MEU PECADO ESTÁ ME FAZENDO PARAR TUDO…





—–Mensagem original—–
De: MEU PECADO ESTÁ ME FAZENDO PARAR TUDO…
Enviada em: terça-feira, 21 de junho de 2005 21:20
Para: [email protected]
Assunto: Aconselhamento




Pr. Caio,



Sou missionário e esta noite já fui andando pelas estradas no meio do mato orando e clamando com ardor e amargor pelo estado em que me encontro.


Tenho lutado desesperadamente contra a auto-imagem negativa e conseqüentemente a baixo-auto-estima.


Sei que minha infância foi massacrante, mas a minha questão agora é reagir corretamente no presente. Meu pastor, que também é um psicanalista, tem me dado uma ajuda inestimável. Mas a minha luta permanece de forma brutal.


Sei que o que está por trás destes problemas é o orgulho, e é isso que mais me incomoda.


Tenho chorado diante do Senhor, não falando pra Ele que sou um coitadinho, mas rasgando o meu peito, falando dos meus pecados, colocando pra fora meu desespero.


O Senhor Jesus já me livrou de muitos outros pecados e estou certo de que um dia(nem que seja na glória) Ele me livrará. Mas eu não posso continuar no ministério dessa maneira. Preciso de uma mudança urgente para continuar o ministério.


Durante os últimos três anos, tenho batalhado da seguinte maneira: Oro, abro o coração para o Senhor, repreendo o inimigo, insisto comigo mesmo que não sou o que meu inconsciente insiste que eu seja. Mas, até agora, nada!!


Hoje estou decidido deixar o ministério(mesmo que a congregação tem ido bem, apesar de mim). Por dois motivos: 1) posso machucar minhas ovelhas e ao invés de curá-las, feri-las — elas já se sentem inseguras com a minha fraqueza; 2) não consigo prosseguir.


Gostaria de uma palavra de Deus para mim e creio que o Espírito Santo o dará.


Alguns irmãos amigos, que não sabem do meu problema, já disseram em púlpito que as pessoas que têm esse tipo de problemas é porque nunca foram regeneradas. Me sinto confuso, afinal! A salvação é substancial ou total? Sou eu um não crente por ter essa crise?


Grato pela sua atenção,


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Resposta:





Meu amado irmão: Graça e Paz!




Você não disse qual é o seu problema. Porém, dada a gravidade de sua decisão; e considerando o ardor e o amargor de seu clamor; e sobretudo considerando que você teme ferir as ovelhinhas que você ama (as quais já andam aflitas por você, mesmo sem saber de nada); e também considerando sua declaração lacônica e veemente de que não pode prosseguir…— imagino que as declarações de libertações anteriores de pecados em sua vida; e a declaração de que há algo que o faz perguntar a você mesmo se teria havido ou não regeneração em sua vida, ensejam a percepção de que existe em você uma pulsão tão forte, que o leva crer que a manifestação pública dela poderia não apenas acabar com você, como também machucar a muita gente boa.


Além de tudo, você falou de um derramar do seu “inconsciente” que pode até mesmo gerar ações que poderiam vir a ser chamadas de “atos à revelia”.


Ora, diante de um quadro de tamanha subjetividade narrativa, o que o aflige, para mim que estou longe, pode ser qualquer coisa que para você seja insuportável, ou que tem o potencial de ferir pessoas.


Assim, poderíamos estar falando de um pastor que é gay e não tem a coragem de assumir isso; ou poderíamos estar falando de um homem bom, mas que tem uma tara em meninos ou adolescentes; ou poderíamos estar falando de alguém que sente uma terrível atração pelas meninas adolescentes da igreja; ou poderíamos estar falando de um pastor que ama a Deus, mas tem pulsões resultantes de uma infância “massacrante”, a qual, teria deixado nele seqüelas de comportamentos ou impulsos pervertidos… Enfim, podemos estar falando de qualquer dessas coisas, ou, quem sabe, de coisas menos graves, mas que, para você, têm o poder gravitacional de puxar você para debaixo da terra.


O que me fez responder sua carta agora, quando estou voltando exausto de uma pregação de domingo a noite no Caminho da Graça, foi a percepção de que eu estava lidando com um homem sincero, amante de Deus; porém sério demais para não perceber que suas questões interiores podem ter um poder destrutivo no meio da comunidade que é por ele pastoreada.


Ora, sua decisão de preventivamente se afastar do ministério a fim de cuidar de sua alma, me chegou com muito força; e encontrou em mim um coração receptivo e reverente.


Paulo disse a Timóteo: “Cuida de ti mesmo e da doutrina”.


Assim, fica claro que não há doutrina a ser preservada antes da alma do mensageiro da Palavra. O homem sempre precede o ministério. Inverter essa ordem é sempre desastroso para a alma. O Templo e o Sábado sempre existem para servir ao homem; e não o homem a eles. Assim, louvo sua decisão de dar uma parada para cuidar de você mesmo antes de tudo.


Antes de prosseguir, todavia, gostaria de deixar claro para você o seguinte:


Você é de Deus, pois, somente gente de Deus tem as preocupações e a consciência que você tem.


Desse modo, meu amigo, eu lhe digo: mesmo que seu problema seja o mais grave de todos aos seus olhos, ainda assim, ele já era conhecido quando todos os seus dias eram contados no mistério do amor que chamou você à existência.


Portanto, trate-se; mas não transfira isso para sua segurança em Deus; não permitindo que qualquer que seja o seu pecado, erro, contradição, idiossincrasia, tara, whatever…— venha a tirar a confiança no amor de Deus em seu coração.


Quando Paulo disse que “nada pode nos separar do amor de Deus”, ele queria dizer EXATAMENTE o que disse; ou seja: que NADA pode nos separar do amor de Deus!


Nessa hora o ‘ministério’ vira um mosquitinho diante da importância de sua alma!


No entanto, saiba que a salvação é total; e já está feita. Ora, somente perdidos e impotentes sabem que precisam de salvação; posto que somente perdidos são acháveis. Desse modo, saiba que sua situação deve afastá-lo de trabalhos ‘ministeriais’ até você estar se sentindo bem; porém, isso nada tem a ver com sua segurança no Senhor; e sua total garantia de salvação em Cristo.


Ora, é justamente porque você já está salvo é que você pode ir crescendo no benefício da salvação. É em razão de já estar salvo é que eu vou sendo salvo.


No contexto dos evangelhos salvar é curar. Assim, a ‘doença’ já foi curada na Cruz a fim de que o ‘doente’ possa ir ficando curado; posto que ele sofre muito mais por aquilo que já está no passado, e que já está perdoado antes dele mesmo existir. Sim, na Cruz já se está livre de qualquer coisa que no presente ainda nos perturba como algo que tivesse o poder de afastar-nos de Deus.


Desse modo, somente quando você crer que sua doença já está tratada como perdão na Cruz (onde Ele levou sobre si o castigo de nossas iniqüidades e doenças do ser), é que você poderá crescer na pacificação de seu ser em relação ao que hoje o aflige.


Este é o paradoxo do Evangelho: somente os salvos podem crescer para experimentar a salvação como benefício no dia a dia.


No entanto, muita gente crê numa salvação que não salva, visto que é circunstancial ou condicional; sempre dependendo do salvo a sua própria salvação; o que faz com que a salvação conforme a religião seja sempre auto-salvação, de um modo ou de outro; pois mesmo que não seja isso que se declare, é assim que as pessoas em geral são ensinadas a se sentirem na religião.


Então, a fim de fazer qualquer que seja o progresso, primeiro você tem que se saber um salvo irremediavelmente salvo. Entendeu? Sim, você está perdidamente salvo; incuravelmente salvo; incondicionalmente salvo; eternamente salvo!


Agora quero falar da palavra “orgulho”, e que apareceu meio solta no contexto da carta. Porém, considerando que o que segue é angustia por um “pecado” que você não consegue controlar, mas que espera ser livre dele nem que seja na “gloria”; então, me sinto induzido a pensar que talvez o tal orgulho seja medo de ser descoberto vivendo algo que, para você, é trágico, bizarro, perigoso, incoerente, e chocante.


Pode ser que eu esteja enganado nessa “ilação”. No entanto, foi a única relação que encontrei entre “pecado” (com conotações sociais, e de periculosidade comunitária) e orgulho; a menos que você estivesse fazendo uma confissão de orgulho como pecado; todavia, eu não consigo ver a relação entre isto, é a tal periculosidade comunitária que seu “pecado” pode produzir no que se relaciona a um eventual pecado de orgulho pessoal que possa existir em sua alma.


Ora, se seu orgulho é o de não ser descoberto como alguém “estranho e perigoso” (do ponto de vista da comunidade), então, minhas sugestões a você são as seguintes:


1. Orgulho é a vaidade de se fazer passar por alguém importante e superior. Se sua angustia é ser destituído dessa superioridade moral e psicológica, saiba que isso será justamente a sua salvação. Ou seja: pior do que o que quer que seja seu “pecado” é a ‘importância’ que você dá a não ser visto como alguém em quem tal idiossincrasia pode estar presente. No entanto, esse orgulho não precisa ser curado “publicamente”, pois, o lugar de sua cura é o silencio verdadeiro de seu coração; e, sobretudo, a confissão simples, e que se faça acompanhar de confiança humilde no amor de Deus por você.



2. Portanto, seja qual for a situação, já que você tem um pastor amigo e humano, então, sugiro que você faça tudo apenas com ele, sem levar o assunto a mais ninguém. Você não só tem o direito à privacidade, como também tem a necessidade de manter isto em sua própria privacidade, acompanhada apenas por um ou dois; visto que levar esse assunto (seja ele qual for) para os demais, não só é desnecessário, como também é desejável que não seja assim, especialmente porque os níveis de maturidade numa igreja são muito variados, não valendo a penas envolver gente que não tem como ajudar; mas tem muito com que se angustiar ou grilar.



Ora, com isso não estou dizendo que você está desqualificado para o ‘ministério’, mas sim que só vale a pena haver ministério se a gente antes tiver sido beneficiado pelo ministério do Espírito como benefício e cura em nossos corações. Assim, esse ‘sabatico’ que você precisa ter, será parte da terapia do Evangelho em sua vida; o qual, freqüentemente separa o ‘sábado’ para ser dia de cura. Portanto, tire esse sabatico de descanso e terapia; e nele deixe-se curar pela Graça.


Ministério deve sempre ser uma mera extensão de nosso ser. Por isso, cuide de si mesmo e o ministério o seguirá.


Acalme seu coração! O tempo bom de sua vida está para começar!


O salmo diz: “Na Tua Luz vemos a luz”. É sempre assim: é de dentro da Graça que se encontra graça; e é de dentro da Salvação que se é salvo. Ou seja: é porque em Jesus isso tudo já é, é que pode vir a ser em benefício para nós!


Ficarei aguardando seu retorno. E pode fazê-lo com toda liberdade e clareza.



Receba meu carinho e minha reverencia pela sua alma!




Nele, em Quem ninguém se perde quando o ama,




Caio