Recebi este e-mail e achei importante!
Ao final farei alguns comentários.
Caio
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Prezados/as amigos/as,
Participei do Seminário Aids e Religião, nos dias 06 e 07 de julho, promovido pelo Ministério da Saúde, em Brasilia-DF. Um amplo painel reunindo 160 militantes, religiosos e especialistas do Governo Federal ligados a Comissão Nacional de DST e Aids, no Brasil. Foram quatro mesas de apresentações e debates entre os participantes.
10:45 – Dia 06 – das 10 as 12:00 Painelistas:
Yury del Carmen Puelli Orozco
Católicas Pelo Direito de Decidir
Jose Marmo da Silva
Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
Gedeon Freire de Alencar
Igreja Evangélica
Maria das Dores Campos Machado
Instituto de Estudos da Religião
Rosane Kaigang
Matriz Indígena
Relatores:
Thania Regina Fernandes Arruda
Comissão Nacional de DST e Aids
Marcos Benedetti
Programa Nacional de DST e Aids
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Colei esta parte da programação apenas para vocês verem onde estava “metido” como representante evangélico. O seminário com 160 pessoas, tinha diversos outros evangélicos, líderes de ongs de apoio a portadores hiv/aids (infantil e adultos), militantes católicos, espíritas, mas o predominante foram líderes de religião afro e militantes homossexuais.
De verdade, pensei que meu embate seria com o representante da Rede Afro em minha mesa, e, como os lugares eram marcados, ficamos em todas as sessões lado ao lado, mas tivemos uma convivência amigável. Meu “inimigo” se manifestou, particularmente, no presidente do Movimento Gay de Minas. Um jornalista muito bem articulado, com torcida, grande domínio do assunto, militante há anos, profundo conhecedor da causa, dos meandros políticos do problema, e, profundamente, rancoroso com os evangélicos.
Foi com algum esforço que me mantive um tanto “alheio” aos debates, para não valorizar seu discurso vitimista, para não se tornar um caso pessoal, mas também por que, infelizmente, em muitas de acusações ele tem razão, pois ele não perdeu uma oportunidade de acusar os religiosos.
A postura evangélica tem sido, raras as exceções, de apenas condenação do pecado/pecadores sem dizer nada propositivo à causa. Se não fosse a luta de gente como ele, os medicamentos, os atendimentos, o sistema estaria bem pior. Líderes de religião afros, onde sua teologia defende a idéia da “corporeidade sagrada”, também são hoje os principais responsáveis pelas conquistas.
Ademais, neste momento, os únicos que estão “vendendo cura” são os evangélicos.
Temos um sério problema atualmente nesta questão. Os medicamentos melhoram muito, com isso as taxas de carga viral se tornaram indetectáveis. Ou seja, numa leitura rápida (politicamente incorreta): o “exame negativou”. Apressadamente, isso se transformou em “cura”, quando na verdade apenas ficou indetectável. Para vocês perceberem a gravidade do problema, só minha médica já teve dois pacientes evangélicos que abandonaram o tratamento se dizendo curados e depois faleceram. O número de óbitos de “curados” já começou aparecer nas estatísticas, aliás, esta foi uma das razões que provocaram este encontro. Este problema de “cura e morte” tem acontecido em diversos portadores de doenças que exigem tratamento prolongado, como diabete, câncer, etc.
Creio na cura que Deus faz e pode fazer em alguém portador de hiv/aids, mas creio muito mais na cura que a Deus pode fazer na igreja, como comunidade terapêutica. Aliás, minha fala neste simpósio teve dois pontos fundamentais:
l. distinguir os evangélicos no Brasil, entre os que crêem na cura, mas não transformam isso em “produto de venda”, e os que dizem crer e usam disso como marketing;
2. A cura de fato que Deus pode e quer fazer, não apenas nos portadores de alguma doença congênita, mas na igreja em sua totalidade como espaço de fraternidade, comunhão, restauração da dignidade humana, enfim, como uma comunidade terapêutica.
Esta foi minha fala principal, tentar mostrar para os participantes que existe gente neste país que trata o cristianismo como um modelo de vida de dedicação e amor ao próximo, comunitariamente vivendo juntos de todos – apesar, inclusive, da doença. Mas infelizmente, o que é visto e visibilisado é modelo comercial de venda de cura e prosperidade, onde se “resolve” o problema da doença, do emprego, do carro, mas não se tem nenhuma palavra profética sobre as estruturas pecadoras que produzem o desemprego, a falência das estruturas de casamento, etc.
Evidentemente, que esta fala, para alguns, soa novidade, incompreensível, revolucionária, inquietante e perturbadora. Pois, para eles só existe o que aparece na televisão, modelo, inclusive, que os sataniza. O militante (seja de qual causa for) precisa de um inimigo para lutar. Se ele descobre que o “inimigo”, quer amá-lo e ajudá-lo, ele se desestrutura. Tenho certeza que isso foi o que mais perturbou o militante gay. Por isso fiz tudo esforço para não brigar com ele, pois sua briga também não era contra minha pessoa, mas contra um modelo.
Resultado, com sua implicância com minha fala, meu testemunho precisou ser repetido na parte da tarde, e em diversos outros momentos, a questão retornou. Enfim, tive mais visibilidade do que esperava.
Agora faço parte de um GT – Grupo de Trabalho – Religião e Saúde, aqui em SP do Programa Estadual de DST/Aids. O desafio é bem maior que minha capacidade, como já era quando aceitei (tremendo de medo) ir à Brasília. Preciso dizer que necessito de oração?
Gedeon Alencar
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Comentário:
De fato quero apenas falar um pouco dessa maquiagem-de-cura-mortal que se pratica nas religiões evangélicas da venda de cura.
Quem lê este site sabe o quanto afirmo a perversidade de tais práticas. Na realidade, não quero me estender além de tudo o que aqui digo sobre a maldade desses tratamentos de cura evangélica “péla fé”. Digo “péla fé” porque é péla fé mesmo: deixa o cara pelado de fé; despelado de esperança; ou morto!
Para esses, Hamurabi, de Ur dos Caldeus, em seu código de ética, tinha uma boa recomendação: quem quer que prometesse cura e não curasse, deveria ser lançado no Eufrates; e isto foi dito uns 150 anos antes de Abraão ali nascer.
Para mim, tais irresponsabilidades, são caso de Polícia. Se alguém pára um tratamento que pode prevenir a morte em razão de que um pastor ou líder espiritual recomendou ou mesmo “ordenou em nome do Senhor”, e a pessoa, em obediência às ordens de algum tão irresponsável, vem a morrer — penso que o “mandante da fé mortal”, deve ser criminalmente responsabilizado.
Sim, Hamurabi neles!
Meu Deus! Quantas mortes há sobre a cabeça desses bruxos que se intitulam pastores?!
Ora, isto acontece em razão do surto da fama, do poder, do dinheiro, da ilusão, da ganância, e da total arrogância deles!
Entretanto, gente morre!
Assim, de duas, uma:
1. Quem promete cura tem que assumir a responsabilidade de curar; e, não havendo a cura prometida na “compra” que o otário-fiel fez nas “muitas campanhas péla fé” — o “médico-péla-fé” tem que ser criminalmente responsabilizado.
2. Quem crê em cura espiritual pela fé, como eu creio, pode e deve exercer a sua fé na oração limpa e pura, pedindo cura a Deus em favor de alguém, conforme ensina Jesus. Entretanto, como nenhum de nós é Jesus (Deus), e como nos tempos atuais há meios de total vericabilidade de uma cura — não se deve jamais dizer a ninguém que pare, pela fé, de tomar qualquer medicação; pois a tarefa de quem ora, é crer; e a do médico, neste caso, é de assumir a responsabilidade científica pela liberação do paciente, uma vez que se constate de fato a sua cura.
Um dos problemas em relação a isto é que nem todo aquele que manda alguém parar de tomar um remédio, é um ser do tipo “péla fé”. Ao contrário disso, muitos são apenas pessoas ignorantes; e que pensam que Deus se sente desonrado se alguém que recebeu uma oração de imposição de mãos, ou unção com óleo em nome do Senhor, não der testemunho de sua confiança parando de tomar os medicamentos.
É a velha idiotice evangélico-pentecostal que divide o mundo entre o que é de Deus e o que não é de Deus. E, assim, a fé é de Deus e a ciência não é.
Ora, é esta luta e dicotomia em relação à ciência aquilo que faz dos evangélicos, na média, os caras mais ignorantes e burros do mundo. Afinal, crer é de Deus; mas pensar é do diabo!
Ora, seja por ignorância ou por maldade irresponsável, o resultado é o mesmo: as pessoas morrem. Portanto, afirmo que seria a favor de que as religiões e seus líderes fossem criminalmente responsabilizados por toda e qualquer ação desse tipo “péla a fé”.
Em 2003 escrevi no site o seguinte, em Reflexões:
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A diretora de uma escola pública me telefonou. Um aluno da escola está com o pai doente.
Aids — é a praga maligna que deu nele.
Procurou uma grande e poderosa igreja, que oferece a simplificação de tudo: um passe e umas correntes curam Aids.
São milhares de pessoas ali.
O repórter da igreja fica catando boas histórias para colocar no ar.
O testemunho de um, anima a esperança de milhões de desvalidos.
Assim a igreja fica com fama de que cura!
Só não falam é da enormidade de pessoas que sofrem até a morte — que são milhares ali também.
Testemunho de doença não curada não anima ninguém a fazer como a “mulher do fluxo” antes de encontrar a Jesus, que deu aos “médicos” tudo quanto tinha, indo de mal a pior.
Os “médicos” de hoje são esses “vendedores de cura” e que alimentam a credulidade do povo com alguns casos que mantém os demais — milhares — em estado de esperança e contribuindo até o último centavo.
Jesus cura doente apesar do malcaratismo desses “médicos” usurpadores de dinheiro de gente seqüestrada pela desgraça.
Ora, a diretora me disse que nessa igreja proibiram o pai do estudante de tomar qualquer remédio para a Aids.
O homem está morrendo.
A família vai lá e reclama.
Os pastores dizem que se ele tomar o remédio é porque não tem fé.
O homem quer ser curado.
Obedece aos pastores.
Vai morrer como acontece todos os dias com milhares de vítimas, cujas histórias jamais virarão “testemunho” não naquele lugar.
Na antiga Mesopotâmia, bem antes de Abraão, de acordo com o Código de Hamurabi, se alguém fazia promessas de cura, e a cura não viesse, e a pessoa morresse, tanto o defunto quanto seu médico seriam jogados juntos no Rio Eufrates.
Assim, Hamurabi acabou com a falsa medicina e com os vendedores de cura!
Hoje o que deveria acontecer era o seguinte:
A família deveria levar um documento à igreja e demandar do pastor que assinasse a recomendação de que o seu “paciente” não tomasse mais remédios, pois, a igreja estaria assumindo a responsabilidade de que ele será curado — isso no caso do próprio “paciente” estar se negando a tomar o remédio com medo de perder a cura!
No caso de morte, a família deveria demandar na justiça tudo o que foi prometido. O que implicaria numa ação criminal, com prisão por homicídio, seja qual for a qualificação dele; e, também, deveria haver enormes ressarcimentos financeiros.
Como eles não têm nem poder de curar — quanto mais de levantar dentre os mortos —; então, indenização e cadeia neles!
Uns três casos desses acabariam com esse estelionato feito em nome de Deus e libertaria a milhares de oprimidos pelo medo.
Jesus cura! E o faz conforme Seu eterno poder e Sua sabedoria. O que Ele não faz é dar Sua gloria a outrem. E muito menos competir com a medicina. Afinal, não há verdade médica — ou de qualquer outra natureza — que não seja Dele!
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Ora, foi isto que disse então, e é o que digo hoje!
Pense e envie para seus amigos; e até para o Congresso Nacional.
Com respeito à vida,
Caio