—– Original Message —–
From: MINHA FAMÍLIA ESTÁ MORRENDO…
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Sent: Thursday, February 24, 2005 10:02 AM
Subject: Meu marido me acusa… tenho asco dele…
Oi Pastor Caio!
Eu estou passando um momento de crise muito grande. Minha filha de 14 anos tem passado por crises de depressão que vêm se intensificando há mais ou menos dois anos.
Ela já tomou anti-depressivo, mas o remédio causou efeitos colaterais e ela teve que parar.
Tem sido muito difícil pra mim conviver com ela e tentar ajudá-la; e meu marido não ajuda em nada, só diz que falta disciplina, que ela devia lavar a louça, que ele já passou por todos os problemas dela e agüentou firme, etc…
Por fim, ontem ele me disse que ela não tem nada físico, mas sim que “algo” aconteceu, e que minha reação e a reação dela “criaram” esta situação em que ela está hoje. Em outras palavras: a culpa é minha!
Isso me deixou tão revoltada. Toda vez que lembro disso me dá vontade de chorar.
Agora em janeiro meu marido me disse que estava muito infeliz, pensando em se matar; disse que ele não é respeitado em casa, e que eu é que sou o chefe da casa. Isso porque ele quer que eu faça tudo que ele quer, principalmente em relação à nossa filha. Mas eu não posso agir contra a consciência e o bom senso.
Ele pensou até em se jogar da janela, mas pensou que se fizesse isso eu e minha filha ficaríamos numa situação difícil, pois eu tenho um emprego, mas ganho muito pouco e o seguro não dá o prêmio se a pessoa se mata.
Eu o convenci a falar com um pastor, que é um que você me disse uma vez que conhece. Ele já foi falar com ele umas 4 vezes.
Ele disse que está infeliz e que pensa em se separar. Disse que o sexo comigo é muito ruim, que só foi bom durante 1 ano em 15 anos de casamento.
Esse ano aí que ele citou foi um tempo de experiência sexual diferente que tivemos, uma tentativa de viver um relacionamento D/s; você sabe o que é isso? Ele mandava e eu obedecia, em todas as áreas. Isso era sexualmente excitante para mim, mas depois que comecei a trabalhar, não consegui manter aquela submissão toda, por questão de sobrevivência.
Eu também acho que o sexo é ruim, porque meu marido beija muito mal e é muito sem jeito; quer partir logo para os finalmente e não tem criatividade; e exige sexo oral, o que não seria um problema se não fosse obrigação de fazer, o que gera em mim uma repulsa muito grande… Até choro quando acontece… e ele fica ofendido. É uma droga.
Fico numa situação…
Ele perguntou se aceito fazer terapia de casal e eu disse que sim, embora minha vontade fosse mostrar-lhe o caminho da rua.
Nós não somos ricos, mas temos um bom padrão de vida, e ele disse que continuaria a pagar tudo, etc…, mas eu não confio muito nisso; sabe como é … no dia que ele arranjar uma mulher, isso tudo pode mudar.
Meu salário é muito baixo e não posso procurar uma coisa em empresa particular, porque sempre tenho que sair cedo pra levar minha filha ao médico, psicólogo, etc… e meu emprego é seguro. Se estivesse em uma empresa particular já estaria na rua a muito tempo.
Enfim, queria saber sua opinião. Meu marido é mesmo um canalha egoísta, ou isso é um problema do sexo masculino, de achar que tudo é frescura,… etc?
Até que ponto vai a submissão da esposa?
Será a crise dos 40? Ele vai fazer 40 em agosto…
Você que já teve experiência com depressão, acha que minha filha tem chance de se curar só com terapia?
O psiquiatra disse que minha filha tem distimia, que em crianças e adolescentes cria uma irritação exagerada… E é como ela se sente… tudo a irrita numa proporção muito grande.
Ela já trocou de colégio, perdeu todos os amigos, tem dificuldades de arranjar amigos na nova escola; e tudo é motivo para cair muito, não come, não toma banho…
Estou muito triste, por favor ore por mim e se puder, me dê uma palavra.
Beijos grandes e abraço apertado,
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Resposta:
Minha querida amiga: Graça e Paz!
Caetano Veloso disse que “de perto ninguém é normal”. E é verdade. Digo isto porque se se for minucioso em qualquer história, tem-se que dizer que todos os envolvidos, por uma razão ou outra, precisam de terapia.
Vamos pensar em sua carta em partes: 1o Seu casamento. 2o Sua filha, que também é vitima do que está acontecendo. 3o Sua possível separação, e as suas razões para não fazê-lo…
Seu casamento parece nunca ter sido bom, mesmo quando era excitante fazer o D/s; ou seja: brincar de dominador e submissa, sexualmente. Digo isto porque nenhum casamento sadio depende de um jogo tipo D/s para se manter. Se é dependente de algo a fim de se manter, já não existe com realidade. Casamentos sadios só dependem de amor, respeito e confiança. Quando uma relação depende de um jogo sexual, saiba: em si essa relação já adoecida.
Todos vocês precisam de terapia: você, seu marido, e sua filha também. No entanto, tal ajuda não deve ser buscada apenas para tentar manter vocês casados, pois, de fato, não estou certo de que isto será sadio—digo isto apenas baseado em sua carta. A terapia pode ser útil a vocês independentemente de “soluções conjugais”, posto que em qualquer situação vocês precisarão de ajuda psicológica e emocional.
Portanto, não fuja de nenhuma terapia, e dê a você e a ele a chance de tentarem. No entanto, evite um terapeuta ou conselheiro que tenha “fixação” na manutenção do casamento como solução, pois, muitas vezes, a solução para um casamento disfuncional e psicologicamente desastroso, é a separação. Por essa razão, deve ser um terapeuta que busque a saúde, não a manutenção da doença; e que não se veja na obrigação de salvar um casamento que só vale a pena ser “salvo” se trouxer salvação como saúde e cura para a relação. Do contrário, é doença.
O fato de seu marido estar deprimido e falando em se matar, também mostra duas coisas: a 1a é que ele está deprimido; a 2a é que ele manipula muito, pois, ninguém que queira se matar, avisa; e, quando o faz, é porque deseja barganhar com os que estão à volta; tipo: “Ou vocês de enquadram, e ficam conforme minha imagem e semelhança, e se submetem em tudo a mim, ou eu me mato…” Ora, tal suicídio avisado é pura manipulação, mesmo quando acontece.
E quando ele diz que não se mata para não deixar vocês numa situação difícil, não creia; pois, quem deseja se suicidar mesmo, não tem tais reflexões; e, se as tem, e só faz considerações acerca da vida em razão da morte, prova que de fato tanto não dá valor ao que tem, como ainda “joga” com o que tem a fim de tentar tirar proveito mediante uma ameaça de suicídio.
Seu marido precisa de ajuda médica para ele mesmo e por ele mesmo. Enquanto para ele essa for uma questão conjugal, nenhum proveito haverá, pois, a situação de vocês só é coletiva porque dois dos membros da família estão em grande agonia e em crise pessoal, e, no meio disso, há uma menina em sofrimento.
Em resumo: seu marido, sua filha e você precisam de terapia, em razão de que tanto individualmente quanto em família vocês adoeceram de alma… e o conjunto familiar mergulhou em profunda disfuncionalidade, a qual, o estado de alma de sua filha bem denuncia.
Sobre a destimia de sua filha, devo dizer que ninguém tem todos esses sintomas e todos traços de personalidade definidos pelo diagnóstico de distimia. Muitos distímicos se esforçam para vencer as dificuldades de relacionamento e serem mais sociáveis. Na verdade eles são injustiçados porque seu comportamento é causado por uma doença, mas as pessoas não sabem disso.
Uma das diferenças entre a distimia e a depressão, é que esta vem em fases mais ou menos fortes e bem delimitadas. A distimia, no entanto, é um estado depressivo crônico que costuma aparecer já na adolescência ou mesmo na infância.
Muitas vezes o termo “distimia” substituiu outros como “Neurose Depressiva”, “Depressão Neurótica”, “Neurastenia”, “Melancolia”, “Transtorno Depressivo de Personalidade”… etc.
Qual é a “fama” da pessoa Distímica? :
A pessoa com Distimia passa a vida sendo considerada pelos outros como sendo baixo astral, melancólica, que vê tudo pelo lado negativo. Muitas vezes são pessoas que na infância e na adolescência eram melancólicas, “profundas”, ou griladas.
Às vezes são pessoas perfeccionistas e que não tem muita tolerância para as imperfeições dos outros.
Além disso, em geral, a auto-estima de tais pessoas é baixa, e sua autocrítica alta.
Evitam festas, pois tem dificuldade para confraternizarem.
O desenvolvimento profissional pode ser prejudicado pelas dificuldades de relacionamento com colegas.
A conseqüência lógica é que essas pessoas, graças ao seu comportamento, acabam recebendo estímulos negativos no trabalho, nas atividades sociais, nos namoros, e, por essas razões, a pessoa fecha-se ainda muito mais para a vida.
Isso faz com que sua visão negativa do mundo fique cada vez mais reforçada.
Distimia atrai isolamento social, rejeição, isolamento, falta de convites, desculpas para recusar convites, etc.
Com o passar dos anos, os parentes e amigos acham que se trata de uma pessoa “multi-queixosa”.
É certo que quanto mais cedo a distimia começar na vida (costuma aparecer na infância e adolescência), mais irá prejudicar os relacionamentos dessa pessoa.
A distimia pode se fazer associar a outras coisas, como ataques de síndrome do pânico; fases de depressão mais fortes do que a distimia habitual, na forma de uma depressão dupla. Geralmente o tratamento dessa Depressão muda o humor do paciente para um nível muito melhor do que o humor distímico anterior. Também podem surgir sintomas obsessivo-compulsivos. Ale’m disso o distímico é bastante susceptível à sazonalidades; isto é: piora quando o cinza domina a paisagem.
Quando a Distimia for tratada, provavelmente as demais coisas haverão de melhorar como conseqüência.
Existem muitos fatores que contribuem para o aparecimento da Distimia, mas nenhum é causa única do seu desenvolvimento. Ela é causada por um conjunto de fatores, como Relações familiares complicadas na infância; pais abusivos, agressivos, e distímicos. A probabilidade aumenta em famílias que tenham mais membros que sofram de depressão, pânico ou outras patologias ligadas a distúrbios de metabolismo de Serotonina. Aparecem igualmente em famílias com mais incidência de Distúrbios de Personalidade, Abusos de Álcool, Tranqüilizantes e/ou Drogas.
A distimia pode ocorrer desde a infância, porém o início é mais freqüente na adolescência. Para cada homem existem cerca de 3 mulheres com distimia.
O tratamento existe e deve ser buscado. Distímicos não gostam de remédios, mas o tratamento com antidepressivos traz grandes mudanças na vida da pessoa, de seus amigos e familiares. Mesmo que em estado de Distimia, a Psicoterapia, provavelmente seja muito útil. Mas sem medicação quase nunca se obtém melhora significativa.
Tratar uma Distimia apenas com Psicoterapia é completamente obsoleto. Ela será muito frustrante para o paciente e desgastante para o psicoterapeuta. Por mais que o paciente elabore os problemas de sua vida, causados por ou causadores da Distimia, sem a correção do distúrbio químico não há melhora.
O objetivo da psicoterapia nesse caso é justamente ajudar ao paciente a mudar os hábitos que se formaram dentro do contexto de baixa auto-estima e grande autocrítica.
A medicação melhora o humor, o nível de energia e as demais associações do distímico com outras formas de distúrbios—conforme expus acima—, mas não muda os hábitos da pessoa. Daí a psicoterapia ser útil, se se fizer acompanhar por tratamento antidepressivo.
Ora, por tudo o que lhe disse, deve ter ficado mais ou menos claro que sua filha não só é distímica, como também pode ter um pai que sofre do mesmo mal. No entanto, existe uma cultura distímica em sua família, e, por sua filha ser distímica ainda sofre muito mais.
Portanto, sua filha precisa de medico, medicação e tratamento. E mais: esse tratamento precisa ser contínuo, não podendo haver negligencia quanto à medicação a ser tomada com regularidade.
Agora falemos de você. Bem, você disse que no passado teve um ano de sexo bom com seu marido, mas isto dependia de um “game” chamado D/s, no qual você era “s”, de submissa; e ele era “D”, de dominador. E disse que nesse tempo você ficava excitada… No entanto, em razão do trabalho você não teve mais o gás necessário para o “game”, e, com isso, a alegria sexual acabou. Além disso você disse que seu marido é “ruim de chinfra”. Beija mal, é apressado, atabalhoado, e não tem prazer em degustar o que prova. Você também disse que só não se separa dele por razões de natureza financeira, assim como ele também diz que não se mata por questões financeiras.
Ora, a falta de dinheiro parece ser a desculpa para vocês ficarem onde estão: ele não se mata; você não vive; e sua filha vai morrendo…
Sua família se tornou um caldo de doenças múltiplas e que afetam a todos vocês, sendo também retro-alimentadas por vocês.
Em nenhum momento li a palavra “amor” em sua carta. Sim, trata-se de uma carta sem amor, exceto o seu pela sua filha… o qual é depreendido… mas não é citado…
Se eu tivesse que mostrar sua família com um cenário, saiba, esse seria um cenário gelado e lunar. Não me admira que sua filha esteja morrendo de agonia, pois, ela mais do que ninguém é o pára-raio dessa história toda…
Quanto à sua separação, tenho a dizer que a razão pela qual ela ainda não aconteceu é mórbidas: o dinheiro… enquanto vocês todos morrem…
Você disse que não se separa porque teme que entre uma mulher na história e você e sua filha fiquem sem a devida proteção financeira; e como vocês “vivem bem”, você teme perder os confortos do dinheiro.
Ora, o que você tem que saber é que esse “viver bem” está sendo a morte. Ficar como vocês estão, será catastrófico em alguns anos… se tanto.
Portanto, vá ao terapeuta e faça o que você tiver que fazer para dar uma chance a vocês. No entanto, saiba: sem amor entre você e ele… nenhuma terapia lhes aproveitará.
Não havendo amor é melhor separar. E as razões não faltam. 1o porque não é justo manter-se num casamento sem amor; 2o porque vocês estão adoecendo de alma nesse processo; 3o porque sua filha está morrendo de angustia… e o quadro familiar apenas aumenta a aflição dela.
No caso de se separar, não precisa temer. Procure um bom advogado e se divorcie com todas as formalidades da lei, pois, desse modo, ele sempre terá que assumir responsabilidades para com você e a sua filha.
O que vocês não podem é continuar nesse estado, pois, nele não há vida possível. Sim, o ambiente de sua casa é hostil à vida psicológica saudável.
Ora, isto não significa que vocês sejam irrecuperáveis, mas sim que o “conjunto” adoeceu; e, provavelmente, juntos, vocês não possam se ajudar.
Mas isto, digo eu de longe… e sem a possibilidade de ouvir todos os lados. Portanto, procure a terapia.
No mais, leia o site todos os dias, e medite no que aqui é dito. Eu sei que se você fizer isto haverá contribuições que lhe serão valiosas em qualquer que seja a situação que você esteja enfrentando. E se precisar me escreva outra vez.
Receba meu carinho e minhas orações por vocês, sobretudo para que dêem mais valor à vida do que à existência.
Um beijo carinhoso!
Nele, em Quem ninguém tem que ficar no buraco por causa da Lei, nem mesmo por causa da Lei do Sábado,
Caio