NA EXISTÊNCIA ENCONTRO A VONTADE DE DEUS
Eu fico aqui dizendo que a moçada tem que pular de cabeça, e tem gente que pensa que é uma recomendação ao suicídio. Ora, não é de suicídio que estou falando. Não é convite a se pular de cabeça na morte, mas sim para se mergulhar sem medo na vida. A questão é que todo mundo fica procurando saber qual é a vontade de Deus e nunca entende que a vontade de Deus só se apresenta na existência. Deus não tem uma vontade para ser conhecida na minha vida que não seja na própria vida, no próprio ato de existir. É por esta razão que o Evangelho é uma narrativa da vida de Jesus e daqueles que com Ele andaram no Caminho. Ou seja: Jesus está dizendo que o guia da jornada é a vida. No Caminho a gente tem que viver, pois é na existência que iremos conhecer a Verdade de Deus como Vida. E tanto melhor será quanto mais vivamos a nós mesmos Nele! Ora, se é assim, minha própria maneira de ler o Evangelho muda completamente. Eu o leio não como quem o olha a fim de saber como foi, mas sim de saber como é. O Evangelho é apenas narrativa da vida com Jesus, e de tudo o que nela pôde acontecer, e de como temos que enxergar cada coisa ali como modo de Deus tratar a vida e ao mundo. Ou seja: do mesmo modo como Jesus tratou as questões da existência. Neste sentido, por exemplo, os apóstolos de Jesus tiveram muito mais importância para mim como agentes históricos das narrativas do Evangelho do que nas coisas que escreveram. Sinceramente eu posso viver sem a 1ª e a 2ª Epístola de Pedro, mas me seria muito difícil entender a Graça de Deus sem que no Evangelho existisse um Pedro. Em outras palavras: é no fato de Pedro ser apenas Pedro que ele é mais apóstolo do que quando ele é São Pedro. O Pedro das epístolas é um homem piedoso. Mas o Pedro das narrativas do evangelho é um homem fazendo a revelação das próprias vísceras. Alias, após um certo tempo, os apóstolos perderam bastante a relevância na continuidade prática do processo. A maioria ficou por Jerusalém, e uns poucos se espalharam. Mas é de Paulo que vem o impacto que choca o mundo. E mais: São Pedro tinha muito pouco a dizer a Paulo. O Homem Pedro, do Evangelho, todavia, tinha muito o que revelar em sua própria vida acerca da Graça de Jesus. O respeito de Paulo por Pedro vinha muito mais do fato de Pedro ter sido Pedro do que de ter sido feito apóstolo. Ou seja: a reverencia vinha da caminhada deles com Jesus, na qual eles tiveram de tudo, e viram como Jesus lidou com tudo. Dali é que vinha o melhor ensino que tinham a dar. Suas experiências com Jesus eram a fonte do ensino. Assim, para mim, fica tudo muito mais simples. E minha leitura do Evangelho me remete não para eles, mas para mim mesmo; não para o Passado, mas para Hoje; não para a busca do conhecimento abstrato da vontade de Deus, mas para o encontro dela, sem medo, na existência. Quando perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Ele respondeu com uma história da vida. E disse que a vontade de Deus a gente vê todos os dias, a gente tropeça nela, ela quase nos assalta, ou nos assalta; ela pode fazer a gente atrasar um negócio a fim de ajudar um estranho. Quem sabe? Portanto, não pule no precipício, mas se jogue de cabeça na vida no Caminho. E faça isto sem medo, pois Aquele que Manda, é também o mesmo que Socorre! “Se és tu, Senhor, ‘manda-me ir’ ter contigo andando por sobre as águas”. Ao que Jesus lhe disse: “Vem!”. E Pedro andou sobre as águas e foi ter com Jesus. Reparando, porém, na força do vento e das ondas, teve medo, e começou a afundar. Então clamou: “Ajuda-me, Senhor!”. E Jesus prontamente ‘o ergueu’, e lhe disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste? E entraram no barco. Assim, Aquele que diz “Vem”, é o mesmo que “estende a mão e ergue” quando é necessário. Pode haver o risco porque não há risco. Se Ele diz “Vem”, eu posso até duvidar no meio do caminho, mas Ele estará sempre no meu caminho, mesmo que sobre as águas. Vá com Ele e tudo estará bem! Caio 17/09/2004