Os nomes que na Bíblia são postos por Deus ou por Ele trocados — como Jesus também fez com alguns de Seus discípulos —, sempre atribuem significados aos seus possuidores. E isto vem desde o início de tudo.
Por exemplo:
Adão – (Hebraico) – Adham, homem de terra vermelha.
Eva – (Hebraico) – Chavva, viver ou vida.
Assim, Adão é terra vermelha, talvez uma alusão ao pó da Mesopotâmia. Se fosse em Brasília ou no Paraná a vermelhidão do chão também chamaria atenção. Porém, Adão é mais do que terra vermelha, ele é matéria simples, é filho de onde pisa. Assim, ele é um ser mais deste mundo de coisas básica e instintuais. Em outra palavras: o homem é mais simples em seu ser; e mais: sua alma tem ligações com os fundamentos, e nem tanto com os tetos abstratos e subjetivos da existência.
Eva, entretanto, não é terra, ela é viver ou vida. Afinal, ela é bem mais complexa, visto não vir direto do chão, mas do chão-já-feito-humano. E é da costela, do lado do homem feito, que em meio ao sono, ele sonhou com a projeção dela como sua própria alma: ânima.
Então a mulher sai de dentro dele pelas mãos de Deus. E sai de dentro dele mesmo, do mais profundo de seu inconsciente, pois “o Senhor fez cair profundo sono sobre o homem”.
Eva vem muito mais do Inconsciente do que da Costela!
Sem o “profundo sono-sonho” nenhuma Eva jamais apareceria, e jamais, em surgindo, geraria do homem o grito que somente dão aqueles que encontram o que há muito buscavam. “Até que enfim!” Ou: “Esta afinal é…!”
É por esta razão que “a mulher é a glória do homem”, segundo Paulo. Pois se a mulher foi tirado do homem, o homem nasce da mulher; para que haja interdependência.
“Gloria”, todavia, é aquilo que coroa e que aponta para algo superior. Assim, a mulher é a “coroa” do homem. Desse modo, pode-se dizer que a mulher é um ser mais ligado ao que é humanamente superior, enquanto o homem é mais ligado ao que é chão e terra.
É obvio que a antropologia psicológica tem uma boa explicação para tal fato, aludindo aos milênios de experiência do homem como um caçador ou agricultor; tendo, portanto, suas raizes bem vinculadas pela cultura à tudo aquilo que é de natureza prática e pragmática. Ou seja: com a simplicidade da terra. Além disso, enquanto uma mulher só pode ter um filho por ano, um homem, no mesmo periodo, caso deseje, tem potencial para gerar centenas de filhos; o que dá a ele uma prole genética, mas que não lhe garante evolução emocional e afetiva; a qual, é sempre resultado de alguma forma de vinculo que se ligue ao cuidado de alguém; no caso da mulher: ao filho (a).
A mulher, entretanto, pelas mesmas razões acima mencionadas, é aquela que ficou em casa, que desenvolveu habilidades sutis, e, sobretudo, aplicou sua alma ao discernimento do interior do homem e dos filhos. Assim, a relação da mulher é desde sempre com o viver ou com a vida; e isso tendo na vida o objeto de seu interesse explícito: o marido e os filhos.
A maternidade, por seu turno, coloca a mulher num ambiente no qual, dentro dela, surge um outro ambiente, com o qual ela se relaciona de modo silencioso: o filho no ventre. Além disso, por tal vínculo, cresce nela uma intuição que em muito sobrepuja a do homem, de um modo geral.
Desse modo, pode se dizer que a mulher é, quase sempre, um ser muito mais psiquico do que o homem; o qual é menos intuitivo e mais instintual.
Assim, a bondade da mulher é quase sempre mais profunda que a do homem, visto que a dedicação ao marido e suas coisas, bem como para com os filhos no dia a dia da criação, a põe numa escala de afetividade que raramente os homens conhecem.
Do mesmo modo, caso uma mulher se torne má e perversa, deve-se saber que na mesma medida em que pode ser boa, tornar-se-á mais perversa que a maioria dos homens. Isto porque a bondade e a maldade da ânima feminina são mais profundos e sofisticados do que o ânimus masculino.
Daí os ódios masculinos geraram brigas e desavenças estupidas e braçais, o que é ridicularizado pelas mulheres. Todavia, quando “calha” de uma mulher se tornar vingativa e maldosa, nenhum homem terá o poder paciente de sua sutil e contínua perseverança na causa do ódio. Além do que, a maioria dos ódios masculinos têm profunda ligação ou com a disputa pela mulher; ou, outras vezes, se alimenta do ódio dela como “honra”.
Ora, digo estas poucas coisas apenas para lembrar que Adão e Eva são nomes de natureza simbólica e que bem expressam as naturezas de seus possuidores.
Paulo diz que o sentimento materno é a salvação da mulher. E é mesmo! Já o Gênesis diz que “o desejo da mulher é para o seu marido”; que foi a inclinação instintual que Deus colocou na alma da mulher a fim de salvá-la também como ser da vida. Do contrário, não teríamos mais a menor chance de traçar uma “genealogia” humana caso as mulheres variassem de parceiros sexuais e de procriação como por milênios fizeram os machos humanos.
Abraão só podia dizer que Isaque era seu filho porque na vida de Sara não houve um Hagar-macho.
Para mim o mais estranho de tudo é a identificação explícita que Jesus faz de Deus com a imagem do Pai.
Honestamente eu já tentei sentir o lado feminino de Deus; mas, para mim, não me foi possível até hoje. Aliás, toda a tentativa que os teólogos da “cultura do politicamente correto” fazem, me soa não apenas tolo, como também não encontra um único eco ou ressonância em minha alma. Até porque todas as supostas qualidades maternas de Deus, as quais aparecem aqui ou ali nas Escrituras, aparecem quase sempre de modo figurativo, enquanto a declaração da paternidade de Deus é chocantemente explicita.
Na minha maneira de ver a sugestão de Paulo em I Coríntios acerca da “interdependência” que há entre homem e mulher, não apenas estabelece o que declara estabelecer; mas, muito além disso, coloca o homem num caminho de desenvolvimento de sua ânima, na busca de encontro com sua mulher-alma-glória.
Resumindo, diríamos que o homem é um ser do chão e de suas praticidades mais simples, enquanto a mulher já nasce com ambições de natureza emocional e afetiva que raramente os homens conseguem compreender; visto que, na maioria dos casos, eles interpretam tal busca e interesse femininos como carência e fraqueza; quando, de fato, significam elevação e evolução humanos. Ora…, isto quando a semente feminina não apodrece; pois, em tal caso, não há homem que possa vencer a persistência do ódio, da amargura ou do espírito de vingança de uma mulher.
Pense nisso! Pois é só para pensar!
Nele, em quem homem e mulher caminham para ser um-sempre, tendo a Cristo como Cabeça de ambos,
Caio