HENRY FORD E OS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SIÃO

 

HENRY FORD E OS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SIÃO

Quem forneceu a Hitler a base inicial a fim de trasmutar séculos de ódio religioso no novo antisemitismo político do século vinte? Foi Henry Ford, agindo diretamente através da Ford Motor Company. Em 1920 o crédulo porém arrebatado Ford adquiriu um texto datilografado forjado, que convenceu-o da existência de uma conspiração judaica maléfica e internacional, determinada a subjugar o mundo pela manipulação indireta de governos, jornais e sistemas econômicos.

“Tenho Henry Ford como minha inspiração.” Adolf Hitler

Essas revelações constavam do notório – e inteiramente falso – Os Protocolos dos Sábios de Sião.

A fim de abastecer o mundo com essa nova modalidade de ódio aos judeus, Ford comprou um jornal falido, o Dearborn Independent, que serializou Os Protocolos por 91 semanas. Sua empresa em seguida publicou a série sob a forma de livro, com o título O Judeu Internacional (The International Jew). Usando as técnicas de produção de massa, Ford pode expandir o alcance dos Protocolos, transformando-o de panfleto insignificante circulado entre uns poucos numa sensação nacional com tiragem de 500.000 exemplares. Ao devotar a força nacional de vendas e os ativos da Ford Motor Company à tarefa da hostilidade, Henry Ford foi o primeiro a organizar o antisemitismo político nos Estados Unidos. Acabou tornando-se, na verdade, herói dos antisemitas do mundo inteiro.

Na Alemanha, onde Ford era venerado, O Judeu Internacional foi traduzido e publicado em fevereiro de 1921. O livro conheceu seis edições em dois anos, com milhares de exemplares impressos. O livro de Ford tornou-se rapidamente a bíblia dos antisemitas alemães e das primeiras encarnações do partido nazista. Os nazistas distribuíam a obra país afora “aos borbotões”.

Entre os alemães que foram profundamente influenciados pelo livro estava Adolf Hitler. O Führer leu a obra pelo menos dois anos antes de escrever o Mein Kampf. E deixa claro que leu. No capítulo 11 do Mein Kampf Hitler escreveu: “Toda a existência deste povo é baseada numa mentira contínua, como demonstrado incomparavelmente pelos Protocolos dos Sábios de Sião. Com segurança absolutamente aterrorizadora, esses documentos revelam a natureza e a atividade do povo judeu, bem como seus objetivos últimos”. Hitler descreveu Ford como “seu herói”. Não é de admirar que Ford tenha recebido a Medalha da Águia Alemã de Hitler, numa suntuosa cerimônia em Berlim. A medalha era reservada para estrangeiros que prestavam serviços especialmente valiosos ao Reich.

O Instituto Carnegie e a ciência americana do melhoramento genético

Quem forneceu a Hitler as argumentações médicas pseudocientíficas que justificaram uma guerra a fim de gerar uma raça superior loira e de olhos azuis com o dever de obliterar as demais raças, tidas como inferiores? Foi o Instituto Carnegie (a encarnação filantrópica da maior fortuna de aço dos Estados Unidos), que propagou a eugenia, a letal ciência racial americana. A partir de 1911 os cientistas do Instituto Carnegie passaram a defender com sucesso a noção de que os milhões ao redor do mundo que não se conformavam ao estereótipo nórdico do loiro de olhos azuis não eram dignos de existir sobre a terra.

A ciência norte-americana da eugenia acreditava que traços sociais como a pobreza, a prostituição e a preguiça eram determinados geneticamente. A permanência de linhagens racialmente inferiores – uma faixa ampla, que abrangia 90 por cento da humanidade – devia ser combatida através de vários métodos. Esses métodos incluíam meticulosa identificação, apreensão de bens, proibição ou anulação de casamento, esterilização cirúrgica forçada, segregação em campos e câmaras de gás operadas pelo governo. Numerosas propostas de melhoramento genético foram promulgadas sob a forma de lei em 27 estados americanos. Em última análise, 60.000 pessoas foram esterilizadas a força, milhares foram encarceradas em campos estatais e inúmeras tiveram suas uniões civis anuladas, sendo, em alguns casos, sujeitas a negligência médica organizada e letal. O juiz Oliver Wendell Holmes, da Suprema Corte norte-americana, conferiu a essas práticas o status de lei legítima do país, declarando justificados atos dessa natureza. “Será melhor para todo o mundo”, escreveu Holmes, “se ao invés de esperar para executar uma prole degenerada pelos seus crimes, ou deixar que morram de fome por sua imbecilidade, a sociedade passe a impedir os que são manifestamente incapazes de darem continuidade à sua linhagem”.

O Instituto Carnegie e o movimento patrocinado por ele gastou milhões de dólares na tarefa de propagar as teorias americanas de melhoramento genético na Alemanha de pós-Primeira-Guerra, financiando programas de ciência racial em universidades e outras instituições oficiais. Essas teorias incluiam a idéia de que os judeus deviam ser eliminados.

Enquanto estava na prisão Hitler estudou com atenção a eugenia norte-americana. No Mein Kampf ele insistiria: “Existe hoje em dia um único Estado em que são detetáveis iniciativas hesitantes no sentido de uma concepção de qualidade superior. Esse Estado não é, obviamente, nossa modelar República Alemã, mas os Estados Unidos.” Hitler diria com orgulho a seus camaradas: “Tenho estudado com grande interesse as leis de diversos estados norte-americanos com respeito à prevenção da reprodução de gente cuja prole se mostraria, com toda a probabilidade, de pouco valor ou mesmo prejudicial à qualidade da raça”. Hitler teve apenas de substituir o termo norte-americano “nórdico” pelo termo nazista “ariano”, medicalizando em seguida seu antisemitismo virulento e pré-existente e seu fascismo nacionalista, a fim de formular o conceito da raça superior de cabelos loiros e olhos azuis glorificada por ele no seu Mein Kampf.

Hitler estava de tal modo mergulhado na ciência racial norte-americana que escreveu uma carta de fã entusiasmado ao lider eugenista americano Madison Grant, chamando sua obra de “minha bíblia”.

O terceiro Reich implementou todos os princípios eugenistas norte-americanos com enormes ferocidade e velocidade, respaldado por um exército conquistador. “Enquanto estamos aqui pisando em ovos”, incensou Leon Whitney, secretário executivo da Sociedade Norte-Americana de Eugenia, “os alemães estão dando nome aos bois”. Conforme insistia Rudolf Hess, adjunto de Hitler, “o nazismo nada mais é do que biologia aplicada”.

A Fundação Rockefeller e as experiências com gêmeos

Quem forneceu aos odiosos experimentos médicos de eugenia de Hitler os recursos para cometer crimes atrozes contra gêmeos inocentes? Foi a Fundação Rockefeller, a encarnação filantrópica da Standard Oil. A Fundação agiu como parceira integral do Instituto Carnegie no estabelecimento da eugenia na América e na Alemanha. Na busca do aperfeiçoamento da raça superior, milhões de dólares da era da Depressão foram transferidos por Rockfeller para os médicos mais antisemitas de Hitler. Nessa busca, uma espécie de cobaia era desejada acima de todas as outras: irmãos gêmeos.

Rockefeller patrocinou o principal eugenista de Hitler, Otmar Verschuer, e seus insaciáveis programas de experimentação em irmãos gêmeos. Acreditava-se que os gêmeos traziam em si o segredo da multiplicação industrial do arquétipo racial ariano e da rápida eliminação dos biologicamente indesejáveis. Verschuer tinha um assistente, Josef Mengele. O patrocínio de Rockefeller cessou durante a Segunda Guerra, mas àquela altura Mengele já havia se transferido para Auschwitz a fim de dar continuidade de forma monstruosa à sua pesquisa com gêmeos. Sempre o métodico eugenista, Mengele continuou mandando semanalmente minuciosos relatórios clínicos para Verschuer.

A General Motors e a Blitzkrieg

Quem tirou Hitler de cima de cavalos e colocou seus exércitos letais em caminhões de modo a travar sua Blitzkrieg – guerra relâmpago – contra a Europa? Foi a General Motors, que fabricou o caminhão Blitz para a Blitzkrieg. Na qualidade de maior fornecedora de carros e caminhões para o Reich, a GM tornou-se parceira indispensável da guerra de Hitler. Desde as primeiras semanas do Terceiro Reich o presidente da GM, Alfred Sloan, dedicou sua companhia e sua divisão alemã, a Opel, a motorizar uma Alemanha que ainda dependia substancialmente da tração animal, preparando-a dessa forma para a guerra. Antes disso a Alemanha tinha sido um país devotado a uma legendária engenharia automotiva, mas tratavam-se de carros construídos um a um, artesanalmente. A GM trouxe a produção de massa até o Reicch, convertendo-a de país puxado a cavalo a potência motorizada.

Sloan e a GM conscientemente prepararam a Wehrmacht para travar a guerra na Europa. Detroit chegou a tranferir volumosos estoques de peças de substituição dos veículos Blitz para a fronteira da Polônia na semana que antecedeu a invasão de 1º de setembro de 1939, de modo a facilitar a Blitzkrieg.

Fazendo uso de uma camada dissimulatória de reuniões a portas fechadas e comitês executivos especiais, Sloan manteve o papel da GM em segredo o quanto foi possível. Quando a Opel precisava de peças ou moeda estrangeira, Detroit mandava que outras subsidiárias internacionais prestassem socorro de forma clandestina.

Além de motorizar a força militar, Sloan encetou programas maciços de re-emprego, a fim de ajudar a reviver a economia nazista – isso enquanto a companhia recusava-se a recontratar americanos atingidos pela devastação da Depressão. O sucesso da GM gerou diretamente a necessidade da Autobahn. O executivo chefe da GM na Alemanha, James Mooney, recebeu a mesma medalha de Ford, por serviços prestados ao Reich.

A IBM e a solução final

Quem projetou sob medida e planejou em conjunto as soluções nazistas para o problema dos judeus? Foi a International Business Machines, inventora do cartão perfurado Hollerith, precursor do computador contemporâneo. A IBM desfrutava na época de completo monopólio sobre tecnologia de informação. Sob a microgerência de seu presidente, Thomas Watson, e anunciando-se como “uma empresa de soluções”, em 1933 a IBM alcançou o novo regime de Hitler, oferecendo-se para organizar e sistematizar qualquer solução que o Reich desejasse, inclusive soluções para o problema dos judeus.

Com a parceria da IBM o regime de Hitler consegiu automatizar e acelerar substancialmente todas as fases do Holocausto de doze anos: identificação, exclusão, confisco, guetoização, deportação e até mesmo o extermínio.

Como fazia com qualquer cliente, a IBM simplesmente perguntou ao regime de Hitler qual era o resultado desejado. Em seguida os engenheiros da companhia projetaram sob medida os sistemas de cartões perfurados que gerassem esses resultados. Em primeiro lugar, determinar quem era judeu e onde os judeus moravam – isso com exatidão. A solução da IBM: um censo racial e religioso projetado e tabulado pela companhia. Em segundo lugar, uma vez identificados, a expulsão sistemática dos judeus de todos os segmentos da sociedade. A solução da IBM: a criação de bases de dados que tabulavam e cruzavam as informações de toda sorte de organizações e comunidades, de relações de membros a listas de casamentos, mortes e nascimentos.

Em terceiro lugar, o confisco dos bens dos judeus. A solução da IBM: todos os bancos e instituições financeiras faziam uso dos cartões da IBM, que podiam ser programados para procurar nomes de judeus e suas contas bancárias para confisco. Quarto, a guetoização dos judeus. A solução da IBM: tranferir de modo cruzado quadros inteiros de famílias de suas residências atuais para para cortiços abarrotados, de modo que num único dia milhares de pessoas pudessem ser deslocadas do ponto A para o ponto B. Quinto, a deportação dos judeus. A solução da IBM: a maior parte das estradas de ferro européias tinha suas rotas determinadas pelos cartões perfurados da IBM. Estações especiais deveriam ser criadas, de modo a garantir que trens com vagões de gado pudessem ser disponibilizados para transportar judeus para os campos. Quando entravam, esses trens estavam abarrotados de pessoas impotentes. Quando saíam, estavam vazios.

Sexto: os judeus deveriam ser mortos de forma industrial e sistemática. Primeira solução da IBM: estabelecer diferentes códigos para a classificação de cada categoria de prisioneiros em campos de concentração. O Código de Prisioneiro 8 designava um judeu. O Código de Status 6 designava morte pela câmara de gás. Desse modo, o Reich sabia sempre quantos judeus estava matando. Nos campos de extermínio, quase todos os judeus eram mortos na chegada – pela cordenação de um sistema desenhado pela IBM, que regulava em sincronia letal a saída das vítimas dos guetos e sua viagem de trem até os campos de morte. Segunda solução da IBM: criar o programa de “extermínio por exaustão” através de programas de cartão perfurado que faziam a correspondência entre as necessidades de trabalho do Reich, onde quer que surgissem, e as habilidades dos prisioneiros judeus. Uma vez transferidos para o local de trabalho, os judeus trabalhavam até morrer.

Havia uma central de atendimento ao consumidor IBM em cada campo de concentração.

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Não fosse o continuado e consciente envolvimento de icônicas corporações norte-americanas na guerra de Hitler contra os judeus, a velocidade, o formato e as estatísticas do Holocausto como o conhecemos teriam sido dramaticamente diferentes. Ninguém sabe dizer quão diferentes seriam, mas as dimensões astronômicas nunca teriam sido atingidas. Em sua maior parte, os colaboradores corporativos de Hitler nos Estados Unidos vêm tentando há muito tempo obscurecer ou ocultar os detalhes de sua conivência, fazendo uso das consagradas ferramentas de desinformação corporativa, contribuições financeiras e análises críticas compradas e pagas a historiadores. Porém, numa era em que as pessoas deixaram de acreditar nas grandes corporações, os pontos podem ser finalmente ligados, de modo a desvendar o perfil de uma indispensável conexão nazista.

Edwin Black, autor de A IBM e o Holocausto, em resumo do seu A Conexão Nazista