JESUS NÃO SABE FALAR DE JESUS: PENSAM OS RELIGIOSOS!
Uma das coisas que mais me chocaram quando comecei a ler os evangelhos tinha a ver com o fato de que Jesus parecia deixar muitas oportunidades de se explicar em aberto. Dava a impressão que Ele não fazia questão de explicar muito.
De fato, Ele apenas afirmava ou então simplesmente se retirava. Ou ainda, quando queria tornar a compreensão “mais fácil”, falava por parábolas. Nesse tempo, eu lia os evangelhos “torcendo” por Jesus! Depois comecei a ler livros teológicos, alguns meses após fazer as primeiras leituras dos evangelhos — descobri que era tarefa dos teólogos e apologetas explicarem essas coisas que nem Jesus e nem os escritores dos evangelhos se ocuparam em explicar.
Nessa época foi que descobri que para um evangélico “evangelizar” alguém, melhor do que qualquer coisa — não se podendo levar a pessoa “a ser ganha” até ao culto para ouvir “a palavra de Deus” — seria dar à pessoa, como presente, um bom livro. Pareceu-me que seria sempre melhor ler um livro que “explique bem as coisas”, do que apenas presentear alguém com os evangelhos. Sim, depois dos teólogos e dos apologetas, parece que Jesus ficou mais bem explicado por outros. Até melhor do que por Ele mesmo.
De fato, a sensação que dá é a de que Jesus não sabia falar de Jesus. Por isto é que nós temos que ajudá-Lo a se fazer entender. Daí também vem a idéia de que a apresentação de Jesus tem hora marcada e precisa ser feita por um profissional da apresentação pública de Jesus: o evangelista. Ou mesmo depois que este saiu de moda, pelo avivalista; e agora pelo showman de Jesus. Sim, porque do ponto de vista da religião, Jesus não explica Jesus bem! Além disso, essa falta de explicação de Jesus acerca de muitas coisas que julgamos serem importantíssimas acaba por justificar a existência das doutrinas da igreja.
As doutrinas é que tornam aquilo que para Jesus nem era um tema, numa questão de natureza essencial para a vida espiritual. Como Ele tratou a quase tudo que nos interessa com total descaso, deixando-nos sem saber de quase nada — e ainda dizendo que não nos competia saber ou procurar saber tempos e épocas que o Pai reservou para Sua exclusiva autoridade — surgiram os estudiosos da Escatologia. Estes, sem cometer a gafe “montanista” ou “adventista” de marcar datas (se bem que muita gente entre os evangélicos tem marcado adventistamente a data da Volta de Jesus), criam esquemas e cronogramas detalhados de como será o mundo até a Volta do Senhor. Se Jesus simplesmente chegar como o ladrão de noite, eles dirão: “Não deve ser Ele porque todos os sinais não se cumpriram”. Sendo que o “se cumpriram” é conforme o esquema e o cronograma deles.
Então chega a vez dos teólogos-filósofos tentarem explicar de modo sofisticado e descrente tudo aquilo que eles nem sabem o que é e que não crêem; pois a ciência não apresenta comprovação de tais fatos. Ou seja: eles “enchem” os vazios dos desinteresses deliberados de Jesus com afirmações de um conteúdo de descrença. Mas fica tudo cheio. Cheinho de nada. Embora os livros sejam volumosos.
Enfim, esta seqüência seria quase interminável. Porém, o resultado de tudo isto é que não se aprende apenas a crer no que está dito e pronto. Pior, nem quando a pessoa lê e entende, ela crê que está entendendo. Freqüentemente ela entende o oposto do que lhe é ensinado. Todavia, como se fez dependente da “interpretação” dos profissionais de Deus, ela acaba por desistir de seu próprio entendimento, entregando-se cada vez mais a outros. Desse modo permite que sua consciência e entendimento sejam decididos — contra o seu próprio entendimento original — por outras consciências, cada uma com seus interesses; ou na melhor das hipóteses, com seus próprios pré-condicionamentos.
Assim, digo eu a você: Leia os evangelhos! O que você entender não tema crer e praticar. O que você não entender não tema crer assim mesmo. E se for algo para praticar, ponha em prática. É na prática da Palavra, acompanhada pela fé, que ela se auto-explica. Mateus diz que quando Jesus enfrentou a morte, muitos dos santos que dormiam no pó da terra, ressuscitaram. Depois da ressurreição de Jesus, estes santos entraram em Jerusalém e foram vistos por muitos. Para mim basta isto. Aliás, nem era necessário saber. Mas está dito. Eu creio. Não sei quem eram esses santos que se ergueram da morte, nem com que finalidade. Também não posso dizer o que fizeram em Jerusalém e menos ainda, quando partiram daqui; em que forma, modo ou dimensão… Digo mais: não tenho o direito de especular a respeito e ter a audácia de fabricar uma doutrina baseada nisso. Como também não me sinto com permissão para “encaixar” essa narrativa em nada, fabricando uma escatologia.
O maravilhoso, quando não há uma explicação explicitada, é apenas curtir a maravilha das escolhas de Deus; igual a alguém que se encanta diante do mais maravilhoso cenário ou criatura que na natureza se possa ver ou contemplar. É como um show de Deus! É só explodir em aplausos de adoração perplexa e grata! Acredito que os antigos estavam certos na sua reação quando indagados de coisas que não sabiam explicar. Apenas respondiam dizendo: “É maravilha do Senhor! É maravilha do Senhor, irmão!” Para mim essa ainda é a melhor resposta! E mais: Deus fala de Si mesmo e Jesus também, usando todas as linguagens: do Cosmos à Palavra; da alegria à dor; dos ganhos às perdas; no nascimento e na morte; no encontro e no desencontro — enfim, de todas as formas; segundo a Ordem de Melquizedeque.
Nele, que faz como quer; e sábio é quem se alegra nisso,
Caio