Papai iria fazer uma “intervenção” hoje de manhã—10/9/03.
Mas por razões de natureza técnica, o médico dele preferiu adiá-la para a próxima sexta-feira.
Hoje cedo tomávamos café juntos, quando a conversa evoluiu para DNA e acabou em sangue. Falei-lhe de um seriado do Dicovery, chamado Rio da Vida, sobre os diversos tipos de sangue na criação.
Fomos ao fundo do mar e voamos com as águias—tudo a cerca de sangue!
A lucidez dele e a cumulação de conhecimentos que se fizeram purificar pela sabedoria e pela graça, torna qualquer assunto com ele um tema acerca “da beleza da santidade” de Deus.
Cada informação nos remetia para uma apreciação que desembocava num rio de graças!
Depois de umas duas horas de conversa chegamos “ao sangue de animais sufocados”—que o concílio de Jerusalém manteve como uma das recomendações que se deveria fazer aos gentios, a fim de que se diminuísse o escândalo da conversão dos pagãos diante da frágil consciência judaica.
–A vida está no sangue. É o sangue que carrega toda a vida que se transforma em tudo. Cada sangue carrega a sua própria vida, como código, e também o espírito da vida, que transcende ao sangue como elemento material. Deus proibiu que se pegasse um animal pelo pescoço e se sufocasse o bichinho. Deus nos permitiu comer a carne do animal, não a vida do animal. Mesmo que o sangue seja apenas sangue, mas vida não é nunca “apenas vida”; nunca! A Palavra estava falando do respeito à vida, não do comer ou não comer sangue—disse ele, à medida em que sua face se ascendia com adoração!
Depois me falou de todo o processo de desenvolvimento de um “corpo” a partir do DNA. Após discorrer sobre cada fase do processo, com todos os milagres implicados, ele me sai com essa pérola:
–Tudo isso, meu filho, acontece num campo onde cada coisinha faz o que faz com perfeição, mas sem nenhuma consciência de si. O DNA não se conhece, as proteínas que lêem o DNA não sabem o que estão fazendo—mas cada coisas vai para o seu próprio lugar. E há quem não consiga ver o Espírito da Vida permeando todas as coisas. Deus está falando sem parar. Cada coisinha é um grito renovado do amor Dele. E no fim de tudo, olhe para o meu rosto; veja: Eu me tornei capaz de dar um sorriso de alegria!
Meu sobrinho entrou falando de um programa na mesma estação sobre a gratidão dos chipanzés. Seria algo que os ligava aos humanos.
Papai disse: Meu filho, referindo-se ao neto, já encontrei até galinhas gratas!
Morremos de rir!
Agora ele está tomando o banho dele.
Depois vai almoçar, vamos bater mais uns papos, ele passar suavemente as mãos sobre o peito cabeludo e o sobre a cabeça branca, eu vou saber que ele está com sono, e vou dizer: Paizinho, durma um pouquinho enquanto eu vou escrever um bocadinho.
Ele me responderá: Vá, meu filho!
Um beijo a todos.
Caio
10/09/2003, ENQUANTO CUIDAVA DE PAPAI EM RAZÃO DE DOIS INFARTOS QUE ELE HAVIA SOFRIDO.