MULTIDÃO É O MEU NOME, POIS SOMOS MUITOS
Quando eu era criança me advertiam acerca do perigo de andar com más companhias, e sobre o poder dos lugares do mau, especialmente os ambientes de pecado, onde morava o perigo. Era a porta larga.
Esses lugares, diziam-me, eu não deveria visitar nem por curiosidade. Obviamente visitei a todos eles.
O que ninguém me disse com clareza é que a porta realmente larga é aquela por onde anda a Multidão.
Os atuais episódios de abusos feitos por soldados e soldadas americanas contra P.O.W.s iraquianos, mostra o perigo que é estar sob os espírito da multidão organizada militarmente, e, assim, com as responsabilidades individuais diluídas pela absolvição auto-enganosa que habita toda e qualquer cadeia de comando.
É o espírito da multidão. Legião é meu nome. Sim, Multidão é meu nome também—dizem os demônios.
De fato não há lugar onde o ser humano seja mais corrompido que no seu caminhar com a Multidão. Nem mesmo os bordeis tem tal poder corruptor sobre o indivíduo. É o tal do curso deste mundo, que é um espírito da potestade do ar.
Se cada individuo pode carregar verdade em si, todavia, na Multidão, essa verdade do individuo se dissolve, porque a multidão É não-verdadeira.
A multidão é loucura, é paixão, é fogo sem rumo, é maratona em areia movediça.
O poder da multidão é produzir irresponsabilidade e impenitência, diluindo a consciência individual, pois coloca o individuo numa posição onde ele é um fragmento de Algo, que é um algo-organismo, e que segue o que segue… não importando o que seja.
Isso explica a Alemanha de Hitler, as barbaridades de exércitos, e todas as demais formas de linchamentos acontecidos na Civilização Humana.
O espírito da multidão se assemelha ao corporativismo da sociedade das hienas.
Não dá para imaginar alguém despertando Jesus do sono e cuspindo Nele, espancando-o e matando-O.
Quem teria tal coragem?
Somente na Multidão tal ato seria possível. Pois é somente na multidão que nasce a “coragem-da-não-verdade”.
A multidão é erva, diz o profeta. Sim, é isso que é o espírito das multidões.
Jesus se dirigia às multidões e a todos, mas Seu modo de ser não era massivo, porém, profundamente individual.
As multidões estão presentes nos evangelhos, e são tratadas como tais, pois, de fato, os conteúdos do Evangelho são sempre individuais.
Desse modo, sabe-se que todo aquele que se dedicar à verdade, haverá de ter sérios problemas com as multidões; pois ao mesmo tempo em que as atrairá, poderá ser morto por elas.
Para ganhar o coração da Multidão nenhum esforço especial é necessário; basta haver uma boa inverdade, enganosamente esperançosa; mais uma boa dose de promessa de ascensão social, e muito besteira…e se terá multidões e multidões correndo atrás.
Porém, para ganhar a Multidão tem-se que estar envolvido com ela. Desse modo, Jesus anda pela multidão, e fala com indivíduos, olhando nos olhos de cada um deles. Mas sabe que a multidão é Multidão. Por isto, Ele os retirava da Multidão, e os ensinava com individualidade.
Jesus avisa claramente acerca do poder corruptor dos aplausos das multidões, e diz: “Ai de vós quando todos vos aplaudirem”.
Aqueles que desejam conquistar a Multidão e se esforçam por fazê-lo, são seres muito mais prostituídos que as prostitutas.
Um amigo me disse que trabalhar numa redação de um jornal era ser operário de fezes no intestino grosso da humanidade.
A mídia é também Multidão. Ali, muitas coisas que um indivíduo não teria coragem de dizer a você, olhando em seu olho, muitas vezes é repetida, com imensa “coragem”, visto que aquela é a coragem da não-verdade, pois é a coragem da Multidão.
Quanto mais massivo se tornar a humanidade, mais diluída ficará, e menos senso de individualidade se obterá.
O espírito de Multidão é a cova da Individuação humana. Especialmente na Igreja.
Caio