Minha mulher tenta se suicidar!

—–Original Message—– From: C. J. Sent: sábado, 12 de julho de 2003 20:09 To: [email protected] Subject: Você me pastoreia… Mensagem: Querido Pr .Caio, Por incrível que pareça, hoje lhe chamei de pastor no real sentido da palavra. É que nos últimos meses seus textos, livros e mensagens têm sido de grande valia para mim. Acabei de ler a carta “salvando a certidão e perdendo a alma”. É incrível como a sua intenção de escrever uma resposta generalizada para a situação de um irmão, foi bem objetiva e chegando às vias de fato para minha alma e situação. Tenho 30 anos e sou casado há dez anos. Sou brasileiro e mudei para Portugal. Minha mulher é portuguesa. Todo esse tempo…e o passado no namoro, tive muitas dificuldades de ser eu mesmo, por isso me anulei por quase completo, esquecendo assim meus sonhos, desejos, talentos, “chamado”, rachas de futebol e basquete; conversa fiada com os amigos…entre outras coisas mais. Chegou o tempo que a panela de pressão começou a chiar naquele barulhinho pré-explosão, e poooou! Saí de casa, mas logo retornei “a pedidos” de um conselheiro evangélico. Conversamos, eu e ela, e ficou acordado que as coisas iam mudar: ela seria mais mulher, mãe, amiga, companheira, sem pressões, com “rachinhas” e tudo mais. Porém não demorou muito tempo (2 meses) e a panela de pressão dela: pooooou!. E agora tô aqui no trabalho pensando no que fazer, propor a separação, esperá-la propor pra se ter orgulho de dizer: foi você quem quis? Orar? Esperar? Ela tá grávida e temos um filho de 7 anos. Como vou sair duma relação deixando uma mulher grávida? Ela ficará sozinha…e pior: a “ficha” dela é marcada por depressão pós-parto…depressão fortíssima chegando a tentativas de suicídio. Sabe pastor, eu estou num impasse muito grande, eu tenho muito carinho por ela, sei que ela vai sofrer muito, tenho medo dela querer fazer besteira de novo, ou com o nenê, ou com o nosso filho de 7 anos. Em adição a isso, há a minha vida… minhas feridas, minhas dores, meu medo dela, do seu temperamento forte. Ela pode ser pavorosa! Nela eu vejo meu pai, eu tinha muito medo dele, não falava com ele, ele era muito grosseiro, me colocou pra fora de casa quando eu era ainda muito jovem. Pastor, eu sou da paz, não gosto de confusão, brigas, grosserias, isso me deixa nervoso… Eu dou um boi, dou uma boiada e tudo o que tiver pra não entrar numa briga. Em contra partida, admito que sou da guerra das ironias, dos descasos, das desorganizações em casa, dos esquecimentos de coisas importantes. Mas quero viver em paz. Graças a Deus não tô mais levando em consideração a opinião dos “crentes”: alguns simplistas, outros fariseus! Quero andar conforme a justiça do evangelho da graça e da paz. De uma coisa estou certo: preciso da Graça, para apaziguar minhas ansiedades do coração, para me transformar a cada dia, para encarar uma possível mudança radical de vida e de dedo anelar esquerdo. Agradeço muito a Deus pela sua vida. Meu pastor, suas mensagens aqui neste site têm sido como uma grande porta virtual que Deus abriu para mim. Tem aberto uma porta para mim e para uma infindade de ovelhas sem pastor, como eu… Estou aprendendo um caminho de vida e paz. Eu amo você! Nele, e em Sua Graça, C. J. De Portugal *************************************************** Resposta: Querido C. J. Como vai nossa querida Lisboa? Que saudade de Sintra e do cais do porto! Sobre sua cartinha, eis o que resumida e carinhosamente penso: Sei e sinto o que você fala. Já morei nesse barraco e conheço suas agonias. Cometi alguns erros na condução do meu processo pessoal. A tribulação é que produz experiência! E não significa que já sei tudo…longe mim tal coisa…posso errar sempre…não quero, mas não há vacina na Terra para os equívocos humanos. Mas há Graça de Deus para eles. Nisto eu confio de todo o coração! Estando na sua pele e assumindo apenas o que você me disse—dando como certa a sua impossibilidade de continuar—, eu lhe diria o seguinte: Leia a minha resposta em Cartas, aqui no site, e o que eu disse para aquele irmão (o “D”, em resposta ao desabafo dele: Pastor, não agüento mais meu casamento); sim! digo a você e a qualquer um, especialmente a mim mesmo, a mesma coisa. Como disse lá, aprendi com os cenários—de outros e os meus próprios—, e penso que não foi vão o sofrimento e nem a auto-analise dele decorrente. Vá lá e leia com calma…o mesmo digo aos que estão lendo minha resposta a sua carta aqui no site. (Apenas você, eu e Deus sabemos que ninguém tem como saber que você é você!) O que lhe direi a seguir tem que ter aquelas outras coisas como “contexto”, certo? 1. Esperaria o neném nascer. Ficaria como irmão e amigo—a gravidez ajuda esse estado fraterno, pois rola menos coisa de homem e mulher. Talvez, eu ficasse bem mais tempo…esperando para ver como as coisas se arrumavam. Nem tampouco me precipitaria em nenhuma de-cisão. A precipitação é freud. Freqüentemente a gente se arrepende do que faz na hora do aperto. Portanto, calma, muita calma nessa hora. 2. Me organizaria e…não havendo “cura” para o vinculo conjugal…faria uma saída digna: tudo arrumado, dinheiro garantido, filhos protegidos, e criaria uma “grupo de apoio” para ela—que não pode ser maior do que uma ou duas pessoas…isso na fase final…antes de sair…e também para garantir que ela teria mãos para segurar nessa “travessia” pelo Tejo da agonia e da insegurança! 3. Trataria ela como ministério no caso de você não conseguir honestamente reverter o quadro. 4. E quando saísse, se for o caso de sair, já teria tudo pronto…sem discussões e sem vaguear pelas ruas. Nessa hora de angustia geralmente vem à tona o pior de nós…e a gente acaba fazendo muita bobagem. Depois sofre dobradamente as conseqüências. 5. E não envolveria “igreja” nenhuma no processo…jamais…só torna tudo um Inferno. Pediria ajuda a irmãos—extra-oficialmente—, que fossem de fato cheios de misericórdia e graça; e que estivessem interessados nas vidas humanas, e não apenas na “imagem” da “igreja”. Acho difícil a coisa andar noutra direção, tendo ela o perfil descrito por você. Mas, só você pode dizer isto…especialmente se for honesto…e não estiver usando de nenhuma dissimulação e auto-engano para justificar a sua saída. Muito cuidado com o coração: ele é muito enganoso. Daí eu insistir: leia o texto em Cartas, já mencionado acima. O que poderia salvar vocês seria o amor…não a sua pena e nem a sua compaixão. Sem amor de homem e mulher não há casamento. Há confraria, comunhão eclesiástica, sociedade, fraternidade, clube familiar—, mas não há casamento! Esse negócio de “suicídio” é um inferno. Toda hora vejo alguém falando disso. A pessoa que está sendo objeto da “chantagem”—e na maioria das vezes é inconsciente por parte de quem a pratica—, quase morre de culpa…ficando…ficando…sempre na chantagem… Mas quem quer se matar, não tenta…quem tenta, quer fazer chantagem…e se alguém consegue…só é culpa sua se você estiver induzindo a pessoa a tal. Do contrário, as tentativas de suicídio são o caminho mais rápido para o adoecimento total da relação e o fim dela, pois, tal amor “caiu doente”. Nesse caso, às vezes, em havendo amor, até um afastamento ajuda os dois a se reencontrarem. Quem fica casado apenas por que o outro se mataria? Pode até ficar em casa, mas não fica casado. Fica apenas “casado”, morando na mesma casa. Faça a sua parte com dignidade cristã: seja amigo, irmão e o melhor pai do mundo…mas não fique por pena e nem por chantagem. Não faria bem a ninguém com o passar do tempo. Além do quê…tal estada…apenas gera amarguras recíprocas…mas nunca produz cura e vida. Se teu braço, perna, olho, etc…fizerem você morrer…melhor é “cortá-los” do que perder tudo. Mas eu repito: leia o que recomendei já por duas vezes…a fim de que você não se equivoque quanto ao meu conselho. Há dois momentos em que a separação dói menos: 1. Quando os filhos são pequenos…pois dá para levar sem traumas…o que nem sempre acontece na adolescência.. 2. Quando os filhos já estão quase adultos ou adultos. Porém, entre os males, eu diria que o menor é quando os filhos ainda são pequenos. Isto porque no caso de você e dela poderem prosseguir com a vida, as crianças poderão aprender o valor de novos vínculos. Ficar assim, como está, e sem mudança, só vai fazer mais mal. Mas veja: você não pode ser leviano e pensar que é simples e fácil. Há sempre conseqüências. Você também tem que ver qual a causa dessa depressão dela…depressão pós-parto, muitas vezes, revela o descontentamento da mulher não só com a maternidade, mas também com o casamento. Portanto, busque também ajuda médico-psicológica para ela…e para você também. Não tenha medo de verificar seu próprio coração… Até onde posso sentir de longe, “ela” cumpre um papel traumático para você também. Mas se não der mesmo, e você for se separar, não se separe por cause de um outro “alguém”. Não entre em nenhuma furada. Até para poder recomeçar a vida, é bom não fazê-lo surfando em duas pranchas. A gente acaba caindo das duas… É melhor decidir por si mesmo do que fazê-lo pressionado pelas circunstancias. Na agonia das circunstancias e suas opressões, a gente faz muita bobagem. Só atrapalha tudo. Ore, meu amado. Ponha nas mãos de Deus e confie. E lembre: bem-aventurado é todo aquele que não se condena naquilo que aprova. E mais: tudo o que não provêm de fé, é pecado! Ele, todavia, cuida dos que lhe pertencem. O importante é a sinceridade: sine-cera! Deus vê sine-cera. Ele vê o coração! Um beijo, Caio