MAMÃE ÁGUIA

 

 

 

 

MAMÃE ÁGUIA

 

 

 

 

 

Os que esperam no Senhor em geral já estão velhos, ou mais velhos que o normal para os jovens; pois, os que são jovens não vivem de esperança, mas de força e poder; daí nunca saberem que a grande força vem da esperança que habita a paciência dos mais velhos.

 

Os velhos renovam-se pelo exercício longo da esperança, que dá a eles mais que esperança, quando tal esperar sempre tiver sido confiança em Deus.

 

Num bom-idoso-bom somente o corpo não é bom; pois o resto, o todo, fica cada vez melhor.

 

Ora, esta é a razão pela qual os que esperam no Senhor renovam suas forças, e sobem com asas como águias, e corem e não se cansam, e caminham e não se fatigam.

 

Sim! Pois tal renovar, subir, voar, correr e caminhar, é fruto de não exercer a força bruta do ser para nada, mas apenas o poder da fraqueza que espera; e, em tal espera, se renova, sobe, voa, corre e anda…— sempre sabendo que não depende de quem quer e nem de quem corre, mas de usar Deus de misericórdia para conosco.  

 

É assim porque a sua força vital é esperança-confiança, o que dá a tais pessoas o poder de se refazer que possuem as águias, que largam de bico a pena para trás…; e se fazem novas na mesma idade de sempre.

 

Já os jovens, de tão desnascidos do sentido de tempo que são, não têm ainda o peso do passado, e tampouco possuem a visão do futuro que se deixa ir medindo pela consciência que se vai tendo do passado; de modo que no mais velho a consciência do futuro existe muito mais do que para o jovem sem passado.

 

Assim, os moços se cansam e se fatigam e os jovens de exaustos caem justamente em razão da juventude e da mocidade.

 

E quando isto acontece?

 

Ora, tão logo encontrem algum tipo de experiência de exaustão ou de dificuldade.

 

Afinal, sem as medidas do tempo, quem sabe o que é esperança? E sem esperança quem pode renovar-se?

 

Daí Isaías 40 ser apenas bem entendido na velhice; ou pela muita experiência, que gera perseverança e que produz esperança; a esperança que já não se confunde.

 

Estou aqui escrevendo e monitorando a diálise de meu pai na UTI. Amanhã é um dia muito importante para ele. Às 10 da manhã fecharão a barriga da águia; farão uma traqueiostomia a nele a fim de facilitar o desmame do entubamento de ar, visando deixá-lo livre de tudo.

 

Mas fui ao banheiro do meu quarto, e de lá ouvi um ruído de mulheres falando, no que parecia uma reunião.

 

Ouvi a voz de minha mãe.

 

Falavam da contabilidade de dinheiro do grupo de mulheres. Prestavam contas umas às outras. E ouvi algumas falas de minha mãe. Os acordos de pensamento sobre a aplicação das coisas.

 

E fiquei pensando…

 

Depois cantaram, oraram, leram o Salmo 139, deram oportunidade para comentários e trocas de experiências, etc.

 

E mamãe lá…

 

E fiquei ouvindo do banheiro…

 

Ninguém aqui respira papai mais do que ela. Ninguém, vezes ninguém. Ele é a vida e a alegria dela. Mas ela tem uma Vida que é maior que a vida dela e a dele. Assim, mesmo que muitas vezes chorando sozinha, ela não pára. Cuida da própria saúde indo aos médicos dela; participa de reuniões; dirige com chuva ou sol, nascimento ou morte, a reunião de todas as terças-feiras aqui em casa; e ainda fica querendo fazer coisas para mim…

 

E eu aqui…

 

Bem mais jovem e bem mais cansado; bem mais moço e bem mais exausto.

 

Então, lembrei também que quando ela tinha a minha idade, tanto ela quanto o papai estavam mais cansados do que estão hoje. Aliás, hoje, eles estão na primavera da alegria quando estão os dois, os três, os todos, sempre.

 

Foi aí que lembrei de mim mesmo; e vi que na minha juventude eu era muito mais exausto para os embates e dores da vida do que sou hoje. Então me animei muito; pois, de fato, o que quero é ficar cada dia mais cheio de esperança; de sorte que a minha velhice também venha a se renovar como a da águia.

 

Especialmente como esse casal de águias. Águia Lacy e Águia Caio.

 

 

Caio [o filho muito mais cansado do que eles pela falta de idade na esperança]

 

25/08/07

Manaus

Am