MAÇÃ E SAPUTIS: UMA QUESTÃO DE TENTAÇÃO?
Este texto é uma parabola simples de meus gostos por frutas e sobre o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. E por que? É que estou comendo uma maçã e pensando que para um amazonense não cola a associação do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal com a maçã. As maçãs imploram que eu as coma. Gritam da cesta: Hei! Me come! Mas eu passo para lá e para cá e não as como. É que não gosto de maçãs? Não! De forma alguma. É que só as como quando estou com muita fome. Com muita fome elas ficam até comíveis para mim. Então, o problema não é delas e nem é meu. Eu não gosto delas, mas as acho aceitáveis quando estou com fome. A necessidade faz até o prazer, como no caso da maçã que estou comndo. A fome é tanta que ficou até boa… Elas não têm culpa de eu desejar saputi, sorva, manga, manguita, figo, tâmaras e uvas doces. Eu cobiço o saputi! é minha tentação entre todas as frutas. Chego em Belém e quero saputi. Lá tem muito. As maçãs, no entanto, podem estar em salvas de ouro que esse tolo aqui só as busca quando está com muita fome. E lembra de saputi e sorva enquanto a come–pelo menos agora, enquanto estou escrevendo e comendo uma maçã. Veja como tudo é uma questão de gosto. Assim, se a maçã fosse “o fruto”, para um homem como eu, ela só seria tentação pela “proposta maligna” e pela minha “ignorancia” do gosto da maça…por eu nunca haver comido uma…do contrário, eu a buscaria somente depois que a maior parte das árvores do jardim já tivessem sido comidas e a próxima na lista das palatáveis fosse a maçã–e isto se eu estivesse precisando comer. Logo, não seria uma tentação, mas uma necessidade. Nem toda necessidade é tentação e nem toda tentação é necessidade. O que existe é a necessidade como tentação e a tentação como necessidade. Ambas as coisas transferem responsabilidade uma para outra para que o ato deliberado não se instale como tal, aumentando a culpa. Daí a tentação ter que se tornar uma necessidade incontronável. Ou seja: para além das forças!–negando o que Paulo diz: que não é para além das forças. Beber a própria urina é tara. Bebe-la quando não há mais água e nem outra saída, muitos já o fizeram. A tentação se torna tanto mais forte quanto mais ela se associe ao desejo que se julga como direito adqüirido. Para mim jamais seria uma maçã. O fruto da Árvore cada qual, individualmente, é quem sabe qual é! Para mim haveria uma variedade de sabores anteriores. Claro! A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal é também plantada no coração—e ganha os sentidos de nossos melhores gostos, sabores, odores, expressões, atitudes, sentimentos, identificações, prazeres, propostas, desafios, sonhos, pulsões, memórias, associações, cultura, projeção inconsciente, encontro, história, nova história, novo homem, o super-homem… mais que mais…no mínimo do tamanho de Deus. Daí nasce a tentação. Vem de mim. É a cobiça de cada um que traspassa os limites de si mesmo e do outro, do tempo do espaço e da harmonia com o todo. A cobiça é animal. Eu sou animal. E sou mais que animal—e sou tentado em todas as dimensões. Por isto é que não é um grande meteoro que está ameaçando a vida na Terra, mas esse animal que é mais que animal e usa esse “seu mais que animal”, justamente contra o fato de ele ser mais que um animal. E assim, morre! Pecar é existir em estado de suicídio. Em Cristo e só Nele é que posso comer o que me dá Vida e me dá vida no existir e também prazer para gostar e comer com gratidão e alegria. Somente Nele eu descubro que cada um come o que gosta e que seja bem-aventurado aquele que comer para o seu próprio bem e não para o mal. Mas para mim um saputi é muito mais gostoso que uma maçã, por favor, nunca tenha dúvida. Para mim, o conhecimento do bem, é comela; e o conhecimento do mal, é não te-la… Caio 11/06/2003