Jim Carrey: O Todo-Poderoso

Para fazer o papel de Todo-poderoso só sendo um idiota. O filme onde Jim Carrey faz o papel temporário de Deus é muito engraçado. Eu, entretanto, tive razões diferentes para rir do ridículo. Isto porque nas dimensões da comédia já estive naquele papel muitas vezes, durante décadas. Algumas pessoas que viram o filme depois me disseram que se lembraram de minhas angustias no papel de ouvir e falar com todos os que demandavam de mim atenções de “mensageiro” do divino. A diferença é que Jim Carrey—no personagem que ele representa—estava com raiva de Deus por tudo dar errado na vida dele. Reclamou tanto com os céus que Deus apareceu a ele. Morgan Freeman é Deus. Deus transfere as responsabilidades divinas para Jim Carrey e tira férias no alto do Himalaia. Enquanto isto… Jim vai fazendo o poder de Deus ser usado somente contra seus inimigos e em seu próprio favor. Chega mesmo a aproximar a Lua da Terra a fim de seduzir a namorada. O planeta sofre as conseqüências enquanto ele brinca de Deus: maremotos, enchentes, desastres, alterações dramáticas na natureza (Bush gosta do papel). O mundo estava esquecido… Então Deus fala com Jim outra vez e diz que o mundo tem que ser cuidado com cuidado. Todas as engrenagens, mesmo neste caos, funcionam para o bem—ainda que os humanos não enxerguem. Deus tem que ser Todo-Poderoso, mas não pode brincar com o livre arbítrio e nem com a ordem universal. Assim é que deve ser… As orações do mundo explodiam na cabeça de Jim. Ele não agüentava tanta solicitação, tantos pedidos, tantas dores, tantas perdas, tantas perguntas, tantos conflitos, tantos desencontros amorosos, tanta injustiça, tanto tudo—e decidiu se organizar. Transformou as “vozes” dos pedidos de oração em e-mails. Agora as orações já não chegavam mais como vozes enlouquecedoras em sua mente. Elas tem que ser “baixadas” pela Internet. A vidinha de Deus de Jim fica melhor um pouco… Então, milhares de e-mails. Ele não ouve mais vozes, mas tem que ler as preces de todos. Perde a paciência. Diz “Sim” para todos. Sua bondade conveniente se transforma em caos para o mundo. Desastres econômicos, políticos e de toda sorte de tragédias começam a acontecer. Um “Sim” de Deus para todos destruiria a Terra. Jim, todavia, só queria ser ancora de televisão num programa de telejornalismo. Era só no que ele pensava. No final…bem, não vou contar. Prefiro que você vá ver e rir um pouco. E o que me fez rir mais que os demais e, possivelmente, por razões diferentes? Eu nunca fiz queixas aos céus. Nunca quis ser nada além de um homem usado por Deus. Entendi que meu ministério poderia ser do tamanho do amor que eu sentia pelas coisas de Deus e conforme a paixão que me movia. Eu tinha 19 anos de idade. Deus não me deu papel divino para cumprir. Mas aqueles que me viram e ouviram entenderam que eu tinha um canal especial, um telefone vermelho para o céu, um contato do mais íntimo grau com a divindade. Lembro-me que aos 20 anos, além das centenas de pessoas que já circulavam em volta de mim, eu ainda recebia e respondia cerca de 200 cartas todos os dias—à mão, não havia computador—, e logo passei a receber até dois ou três mil telefonemas por dia. O que estava acontecendo? Ora, eu estava apenas pregando o Evangelho da Graça de Deus e garantindo que Jesus ressuscitou e está vivo hoje. Então, o que houve? Demorou muito para eu entender que Deus me havia constituído de uma forma que fazia com que as pessoas confundissem facilmente a força da mensagem com o poder do mensageiro. A mensagem é poderosa. O mensageiro, não! A culpa é de Deus? É minha? É das pessoas? Não! Claro que não. Esta não é uma história póstuma. Estamos todos aprendendo com ela—eu estou. Faço apenas algumas cogitações sobre o fenômeno. O que terá acontecido? Talvez por eu não ser tímido, não me acovardar ante os desafios, crer com paixão, me expressar com intensidade, pensar com clareza, e me entregar a tudo que faço como se fosse a última coisa que eu tivesse para fazer na terra—tenha gerado uma expectativa diferente no coração das pessoas. Há lideres de movimentos e igrejas enormes que nenhum dos membros deseja ou se sente necessitado de tocar neles, falar com eles e mesmo ouvi-los—da forma como fizeram comigo. Nem enviar substitutos para meus impedimentos de saúde ou familiares eu podia. Era uma ofensa! “Você está sonegando a benção”—quantas vezes eu ouvi. E pior: quanto mais humano eu me mostrava mais divino ficava. E os abusos não cessavam nunca. O mundo podia até estar sendo abençoado. Mas no meu caso era o contrário: era o meu mundinho humano é que não suportava a pressão do mundo inteiro. Hoje mesmo, enquanto escrevo este texto, me sinto ainda culpado. E a culpa não é do passado. Deus sabe que eu nunca tentei fazer com que pensassem de mim além do que convém. Minha culpa vem do presente. Há milhares de e-mails para serem respondidos. Tenho alegria e prazer em responder a todos. Na maioria dos casos, os resultados são maravilhosos. As pessoas sentem-se ajudas, de fato. Mas quanto mais eu respondo, mais os e-mails chegam. Estou respondendo o 976 e não cessa de entrar. Quando acabo de responder 20 e-mails já entraram mais 100. Então, vem a pena de não conseguir ser rápido para responder e atencioso como todos merecem. É culpa de não saber como fazer para ajudar. O fato é que há pessoas que mesmo sabendo das lutas que eu enfrento—muitas delas são caluniosamente públicas e são movidas por falta de notícia da mídia ou pelos interesses que a manipulam—, ainda assim escrevem meio desaforadas cobrando de mim prontidão de respostas para seus problemas quando não param de chegar e-mails e nem cessam os meus problemas. Ou seja: Deus me deu a graça de poder ser útil aos problemas dos outros, mas botou um baita espinho na minha carne. Assim, vamos nos ajudar mutuamente. Certo? Faço a minha parte. Tudo o que posso. Mas gostaria que ninguém me julgasse relapso, desinteressado ou “nem aí” para o que está “rolando em sua vida”. Não quero mudar o Fale Comigo do site para algo como Tente… Só gostaria era de não ser cobrado. Passei a vida me sentindo cobrado. Ouvi vozes e clamores quase trinta anos. Não sou nada além do que sou. E meu nome não engana. Eu caio. E canso. Conto com os irmãos em oração. Eu, Caio