Paulo disse que certas percepções ficam em nós como que encobertas por um véu, e que é por tal véu que o diabo cega o entendimento dos incrédulos.
Digo isto porque hoje olho a minha volta e sinto que muitos véus caíram dos meus olhos. Muitos. Véus de naturezas diversas. Porém, praticamente antes presentes em cada área de minha existência.
E foi preciso haver um furacão mais poderoso que o Katrina para Deus ir arrancando, bem cirúrgica e agudamente, cada um deles.
Espesso, porém sutil era o véu. Por isto, catastrófica e devastadora foi o meio de sua remoção. Só uma Catarata para curar tal catarata.
Assim posto, alguém diria: “É como se você estivesse dizendo que nasceu de novo?”
Minha resposta é que sim. E com isto não falo de doutrinas, mas apenas de existencialidade, ambiente no qual nós todos temos que nascer de novo todos os dias.
Depois que eu “nasci de novo”, nasci de novo muitas e muitas outras vezes, até que chegou o tempo em que eu fui nascendo de novo menos e menos, chegando a me ver meio cristalizado. “Homem de mármore”, conforme um sonho no qual Deus me acordou.
Hoje vejo bem melhor, e com muito menos auto-engano!
O interessante é quando encontro gente de outros tempos…
Praticamente todos os atuais lideres evangélicos que encontro, tanto mais elevados eles se julguem, mas piorados os encontro. Dá dó. Dá pena de ver. Aflige a alma. O espírito se angustia. Mas eles realmente parecem crer que me fazem crer que eles crêem naquelas bobagens todas.
São tão óbvios. Tão bandeirosos. Tão explícitos. Tão infantis. Tão amavelmente amargos e superficiais, que dá pena.
Devo aqui dizer que não falo de muitos os quais eu sempre percebi de modo agudo, pois tão grandes são as atitudes de gângsteres de alguns deles, que nenhum véu poderia me cegar quanto a eles.
Antes, entretanto, havia um grupo, o dos acadêmicos e seres mais sensíveis e solidários conceitualmente com o próximo, com a cultura e com tudo o que é politicamente correto, e também liberal e humanista.
Eu olhava para alguns deles com um acentuado auto-engano.
Sim, mantinha uma certa reverência para com eles, a qual acontecia pelo fato de que eu processava e projetava de volta para eles o melhor do que deles via e ouvia, como se eles fossem outras pessoas.
Ou seja: eu me negava a vê-los como eles eram, e fingia que eles eram “de verdade”.
E por que era assim?
“Estaria você certo hoje e errado ontem, ou está certo mesmo? Não seria outro auto-engano?”, perguntaria alguém.
Na verdade, falo o que sinto, e também o aquilo que penso ver, pois eu sei que somente Deus Vê.
Assim, digo como os vejo. Sim, os vejo sem terem sido feridos pela Graça. Isto porque eu sei que é somente quando a Graça de Deus nos fere com as patadas do Leão de Judá, é que somos sarados.
Quando a alma que um dia se enredou com os falsos valores da comunidade evangélica, com suas dignidades e cultos à aparência, às hierarquias, a grandezas, aos saberes, aos bens, à mídia, aos milagres, às profundidades, ou a qualquer outra coisa ou pessoa, que é idolatria — esta alma será acordada pela pata do Leão da Graça.
Ora, é por tal idolatria que o Espírito se afugentou de tal meio.
Uns estão cada vez mais bandidos. Outros cada vez mais safadinhos. E vão caminhando como estátuas de pedra. Crentes de que Deus não os vê.
Outros não são assim. São apenas ignorantes e seguem o que lhes é dito.
Entretanto, há ainda aqueles que dizem que são amantes do amor de Deus, porém, na prática, são moralistas e judiciosos.
Graças, porém a Deus, que há aqueles que não se dobram a Baal algum e mantêm-se firmes no Evangelho. Cada um conforme sua própria geração, cultura e percepção das coisas. A marca, em todos, todavia, nunca se apaga: eles todos são misericordiosos na prática.
Depois de mais de trinta anos lidando e pregando e ensinando para pastores, vejo, infelizmente, que na “igreja” eles são os mais doentes.
São Homens de Mármore, Homens de Pedra e Homens de Borracha.
Os Homens de Mármore são polidos, límpidos, por vezes quase translúcidos, habitam sempre o que é de bom gosto e de fino trato, tanto humano quanto intelectual, e amam enfeitar as Academias do Saber e ostentar seus títulos.
Os Homens de Pedra tanto o são porque se mostram placidamente insensíveis, ou porque são os pais de todos os mandamentos que eles mesmos transgridem. Por isto, ficam empedrados.
Já os Homens de Borracha são de todo sintéticos, e cheiram a plástico o tempo todo.
Devo dizer que em muitos aspectos bem mais óbvios minha visão sempre esteve aberta. Talvez, por esta mesma razão, eu tenha protestado tanto a minha vida toda, e me entregue de todo coração às causas da fé e da Igreja que eu julgava defender.
Hoje, no entanto, falo do véu que encobre a gente que sentia como eu, pensava como eu, e dizia crer como eu, mas que, de fato, não criam em nada do que tratavam crer, pois, na prática, não são capazes de não serem judiciosos, invejosos, maledicentes, e tomados pela ilusão das falsas superioridades morais. Eles falam bonito, são mais finos, parecem ser psicologicamente mais equilibrados, dizem gostar de tudo o que é cult, discursam com poesia, almejam serem vistos como sensíveis, éticos e humanos; porém, na prática, nada disso é verdade para eles.
Falam em oração, mas não oram. Falam em verdade, desde que ela fique longe de seus corações. Admitem tudo o que é certo, mas só fazem o que dá certo. Ou então, escondem-se da luta atrás dos cobertores dos confortos obtidos. Neles, não há mais esperança. E os que ainda se mostram vivos buscam se identificar com os mortos do passado. São os filhos dos Santos Cristãos, só não conseguem ser filhos da Ressurreição.
Cáustico? Ah, não! Cáustico não sou! Apenas falo o que vejo e sei. E tudo provém da simplicidade do Evangelho. Basta ver que fruto dão e buscar encontrar à sombra deles o fruto da compaixão e da misericórdia.
Vez por outra encontro alguém que melhorou. E, quase que invariavelmente, verifico que foram as patadas do Leão de Judá a força da Graça que os curou.
Não tive nenhuma intenção ofensiva no escrever nada aqui. O fiz, entretanto, porque não poderia deixar de fazê-lo e voltar em paz para o meu recolhimento.
Quem achar que deve considerar, então, que o considere.
Nele,
Caio