MEU TESTAMENTO!
À vocês, que amo, deixo o baú de minhas esperanças. Vivi muitas vidas até aqui. E é de cada uma dessas vidas que lhes deixo herança. De minha infância e de suas riquezas, deixo-lhes um legado de fantasia e imaginação. Não deixem que as responsabilidades do mundo chamado adulto aleije ou mate esses ambientes infinitos. Sem fantasia e imaginação sobra apenas a aridez das lógicas que só enxergam o que parece ser, e que nada produzem para a eternidade, pois, na eternidade, tem-se, também, o que o coração concebe em imaginação e fantasia. Com as riquezas da fantasia e da imaginação infantil, vocês poderão visitar os mais fascinantes mundos disponíveis a qualquer um, e os mais profundos de todos: os universos do coração. De minha adolescência, deixo-lhes minhas angústias satisfeitas e minhas insatisfações felizes. E com elas deixo-lhes a certeza de que prazeres existem, mas podem embriagar e anestesiar a alma, se forem em excesso. E quando isto acontece, somos forçados à satisfação, e é aí que nos tornamos escravos daquilo que deveria ser deleite. Portanto, vivam e gostem de viver. Mas não deixem que a tirania da satisfação escravize suas almas à dor da busca de prazeres que jamais dizem “basta”, e nunca deixam de insistir em que a próxima experiência será a final. Desse modo, lhes digo: comprimindo-se na vida mais emoção que ela suporta, pensa-se que se viveu, mas um dia o coração reclamará a chance de viver tudo outra vez, só que com desespero de já não poder fazê-lo em paz, pois nada substitui um dia após o outro. Mesmo os dias mais escuros, se vividos por inteiro, trazem ao fim sua própria luz. De minha idade adulta e produtiva, quero apenas estimular-lhes ao seguinte: Se sonharem, levantem para realizar o sonho. Se tiverem fortes emoções, transformem-nas em energia produtiva. Se virem o necessitado, se compadeçam dele e o ajudem. Se crerem em algo, lutem por sua realização. Se estiverem tristes, chorem. Quando alegres, não escondam isto de ninguém. Se tiverem raiva, a expressem. Nunca guardem amargura no coração. Não temam as crises. Elas são mais salvadoras que destruidoras. Só depende de vocês. Reverenciem o tempo e amem a eternidade. É lá que todos as lições se processam. E não esqueçam: oração e prece são meios mais efetivos para alguém ser bem sucedido, que correrias e atropelos, e também não esqueçam que há muitas formas de ser bom. Por isto, há ninguém julguem! Respeitem as necessidades do coração. Portanto, busquem alegrias que cheguem ao espírito, e dêem a seus corpos apenas as sensações que os tornem gratos e satisfeitos, por isto, não exagerem. E não esqueçam que prazer não é sinônimo de felicidade e que felicidade não é um bem duradouro. Portanto, busquem Alegria, ou melhor, não a resistam, pois ela sempre aparece. Mas de tudo que posso deixar a meus amigos, deixo-lhes uma herança viva: meus filhos. Eles são, sem dúvida, as mais importantes obras de minha vida! Ah!, meus filhos! Deixo-lhes a certeza de meu amor em qualquer lugar em que eu exista no universo. Saibam disso e creiam que não importa o que aconteça, vocês sempre terão pai. Aos demais, deixo um único legado, que é a esperança de que algum dia, em algum lugar, cada um experimentará a alegria de estar vivo e de ser quem é. Aqui também me despeço, mas não me des-peço, pois tudo que lhes peço, lhes peço, e desses pedidos, não me des-peço. Peço para ficar, mesmo indo. E peço para voltar, mesmo que não volte. Peço que não me digam Adeus, apenas me desejem a Deus. Volto quando o caminho de ida se tornar caminho de volta. Não antes. E todos os caminhos voltam, só não percebemos porque o caminho de volta, mesmo sendo o mesmo, é sempre outro aos nossos olhos. E sei que, como existimos, nos encontraremos outra vez! Este universo é grande demais para que se não busque conhecê-lo, e pequeno demais para que nele eu me perca de vocês. O amor sabe o caminho. Extraído do Livro Nephilim, de Caio Fábio, ESCRITO EM 1998