LIÇÕES ETERNAS DA VIDEIRA
Hoje eu ganhei uma parreira. Sempre quis ter uma, mas nunca tive.
Então, um irmão do Caminho me perguntou: “Você ainda vai morar muito tempo naquela casa?” Perguntei a razão. “É uma árvore que tenho pra você.”
Disse a ele que mesmo que não fosse ficar muito tempo (quem sabe o quê?), plantaria nela o que houvesse de melhor. “Até Tecla eu planto lá!” E acrescentei que recentemente havia plantado uns Ipês que levam uns 12 anos pra ficarem belos mesmo.
“Que bom! Eu tenho uma parreira pra você” — disse ele.
Então, amanhã, tem uma parreira chegando aqui.
Hoje, molhando uns bambus que estou crescendo para cobrirem uma estrutura que erigi, lembrei-me da parreira, e me deu aquele gosto de uva na boca.
Falei com a nossa ajudante de casa sobre a parreira. Ela me disse que entende muito de parreira, pois cuidou de umas quando era jovem.
Fiquei mais animado ainda. Tinha medo de não saber lidar com a delicadeza da bichinha. Ela é sensível, dizem todos.
Voltei para o quintal. Fiquei sentindo o gosto da uva nascida no pé.
Foi pensando na parreira, na vide, que acabei indo até a Videira Verdadeira. E ouvi aquilo forte: “… e meu Pai é o Agricultor”.
Não era uma voz. Era um ‘aquilo’. Mas era forte.
Fiquei andando pela grama e pensando no trabalho do agricultor. Aliás, o trabalho é do agricultor.
A videira é. Os ramos são. Mas quem limpa, poda, corta, e lança fora — é o agricultor.
Por isso, quando um ramo não dá fruto, é porque ele se desconectou da fonte de seiva de algum modo, pois, do lado do agricultor, todo trabalho de cuidado é feito.
Assim se ensina que a recusa de frutificar conforme o Evangelho, segundo Jesus, a Videira, é sempre um fenômeno essencial.
Obviamente que não me refiro em recusa ao “Jesus” da “igreja”. Não estou falando do Jesus de doutrinas e catequeses. Não estou falando de Jesus segundo a carne, como diria Paulo.
Refiro-me a uma experiência com a revelação de Deus, quando os olhos do nosso coração são iluminados pelo Espírito e pela Palavra.
Se a pessoa é iluminada mas resiste à luz, pela própria resistência à luz, se coloca na escuridão.
Assim, quem recebe a Seiva da Vida, mas se bloqueia para ela, mesmo reconhecendo-a como verdadeira, faz-se qual um ramo desconectado da Videira.
Estes são queimados depois que dão a evidente demonstração de que não desejam viver da Graça da Seiva.
Quem recebe a Seiva, a reconhece como tal, mas não a deseja, esse não é obrigado a querer aquilo que ele mesmo chama de Verdadeiro. Porém, está deliberadamente trocando a verdade pela mentira, e, assim, faz a si mesmo um ramo desligado da Videira.
Então, senti o privilegio de simplesmente não se fazer oposição ao fluxo da Seiva da Videira Verdadeira, e, assim, apenas dar fruto.
Por isto, a grande ação do ramo é não fazer nada. É permanecer na Videira, de onde ele brotou. Se ele permanecer, então, nada terá de fazer, bastando não opor-se à Seiva da Verdade.
Assim, o Agricultor faz todo trabalho pela manutenção de todos os ramos. Mas é a Videira que diz: “Pois, sem mim, nada podeis fazer!”
O supremo estado de frutificação do ser é aquele que é alcançado no descanso mais profundo na Graça de Deus.
Nele, que é Videira Verdadeira,
Caio
23/03/07
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