JESUS É O MAIS INTELIGENTE? E O MAIOR LÍDER?

 

 


—– Original Message —–
From: O QUE VOCÊ ACHA DE LIVROS QUE FAZEM DE JESUS “O MAIS, MAIS”…?
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Sent: Friday, October 06, 2006 12:22 PM
Subject: Sugestão de artigo


Como vai?

Caio, ultimamente surgiu uma enxurrada de livros tipo: “Jesus o maior psicólogo e líder que já existiu” — em  que se tenta aplicar idéias e atos de Cristo para o mundo corporativo.

A questão é que, aparentemente, Jesus descumpria uma premissa básica da liderança que era a hierarquia de tratamento. Parece que Ele tratava uns discípulos melhor do que a outros.

No episódio do Getsêmani, por exemplo, ele leva um grupo para orar com ele deixando os outros em local mais distante. Sem falar de João que era conhecido como o “Discípulo amado”, termo equivalente hoje a o “queridinho do chefe”.

Resumindo, Cristo tratava uns discípulos melhor que a outros? É possível ser um bom líder fazendo diferenciação entre os subordinados (ou seguidores)?


Um abraço

Enock Nascimento
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Resposta:


Meu amigo Enock: que Deus sempre o tome para Si mesmo em Graça e Paz!


Aqui no site já escrevi umas duas vezes sobre isto. Você pode achar em cartas, eu creio. Entretanto, direi mais uma vez o que penso. Resumidamente.

Acho esses livros o fim da picada, bem como o resultado que eles criam — o qual é reducionista, utilitário, mercantilista, empobrecedor do Evangelho; e põe Jesus na lista dos “dez mais” apenas.

De fato, do modo menos politicamente correto possível, eu digo que abomino esses livros; e olho com muita desconfiança para seus autores.

Jesus não é chefe e nem modelo de chefia para nada neste mundo, exceto para a comunidade da fé, na qual Ele não é chefe, mas Senhor.

E por que Jesus não serve para esse padrão de liderança? Ora, é que Ele só é líder se for antes Deus para a pessoa. Do contrário, é uma furada tomá-Lo como líder do que quer que seja; pois, Seu modo de ‘ir adiante’ dos que o seguem, não convida ao sucesso, mas ao tomar da cruz e Segui-Lo.


Além disso, Jesus nunca se preocupou em fazer jogos de equilíbrio de poder. Ele escolhe a quem quer e para o que quer. E se alguém pergunta — “E quanto a este? Qual será o papel dele?” — a resposta de Jesus viola todos os jogos e princípios; posto que apenas pergunta de volta: “Que te importa? Quanto a ti, segue-me”.

Ele não dá explicações acerca do que faz. Não diz por que uns têm mais ou menos talentos, ou porque uns são curados e outros não, ou porque torres caem na cabeça de alguns e não na de outros, ou porque demora tanto a fim de tomar a administração dos maus, ou porque elogia o administrador infiel, ou porque o paradigma do amor do Pai não é a Lei, mas a misericórdia do amor; ou por que trabalhadores da última hora recebem tanto quanto os da primeira.

E mais: Ele não faz nada contra Judas (no que seria uma espécie de gestão preventiva) até que Judas mesmo se entregue — embora Ele diga: “Um diz vós é diabo”. Ou ainda: “Um de vós é o traidor!”.

Quando os discípulos disputam entre si sobre o tema importância e poder (usando as referencias de poder que eles estavam tentando adotar acerca de quem era o maior ou o mais importante entre eles) — Jesus apenas disse: “Entre vós não é assim”.

Assim, os maiores amigos, Pedro, Tiago e João, são também os mais ou únicos censurados nas narrativas dos Evangelhos. Pedro nem se fala. João, que põe a cabeça no peito de Jesus, é chamado em Lucas de filho do trovão (era João quem deseja torrar os samaritanos com fogo do céu…) — e acerca dele Jesus diz, incluindo a todos: “Vós não sabeis de que espírito sois!” E Tiago leva na conta tudo o que João leva naquele episódio; sem falar que ambos os “amigos” também pediram à própria mãe para interceder por eles, para que ficassem um à direita e outro à esquerda de Jesus na consumação do Século.

Assim, os mais íntimos não são poupados pela verdade, antes a ela são mais expostos; e isto trazendo auto-revelação dolorida. Pedro ouve que em atentando contra o caminho para a Cruz ele se tornara um ‘Satanás’. João pergunta quem é o traidor, mas não ouve nada em resposta. E Tiago, que deseja ficar … até ser posto ou a direita ou à esquerda de Jesus, é decapitado em Jerusalém tempos depois.

Sim, Ele tem três amigos “mais amigos”, de maior afinidade, mas não de maiores privilégios. Sobem para a transfiguração, mas de lá descem para toda sorte de repreensões em razão de que surtaram com a “glória”.

Também Marta, Maria e Lázaro são afirmados como amigos. Mas não há tráfico de influencia. Quando Lázaro adoeceu e Jesus foi informado de que “aquele a quem Jesus amava estava doente” — Ele ainda permaneceu mais alguns dias onde estava; e não foi até que julgou próprio ir. Ele é amigo de Marta, mas não a poupa do “Marta! Marta!” tão famoso para todos nós.

Jesus não liderava de modo a atender aos interesses de uma empresa. Sua política de gestão ou converteria a todos ou levaria a empresa à falência. Ele manda dar, e não reter. Emprestar, e não preservar. Diz que dinheiro é uma potestade poderosa, e não pode ter lugar de qualquer relevância na vida de seu possuidor. Não tem senso de auto-preservação mercadológica e ou marketeira. Anda com quem não deve andar. Deixa de lado figuras importantes ao “negócio” e dá valor a quem não tem aparentemente nada a acrescentar. Choca os clientes com mais potencial (fariseus, escribas e autoridades do templo). Não cuida bem de Sua imagem, e nem faz questão de que o façam. Expõe-se o tempo todo. É capaz de entrar numa casa para jantar e quebrar todas as etiquetas, como o fez muitas vezes. É capaz de amar alguém, mas não facilitar a vida da pessoa, como foi com o Jovem Rico. Ao mesmo tempo, é capaz de insistir, sem explicação, para que alguns venham e sigam-no, enquanto diz que outros não têm o direito de ir ver um campo recém adquirido, ou de cumprir os dias da lua de mel, ou até de sepultar o pai.

Ora, esse modo de proceder não é o de um líder humano e nem para homens serem liderados. Não! O que se tem em Jesus é o modo de Deus tratar a vida e os homens — ou seja: sem qualquer política a ser verificável. Tudo é particular. Tudo visa individuação. Tudo tem aplicabilidade exclusiva. Cada um é cada um — e Ele é tudo em todos.

Dito isto, podendo escrever um longo livro sobre o assunto (não falta material) — digo que esses livros “a la Cury” são apenas produtos que enriquecem o autor, mas não levam ninguém à consciência do que seja o Evangelho e de Quem é Jesus.

É bonitinho. Parece ser bonzinho pra Jesus. É aparentemente positivo. Faz de Jesus um “mais, mais” — ou até um “must”. Só não o faz ser quem Ele é: “Deus conosco!”

Desse modo, sendo breve, o que tenho a dizer é que tais livros não passam de uma tentativa marketeira e mercadológica de achar um “nicho”; e, após isto, vender muitos livros e fazer muitas palestras pagas para um monte de otários, que não conhecem o Evangelho, a ponto de pensarem que Jesus é daquele jeito curyiano.

Sim, Jesus vira um “Augustus Jesus Cury”. Nada, além disso!  E se diga de passagem: Se fosse pra escrever algo falso, porém bem melhor na construção, o Cury e seus semelhantes não seriam os indicados; posto que são bobos e rasos; e até mesmo para criar uma falácia o fazem de modo infantil.

Esta é minha opinião. E diria isto ao Cury e a qualquer outro, em qualquer lugar, caso eles tivessem a vontade de checar a tese deles.


Nele, que é Senhor de tudo, e não líder de nada,

 

Caio

 

 

Caio