MANIQUEÍSMO PENTECOSTAL x RACIONALISMO: EXISTE EQUILÍBRIO?

Maniqueísmo pentecostal x racionalismo: existe um lugar de equilíbrio? Amado Caio Fábio, Paz e Graça abundantes sobre a sua vida. Faz dez anos que conheci a Deus e reconheci o Seu senhorio sobre a minha vida. Nestes dez anos, fui muito agraciado por Ele: pelas pessoas que conheci através da experiência da comunhão com os irmãos e pelas obras que Ele implantou e que desenvolveu e ainda continua a desenvolver sobre a minha vida. Muitas destas obras foram muito doloridas, algumas tornaram-se indeléveis no campo de minha memória; afinal Ele é e sempre será oleiro. Outras foram extremamente prazerosas… Contudo, não obstante as dores, dou graças por cada experiência tida em Cristo Jesus, pois tenho experimentado a concretude da sua vontade que é boa, perfeita e agradável. No entanto, hoje encontro-me com meu espírito extremamente abatido e angustiado. Não consigo visualizar a “igreja moderna” como o paradigma de Deus para o seu povo. Sinto-me extremamente constrangido com meu senso crítico que analisa todas as nuances fenomenológicas hoje existente dentro dos templos. Caio, irmão sempre amado, estou cansado de ver as pessoas “buscarem a santificação” num exercício contínuo de renegar a sua natureza humana, a sua condição humana e, conseqüentemente, repelir a concretização plena da Graça de Deus sobre suas vidas. Concomitantemente, estou cansado de constatar que neste processo de “santificação” as pessoas minimizam a responsabilidade pessoal que possuem sobre as escolhas que realizam em suas vidas e, em um processo de escape destas responsabilidades, superestimam a questão do sobrenatural, caindo, infelizmente, num maniqueísmo absurdo, da luta entre o bem e o mal, tornando-nos apenas “peças” de manipulação do diabo ou de Deus. Não que eu não acredite no sobrenatural. Longe disto. Antes de me tornar cristão (bem que acredito que já o era antes, só não havia reconhecido o senhorio de Jesus Cristo sobre a minha vida) eu era espírita e me converti em uma igreja neo-pentecostal. Ou seja, experiências sobrenaturais tive muitas. O fato é que não acredito que estamos à mercê deste joguete maniqueísta. O pior nisto tudo é que esta mentalidade tem se tornado o principal instrumento de manipulação em massa dos cristãos. Resultado: cansado destes paradigmas e manipulações fui em busca de uma igreja mais tradicional e… Entrei num racionalismo puro, “quase ariano”, se não fosse pelos missionários de outras igrejas que ali congregam. Ali as nossas responsabilidades são superestimadas e a misericórdia de Deus, e a sua assistência sobre as nossas vidas são quase que esquecidas. Como e onde encontrar o equilíbrio? Com grande amor e carinho pela tua vida, Nele que é a essência de todo o amor. Léo. ____________________________________________________________________________ Reposta: Léo, querido: Graça e Paz! O equilíbrio é o Evangelho, onde tudo está encarnado, de tal modo, que é na Encarnação, e somente nela, que eu posso saber o que é vida em equilíbrio mental, emocional, social, e em qualquer outra área. Nosso problema é que Jesus acabou por se tornar uma construção doutrinária. Cada grupo constrói o “seu Jesus”, e conforme a sua teologia sistemática, e que é o fruto de suas pré-concepções, e que buscam na Bíblia uma seqüência cada vez maior de versículos afins, posto que a melhor doutrina é aquele que sistematiza o maior número de passagens bíblicas—isto, é claro, posto por mim de maneira hiper-simplificada; mas é assim que é. Jesus ensinou a ser santo como Pai, ou bom como o Pai, ou amante do tipo de amor do Pai—que é Graça para com todos, maus e bons, justos e injustos! Viver o ensino do Evangelho—onde Paulo diz que “a uma” se tem tudo: justificação, santificação, justiça e sabedoria de Deus—nada tem a ver com o que a “igreja”, em geral, ensina. Na maior parte das vezes o que se ensina é que Jesus pagou um preço forense de redenção, conforme o sistema jurídico dos romanos, e, assim, nos libertou da ira de Deus, mas nos salvou para a gente demonstrar que está salvo mediante ações de perfeição. Ora, tal conceito de perfeição muda de grupo para grupo. Os mais protestantes vêm-na como perfeição na doutrina, no saber, e na conduta. Os mais pentecostais se voltam para perfeição como legalismo de usos e costumes, e como manifestação do sobrenatural, e que, nesse caso, é o validador da benção de Deus; se Ele se agrada ou não da vida que diz servi-Lo—prova disso é que a santificação pentecostal é fruto de se agradar a Deus com mortificações de vontade e desejos, até que se “fale em línguas”, como suposta marca definitiva do “batismo com o Espírito Santo”. É a santificação pela consagração da justiça-própria. No primeiro caso gera-se uma fé grega, de doutrinas e sistemas, mas que não gera vida, e nem pacifica o ser. O coração não se satisfaz com nada que não seja vida. Doutrinas, portanto, servem para o “game intelectual”, satisfazem aos que nada querem no intimo, mas apenas na cabeça, e como estrutura de pensamento sistematizado conforme a melhor lógica. O fruto disso é o racionalismo doutrinário, cheio de certas certezas, e arrogante com o “incautos e ignorantes”. No caso da tendência ser pentecostal, o resultado está aí, à nossa volta, e nos cerca de todos os lados; e o fruto desse pensar-sentir é também arrogância, juízo, e uma fé que depende do homem, e que é do homem; sendo que a santificação nesse processo acontece como desistência das “vaidades da aparência”—deixando tudo feio—, e o mergulho na busca de agradar a Deus pelas provas de renuncia de tudo—é o tal do sacrifício, ou da consagração, ou da santificação… Santificação, para esses, se resume a uma palavra: não! Ora, nenhuma dessas coisas realiza o bem da alma, posto que todas elas são esforços humanos, e não há nelas descanso na Graça de Deus. O descanso na Graça, o refúgio, a ancora jogada para além do véu, etc… só acontece quando a pessoa crê, entrega, e descansa em confiança; sem barganhas com Deus, e sem a presunção da auto-santificação; ou da auto-qualquer-coisa… Não sei o quanto que você já leu do site e no site; mas se você entrar de cabeça nos conteúdos deles—e há material aí para muito tempo de reflexão—, sei que isto que hoje lhe parece um problema, logo deixará de ser, posto que, aqui no site, tais conteúdos estão mais que explorados…e serão de grande benéfico para você. Quando Jesus deixa de ser doutrina ou deixa de ser apenas o crucificado que pegou o preço forense de nossa redenção, e passa a ser Deus vivo, em nós; e quando a Palavra deixa de ser objeto de estudo lógico-sistematizante, e é vista apenas como o que ela é, Palavra da Vida; então, surge dentro de nós, sem esforço—exceto o grande esforço de para de ser esforçar, agradando a Deus com justiça própria—, a tendência da vida, o pendor do Espírito, e o provar simples e natural das coisas excelentes. Quem diz que o Verbo se fez carne, também se diz que a Palavra está interpretada nas palavras e nas ações de Jesus. Sendo que são os gestos de Jesus—Seu modo de ser e tratar a todos nesta vida—, aquilo que é o Evangelho em sua interpretação. Não tente explicar Deus! Se Ele manda orar, ore; se Ele manda amar, ame; se Ele manda confiar, confie; se Ele manda que nos submetamos à Sua vontade, façamos isto; se Ele diz que seu mandamento é amor—pelo amor de Deus, não inventemos uma teologia dogmática e nem sistemática! Leia o site e tudo isto ficará claro para você. De fato, tais resposta a esta questão existem em abundancia nos conteúdos deste site. Leia, por favor! Receba meu carinho! Nele, em Quem temos salvação, justificação, santificação e sabedoria, Caio