“Mãe, estou voltando pra casa”. Meu filho, quantas vezes você me acordou de madrugada com esta frase, e hoje ela se torna tão significativa, pois retrata a realidade espiritual manifesta na sua morte.
Muitas vezes a JÚ me acompanhou aflita, esperando por você, olhando pela janela para ver se você estava chegando, preocupada com a violência da cidade dos homens, do mundo em que você vagava no meio da noite…
Quando você ligava, mesmo chateada por você ter saído, mesmo preocupada de você estar fazendo alguma besteira, eu dava graças a Deus quando ouvia: “estou voltando pra casa”.
Quando você era pequenino sumiu por algumas horas e, hoje, relembrando aquele dia, percebi que meu desespero em ter te perdido foi completamente diferente de hoje, pois naquele dia eu não sabia aonde nem com quem você estava; e hoje eu sei!
É esta certeza que nos transporta do lugar do desespero para o lugar da paz, ainda que essa paz habite na tristeza de não ter você mais comigo.
É duro deixar você ir… foi difícil deixar você ir para os USA para passar um tempo, que naquele momento era indefinido pra nós; mas me lembro o que falei antes da sua viagem, e o que falei várias vezes quando você me ligava saudoso e angustiado: “Você tem para onde voltar, você tem uma casa, uma família que te ama.”
Vai ser muito duro não poder mais comprar as coisas gostosas que você gostava quando eu for ao supermercado; vai ser muito duro não precisar mais guardar o potinho de strogonof para você comer mais tarde; vai ser muito duro não sentir a sua mão na minha ao recitar nosso versículo antes de dormir “em paz me deito e logo pego no sono, pois Senhor só Tu me fazes repousar seguro”; e tudo o que eu, seu pai e irmãos formos fazer sem você, vai ser muito doloroso…
Quando comecei a ler o livro “O filho Pródigo”, eu sentia que era para mim, mas a vontade de dá-lo a você era muito grande, eu nem acabei de ler…
Hoje me lembro das coisas que você conversou comigo sobre o livro, sobre a luz intensa que incidia sobre o pai ao receber o filho de volta. “É uma volta para dentro de si mesmo e para Deus”, você me falou. “Nós somos o filho, o irmão e o pai”, com essa declaração você me mostrou que sua grande questão estava resolvida.
Tantas vezes você me disse que queria saber quem você era de verdade.
Lukinhas, quando eu recebi a notícia que você tinha partido parecia algo virtual, irreal, um pesadelo… minhas pernas, cabeça, alma não queriam acreditar… eu queria ouvir o telefone tocar com a sua voz me dizendo para abrir a porta porque você esqueceu a chave de casa… mas desta vez não foi você quem falou…
Abri a minha Bíblia ao acaso e caiu exatamente onde estava sua foto, no evangelho de Lucas, com o texto marcado: Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Desta vez foi Deus que me disse: Ele já está em casa!
Eu te amo meu filho, e a paz incompreensível que sinto agora, apesar da saudade, reside nesta certeza de que sei que você voltou para o PAI, que você está em casa!
Alda Fernandes D’Araújo