo que é morte. Fora do amor de Deus todo pastoreio é de morte! Somente no amor de Deus a alma tem a âncora que pode sustentá-la nesses dias gelados e sem amor. Do contrário, pela ausência do amor de Deus, cresce a insegurança essencial, e, com ela, vêm as carências difusas, as quais, são o tapete vermelho e o passaporte para o diabo de uma existência controlada e escravizada pela tirania da Necessidade. Caio