HOMEM: FÉ-DOR OU PERFUME?
Uma das maiores dificuldades do homem reside na área da auto-percepção.
Os cientistas nos dizem que se nos dissociássemos de nós mesmos do ponto de vista sensorial, e, assim, fossemos capazes de sentir o nosso próprio cheiro, não suportaríamos o odor de nosso mal-cheiro, visto que, na Terra, apesar de nossos banhos e perfumes, em razão de todo o lixo variado e diversificado que comemos e bebemos, somos as mais fétidas criaturas do planeta.
E assim como é com o nosso próprio cheiro, que não sentimos, o é com nossa auto-visão; com nossa auto-audição; e com nossa auto-imagem; sem falar que se não nos enxergamos a nós mesmos, e se não sentimos o nosso próprio cheiro e nem nos ouvimos a nós mesmos, é ainda pior a nossa condição ao pensarmos que vemos, entendemos e discernimos o nosso próximo, especialmente os mais próximos.
Sim! Do mesmo modo como nossa proximidade de nós mesmos impede que sintamos nosso próprio cheiro, do mesmo modo, a proximidade do próximo mais próximo, muitas vezes, nos impede completamente de enxergá-lo, e ele a nós.
Daí os inimigos do homem quase sempre virem de dentro de sua própria casa!
Ora, saber que é assim já é grande vantagem, pois, de fato, nos põe no caminho da verdade e da realidade, e, desse modo, nos faz mais receptivos ao que nos outros possamos ver espelhado a nosso respeito.
O que os outros, no entanto, mais espelham a nosso respeito, não é o que dizem sobre nós, ou sobre nós possam pensar.
Não! O outro se torna nosso espelho por aquilo que nós não gostamos nele.
Sim! São as coisas que nós mesmos confessamos não gostar no outro as coisas que, muitas vezes, revelam significativamente a mesma realidade presente em nós, com outra cara; ou, ainda, nossa maior luta, ou uma das maiores; posto que o que no outro me indigna, certamente é aquilo que em mim muito importa.
Ora, quem, pela revelação da Graça, discerniu sua Queda, e, assim, aprendeu a também discernir seu próprio cheiro e mal-odor, consequentemente não andará mais achando coisa alguma ou pessoa alguma mal-cheirosa neste mundo.
Quem sente seu próprio cheiro já não julga coisa alguma como sendo mais mal-cheirosa do que a si mesmo.
Por isto Paulo diz:
“Não há pecador maior do que eu!”
Afinal, ele foi dos poucos que aprendeu a sentir seu próprio odor natural.
Ora, o oposto também nasce de tal constatação na Graça.
É porque conheço o meu próprio mal-cheiro, e sei acerca da incurabilidade dele, que, sem alternativa, me rendo ao cheiro de Deus, à justiça de Cristo; e, assim, me torno bom perfume de Cristo no mundo.
Mas nem isto será bom-cheiro para todos. Afinal, até nosso fedor é sentido por nós como bom-cheiro.
Por isto, não é de admirar que os sentidos adoecidos sintam o bom perfume de Cristo no próximo, e, ainda assim, diga: “Sai pra lá, seu nojento!”
Nele, que na Palavra e na vida assim me ensina,
Caio
8 de janeiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF