MAGOS MELHORES QUE TEÓLOGOS INERTES



Muitos Virão do Oriente e do Ocidente…

Jesus disse que os que se sentem os donos da revelação de Deus haveriam de ser surpreendidos no dia da Grande Revelação.

Seres desprezíveis haveriam de preceder a muitos religiosos certos de suas certezas. E gente que vivia para além da fronteira da “geografia da informação da revelação”, viria e tomaria lugar à Mesa da Grande Comunhão; enquanto os que se auto-intitulavam “filhos do reino” ficariam de fora.

Ora, ninguém deveria estranhar tais palavras ou tentar arranjar para elas significados outros. Elas dizem apenas o que elas dizem.

O interessante é que o Evangelho inicia a sua narrativa sobre o nascimento de Jesus com uma história que ilustraria aquilo que Jesus iria asseverar depois acerca desse tema.


Eis como segue a narrativa.

Tendo, pois, nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram do oriente a Jerusalém uns magos que perguntavam: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? pois do oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo.
O rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se, e com ele toda a Jerusalém; e, reunindo todos os principais sacerdotes e os escribas do povo, perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo.
Responderam-lhe eles: Em Belém da Judéia; pois assim está escrito pelo profeta:
E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel.
Então Herodes chamou secretamente os magos, e deles inquiriu com precisão acerca do tempo em que a estrela aparecera; e enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino; e, quando o achardes, informem-me, para que também eu vá e o adore.
Tendo eles, pois, ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela que tinham visto quando no oriente ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.
Ao verem eles a estrela, regozijaram-se com grande alegria. E entrando na casa, viram o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro incenso e mirra.
Ora, sendo por divina revelação avisados em sonhos para não voltarem a Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.


Os antigos “pais da igreja” tentaram ver aqui a “supremacia da fé cristã” sobre as religiões pagãs.

Seria uma espécie de afirmação de superioridade, colocando o cristianismo como a Religião Verdadeira.

O que me parece é que a religião, de fato, quase nunca percebe o essencial das coisas.

O texto não fala de nada além daquilo que aconteceu; ou seja: Deus é livre para revelar-se a quem quer, onde quer, e do modo como deseja fazê-lo.
E mais: essa revelação terá sempre em Cristo o seu ponto Ômega.

Ou seja: a revelação de Deus é Cristo.

Muitos dedicaram-se a entender a “estrela”; ou a buscar amenizar a presença dos “magos” fazendo deles astrônomos quase cristãos; ou a tentar marcar a data do nascimento de Jesus pela “ocorrência do fenômeno estelar”; ou ainda a tentar simbolizar e significar de um modo especial o “o ouro, incenso e mirra” como sendo expressão da realeza, do sacerdócio e da vicariedade dos sofrimentos de Jesus.

Tudo viagem!

Ora, a estrela não guiou os magos à estrebaria. Nenhuma estrela tem esse poder. Se você anda, ela segue você. Se você pára, ela pára com você.
Portanto, algo interior guiou os magos. Eles andaram conforme um testemunho intimo. A estrela era apenas a simbolização externa.

Qualquer pessoa que saiba um mínimo de relação entre pontos de observação—tomando uma estrela como referencia e um humano andante como observador—, sabe que o que acabei de dizer é a realidade.

A “sua estrela” não era “uma estrela de Jesus”, como se Ele fosse filho de uma “Nova Era”.

Todas as estrelas são Dele, e Nele tudo subsiste!

Aquela estrela não era mais Dele que todas as demais estrelas do Cosmos.

De fato, aquela estrela era dos magos, e servia para eles como referencia simbólica, como linguagem que eles entendiam.

Já o ouro, o incenso e a mirra, eram o que eram. Riquezas antigas. Qualquer outra tentativa de emprestar a tais presentes um significado simbólico-messiânico, é pura viagem de “interpretação alegórica”.

A grande mensagem do texto, todavia, é deixada de lado.

1. Quem não tinha a Escritura nas mãos teve mais olhos para discernir a revelação que acontecia no coração, que aqueles que sabiam apenas as “letras”, mas tinham o coração fechado para os sinais dos tempos. Por isto é que os magos seguem o coração e acham a Jesus.


2. Quem tinha a Escritura aberta e como objeto de estudo, mas mantinha o coração fechado, satisfazia-se com o livro, e não mantinha no coração a simplicidade da fé que segue a voz no coração. Por isto é que os escribas e mestres da lei puderam citar Miquéias para Herodes, mas não tiveram a disposição de caminhar com os magos até Belém.


Assim, fica-se sabendo que Deus fala com quem bem deseja, e, muitas vezes, cega os olhos daqueles que se deixam inebriar pela Letra, e não pela Palavra.

E como se não bastasse, após levar os magos até Jesus, Deus segue falando com eles. Agora já não mais usando a simbolização da “estrela”, mas direto, em sonhos, trazendo a eles a revelação de um novo “caminho” pelo qual deveriam retornar para a sua terra.

As conclusões acerca das implicações dessa história eu deixo por sua conta.

Peço apenas que você não esqueça do que Jesus disse:

“Muitos virão do oriente e do ocidente, e tomarão lugar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, mas vós ficareis de fora”.

Caio


Escrito em 8/12/03