JESUS E O TEMA POLÍTICO: Jesus e Jesuses

 

 

 

 

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: JESUS E O TEMA POLÍTICO: Jesus e Jesuses.

To: [email protected]

Sent: Tuesday, August 21, 2007 03:07

Subject: O que tem o cidadão do Reino com este Mundo?

 

Caio,

 

Tenho me tornado um grande admirador teu pela forma como você crê e apresenta a Graça de Deus, sem nenhum acréscimo humano. Leio quase todos os dias seu site e posso dizer que a insatisfação de conteúdo do Evangelho que sinto na igreja é suprida com sua palavra, porem tenho tido algumas dúvidas a respeito da forma como o senhor trata sobre a questão engajamento social e político que devemos ter como discípulos de Cristo.

 

No seu texto: “OS TEMAS DE JESUS E OS TEMAS DOS JESUSES!” – o senhor faz referência a Jesus tratando apenas do que se refere à mudança que pode acontecer no homem, o fazendo se parecer com Deus, tornado o homem capaz de amar e tudo mais, sem se intrometer em questões políticas e nem em nada que diz respeito a esse mundo.

 

Concordo com tudo isso e também concordo que o evangelho é mais do que uma ideologia, mas também  creio que o Reino de Deus que esta no coração daquele que crê no evangelho se materializa no presente momento com manifestações visíveis de amor que devam se dar tanto numa esfera individual e direta, como numa esfera sistêmica e indireta.  

 

Será que essa não é uma forma do crente mostra sua fé com obras? Será que essas obras devem existir somente aleatoriamente  e num âmbito individual ou a presença do evangelho deve também abalar as estruturas da sociedade impactando o curso natural.  

 

Sem a pretensão de tomar o poder e nem com uma expectativa de resolver o problema do mundo (que sabemos não é exterior, mas interior ao homem), mas de externalizar o que o evangelho produziu internamente, dando sinais visíveis do Reino escatológico.

 

Seria o que certa vez ouvi o PR Ariovaldo Ramos que disse que, não devemos nos conformar com a inexorabilidade do mal, dizendo que as coisas são assim mesmo e so precisamos esperar pelo céu. Ele deu exemplo dizendo que os médicos têm que se reunir e não só pensar em formas de converter outros médicos, mas se reunirem e pensarem em como o trabalho medico e as áreas de saúde podem funcionar segundo os ensinos de Jesus, segundo o Reino de Deus. 

 

Será que eu amo mais lutando por justiça social, nas esferas políticas, econômicas, trabalhistas ou dando esmola no farol?. E isso sem carregar nenhuma instituição no peito, mas somente por amor.

Esse não seria o significado de ser sal e luz no mundo?

 

Será que eu entendi o senhor mal ou sou eu que talvez tenha compreendido mal sobre a missão da “I”greja?

 

Gostaria de entender melhor sua posição sobre isso.

 

Um grande abraço daquele que o senhor não conhece, mas que o tem como mentor, pastor e amigo,

 

 

Roberto

 

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Resposta:

 

Querido Roberto: Graça e Paz!

 

 

 

Obrigado pelo carinho!

 

Um dos meus problemas é minha horrível dificuldade de ficar me repetindo. Assim, como já escrevi antes em dezenas de livros o que penso sobre o tema social e político (o Ariovaldo sabe disso, pois, trabalhava comigo na Vinde), sempre que vou escrever outra vez, quase nunca faço alusões ao que já disse antes. Então, alguém que me conhece só de agora, lê, não entende, e me seguimenta em relação a algo que, em mim, está para além da chance de qualquer que seja a seguimentação.

 

Assim, aqui vai um esboçinho do que penso; mas se você tiver interesse escreva para [email protected] e peça mensagens e livros das décadas de 80 e 90 [Congressos Vinde]; ou busque tais materiais com quem os tenha; e veja que faz anos e anos que digo que não estamos aqui para assistir ao mal; e, assim dizendo, digo apenas o obvio; pois, Jesus mesmo ao nos fazer sal, luz e sombra; assim como também Seus braços, pernas, olhos, mãos e meios — o fez para que em nós Ele mesmo pudesse acolher-Se naqueles que nos vêm como estrangeiros, presos, pobres, famintos, órfãos, enfermos, exilados, marginalizados, carentes, e que ao serem visto por Ele em nós [se vemos e sentimos a vida Nele], são por nós acolhidos como se eles fossem Ele; e, de fato, tanto os que acolhem como os que são acolhidos, são Ele em um e em outro.

 

Assim, eis o que o Evangelho me diz, e não o que eu digo do Evangelho:

 

  1. Que Jesus jamais se engajaria pessoalmente em nenhuma luta de classes, de sexo, de etnias, de religião, e de política partidária; ou mesmo, em Seus dias, contra a existência Política de Roma e de César. Ele poderia profetizar o fim deles, especificamente, mas preferiu não o fazer; fazendo-o antes acerca do fim de Jerusalém — para Jesus o tema geopolítico era Jerusalém e o mundo; não Roma e o mundo.

   

  1. Que a fala de Jesus carrega conteúdo e significação Política na medida em que ninguém mexa nas vísceras de todos os valores humanos sem atingir todos os temas políticos e econômicos também.

 

 

  1. Que os atos de Jesus [todos eles] tiveram importância e significado Político [com P maiúsculo], embora Seu objetivo precípuo fosse tratar o que estava tratando, ainda que vendo que Seus atos haveriam de repercutir politicamente entre os partidos: dos fariseus, dos saduceus, dos zelotes, dos herodianos, e até sobre a autoridade romana.

 

  1. Que o envio dos discípulos ao mundo, em nome de Jesus, não os autoriza a fazem política partidária em nome de Jesus. O envio ao mundo é para viver o Evangelho; e o nome de Jesus só deve ser mencionado como base de nossa ação nas coisas nas quais Ele mesmo fez como manifestação do Seu nome sobre as pessoas.

 

 

  1. Que todo discípulo deve ser engajado em tudo quanto diga respeito à vida em sociedade, pois, isto é também ser sal da terra e luz do mundo.

 

  1. Que todo engajamento social e político, entretanto, sejam feito em nome do homem, pelo homem e para o homem; pois, basta ao homem amar ao próximo como a si mesmo.

 

 

  1. Que usar o nome de Jesus a fim de justificar mesmo as melhores causas, nunca nos deu um único e duradouro exemplo de que o nome de Jesus não tenha logo sido manipulado, usado, ideologizado, ou feito algo fixo como um ídolo.

 

  1. Que não sendo o reino de Jesus deste mundo, cumpre ao discípulo levar-buscar o reino no mundo, como oração e vida; porém, sabendo que a inserção do reino no mundo se dá a partir da existencialidade; posto que o reino de Deus está em nós; não tendo sede visível em lugar algum, mas tão somente nas manifestações de amor, justiça e verdade entre os homens.

 

 

  1. Que Política e política [maiúscula e minúscula] devem devem ser praticadas de “modo ateu”; pois, só assim se honra a Deus numa e noutra: P e p.

 

  1. Que sempre que os discípulos vivem em amor e integridade o mundo crê; e isso nada tem a ver com transformar o Evangelho num programa partidário solidário.

 

 

  1. Que existem muitas vocações e a política é uma delas; porém, Jesus jamais concordaria que é somente ou principalmente pela via política que se pode fazer o bem social no mundo.

 

  1. Que a ênfase de Jesus é na ação que e se compadece; como foi com Ele mesmo; como foi com os discípulos em Atos [nos primeiros capítulos]; como foi o ensino de Paulo; como foi a veemente palavra epistola de Tiago; como foi no desfecho esmagador de I João.

 

 

  1. Que sendo assim é coerente que quem vê, aja; e quem pode, faça; e que tem, dê; e quem sente, realize — assim como foi com o Samaritano solitário, ou com aqueles que Jesus diz em Mateus 25 que amaram ao próximo pelo próximo apenas [sem Deus como ideologia política ou como motivo teológico para a ação]; sem saberem que quem ama ao homem pelo homem, ama a Deus no homem.

 

  1. Que o caminho político é apenas mais um, e, na maioria das vezes, o mais ineficaz quanto a realizar o bem ao próximo.

 

 

  1. Que a absolutização da política como único caminho para a execução do bem social é uma grande mentira contra a verdade do Evangelho e contra o testemunho da História.

 

  1. Que para cada cem espinheiros que governam no mundo político aparece uma oliveira; segundo o Apólogo de Jotão.

 

 

  1. Que a tentativa cristã de fazer o bem pela política quase nunca foi verdadeira; exceto em pouquíssimos casos; pois, de fato, sempre que os cristãos buscaram poder político acabaram se tornando os diabos da história.

 

  1. Que a rejeição de Jesus em relação ter os poderes deste mundo pela via política denuncia a política como tentação do diabo buscando ofuscar a simplicidade do amor que age.

 

 

  1. Que a ressurreição deu a Jesus todo poder nos céus e na terra, porém, Ele decidiu operar pelo Espírito e pelo amor; e, vocalmente pela pregação do Evangelho.

 

  1. Que o Apocalipse trata a Política como uma Potestade; e que, portanto, quem quer que com ela se envolva, saiba que anda no chão da perversidade, da mentira, da traição, do engano, da imagem, e da mais profunda indução à hipocrisia [culto à preservação da imagem] e à idolatria [que o culto ao poder].

 

 

Assim, sugeriria, caso o livro não estivesse esgotado, a leitura de meu livro “A Bíblia e o Impeachment”; ou ainda pelo menos a leitura de “Jonas: o sucesso do fracasso”.

 

Entretanto, o livro “Política de Deus e Políticas do Homem”, de Jacques Elull, publicado pela editora Fonte Editorial por minha sugestão [faço o prefácio do livro], é um dos melhores e mais próximos textos que já li do significado divergente entre o Profeta e o Político. Leia. Está disponível.

 

Existem pelo menos uns 12 livros meus sobre o teme e sobre como andar essa trilha.

 

E enquanto eu fui fiel ao que aqui digo [de 1973 a 1997] só fiz o que foi bom, pela Graça de Deus em mim. A Fábrica de Esperança foi a maior simbolização prática desse meu interesse e engajamento. Nunca fui de ficar falando sem fazer.

 

Entretanto, com toda a demonstração evangélica de amor ao poder pelo poder, e que veio desde obediência total à Ditadura [Fanini o maior símbolo evangélico do período] até ao bordel das orgias e swings políticos nos quais proporcionalmente há mais evangélico envolvido do que gente; e com a avidez da Universal por tomar o poder no país, fazendo disso aqui a Republica dos Republicanos Ai-atolás Komemhímem da pureza; e com todas as jogatinas entre evangélicos e a corrupção em todos os Estados do Brasil; e com o câncer em metástase aguda e expansiva, e que atingiu quase todas as “igrejas” e seus “pastores e líderes” — fica difícil estimular discípulos e entrarem na política.

 

Numa hora como esta a ação tem que ser marginal como a dos profetas!

 

Dou graças a Deus pela simplicidade [até aqui] de uma mulher como a Marina Silva; uma entre centenas de evangélicos bandidos ou, no mínimo, alienados das grandes causas, ou apenas despachantes de suas denominações religiosas.

 

Tudo o que digo se baseia também em uma longa experiência com o mundo político e com a mídia. Afinal, por mais de uma década, tudo o que neste país se desejava discutir, de um modo ou de outro me envolvia. Assim, falei e discuti tudo: da lei do divorcio às questões acerca de casamentos entre gays; de temas catastróficos aos temas políticos; de Impeachment de um Presidente à soltura de presos de Bangu I; de fome e de esperança; de Israel e Palestinos a Árabes e Americanos; enfim, de tudo: aborto, eutanásia, clonagem, distribuição de renda, criação de bancos populares; ação de desarmamento; enfrentamento da policia corrompida [dentro e fora dela]; e toda sorte de assuntos pertinentes à vida comum — e jamais fiz isto em nome de Jesus; mas tão somente em nome de minha própria consciência; e dizia que assim fazia porque não queria que ninguém confundisse minhas opiniões sobre o mundo [por mais que as desse fundado no espírito do Evangelho] com o Evangelho que procedia de minha boca; posto que se me ouviam, não o era em razão de nada, mas apenas em função de que a Pregação da Palavra me pusera naquela situação; portanto, jamais usaria o Evangelho para falar em nome dele aquilo que em seu espírito se pode opinar, mas jamais declarar que se o faz em nome de Jesus; pois Jesus mesmo não fez; nem de longe.

 

O maior poder Político do Evangelho reside nessa liberdade, nessa ética e nessa isenção!

 

 

Um grande abraço, e obrigado por perguntar.

 

 

 

Nele, que disse: “O meu reino não é deste mundo; se fosse…” – não seria o que será,

 

 

Caio

 

21/08/07

Manaus

AM