—– Original Message —–
From: NÃO SEI AMAR MEU FILHINHO!
Sent: Thursday, September 25, 2008 4:09 PM
Subject: PROCUREI RESPOSTA NO SITE, MAS NÃO ACHEI….ME AJUDE!
Pr. Caio!
Deus tem te usado poderosamente para falar ao meu coração! Através de seu site eu tenho tido a oportunidade de me conhecer melhor e, principalmente, tem lançado luz sobre minha fé e minhas convicções, de quem eu sou no mundo e em Deus.
Mas há questões que me afligem e que eu gostaria muito que o Sr. me ajudassem a entende-las…
Tenho 21 anos e um filhinho de 2 anos e meio, e é sobre ele que eu queria falar.
Pr., eu não consigo ser a mãe que eu gostaria. Tenho lido o seu site em busca de respostas, mas eu não tenho achado; por isso que eu resolvi te escrever, em busca de alguma orientação.
Por conta da gravidez, eu acabei me casando com o pai dele, por pressão da igreja e pelo fato de não querer morar mais com nenhum de meus pais.
A separação de meus pais foi muito traumática, pois aconteceu em meio à violência e traição, e cada um deles querendo reconstruir a sua própria vida, mas sem saber o que fazer com os filhos que acabaram sobrando.
Eu vivia em uma situação difícil, pois não sabia se ficava na casa de um pai autoritário, ou se ficava indesejada na casa de minha mãe, pelo fato de ela não se sentir a vontade com seu namorado, comigo morando com ela.
Isso me machucava muito pr., pois, sempre procurei ser uma boa filha e nunca dei preocupação por meus pais; mesmo assim eu nunca consegui me sentir amada suficiente por eles, principalmente pela minha mãe, que nunca conseguiu demonstrar seus sentimentos pelos filhos, sempre se mostrando mais preocupada com seu trabalho, seus relacionamentos, sua beleza, enfim…
Sempre tivemos que ser muito independentes, pois, sabíamos que não podíamos contar nem com ela nem com meu pai, que também era muito distante…
Mas eu entendi que eles são assim em virtude da criação que tiveram. Penso que eles aprenderam assim de seus pais, e não romperam com isso, e acabaram passando para seus filhos a mesma criação.
Eu hoje me separei do pai dele, em uma decisão consciente e movida por fé, muito tranqüila por sinal, e não tenho mais problemas com meu ex-marido; e seu site me ajudou muito em relação a isso, pois, eu somente estava casada por conta da lei, em um casamento onde não havia amor, nem afeto; e onde eu me sentia presa; mas, graças a Deus, eu conheci o poder libertador da Graça de Deus.
Pr., o problema é que eu não consigo ser uma boa mãe para o meu filho.
Eu me acho muito displicente, não acho que dou o carinho e atenção suficiente para ele.
Ele hoje está passando uns dias com o pai em outra cidade, mas eu não consigo sentir saudades genuínas dele. E quando ele está comigo eu vejo que tenho tratado ele como minha mãe nos tratou. Com descaso, com displicência, sem muito afeto. Enfim…eu não consigo sentir aquele AMOR por meu filho que eu vejo em outras mães, nem aquela saudade… Eu tenho medo de estar transferindo a mesma criação para ele; e isso me machuca muito, pois eu não quero que ele sofra o mesmo que eu e meus irmãos sofremos…
Meu atual marido, fala que eu me cobro demais, que é normal que eu me sinta assim, em virtude das condições em que eu o tive, e da criação que eu tive… Tudo bem… E o que eu faço pra mudar isso?
Eu não quero que meu filho seja uma pessoa carente, com baixa-estima e solitária, como eu me tornei… Quero que ele tenha uma educação e não uma “criação”!
Meu pai sugeriu que eu o deixasse ser criado pelos avós paternos, que são muito carinhosos e amorosos com ele… Mas eu sou mãe! Eu que o carreguei no ventre, e que quase morri no seu parto! Não quero “dar” ele para outros criarem…
E ele é uma criança maravilhosa, carinhosa e que não me dá trabalho algum, mas sinto como se não retribuísse o amor dele por mim…
Ajude-me, Pr.
Estou muito angustiada com isso… Quero que meu filho se torne um adulto saudável e confiante e sei que essa responsabilidade é muito minha…mas não sei o que fazer!
__________________________________
Resposta:
Minha filha: Graça e Paz!
É claro que o modo como fomos criados e educados, ou até condicionados pelos pais, tem importância enorme em nossa formação, e, até mesmo, nas nossas expressões afetivas na vida.
Entretanto, o poder de tais coisas começa a diminuir e mesmo a mudar, podendo sumir de nós, quando iniciamos o processo de tomada de consciência da situação que nos forjou, e, no seu caso, que condicionou seus afetos ou modo de expressa-los.
Filho são os amores mais naturais de nossas vidas.
E mais: quem não ama ao filho, dificilmente amará mais alguém de modo visceral.
Paulo diz que a mulher é salva pela sua missão de mãe; sendo que “salvo”, em tal contexto, quer dizer “sarada”, feita sadia. Ou seja: a maternidade é a melhor garantia de saúde em amor para a alma de uma mulher.
Você não tem que se tornar refém de sua mãe na falta de alegria e de emoção na maternidade.
O amor por filhos sempre vem carregado de carinho e ternura. Mas, muitas vezes, tem-se que ama-los sem emoção, pois, amor não é emoção.
Ora, já que você não sente emoções diante da maternidade, então, assuma a maternidade com aquele amor que ama porque o amor é cuidado, carinho, proteção e atenção solidária.
Creio que você deve tentar tudo para vencer isso. Pois, caso não tente, você pode ficar inviabilizada como mãe. Ou, então, você se tornará aquelas mães que somente amam os filhos que tiveram dos homens que amam ou amaram, o que é trágico.
Porém, se dentro de um tempo nada mudar, sugiro então que você faça o que seu pai sugeriu, e, entregue seu filho para ser criado com amor e cuidado pelos avós.
E mais:
Quando a gente não tem para dar, é melhor entregar para quem tem, conforme a sabedoria de Salomão ensina.
No caso das duas mães e Salomão [lembra, não é?] — a sabedoria indicou a mãe pelo simples fato de que a verdadeira maturidade não pensa que o filho é dela, mas sim da vida, e da melhor vida que a ele se puder dar.
Foi a “mãe prostituta” aquela que disse “se não é meu não é de mais ninguém”. Ora, foi por isto que Salomão soube que ela não era a mãe, e mesmo que fosse a mãe natural, não o seria a mãe psicológica da criança, pois, pensava apenas na cria, e não na criança.
Não fique buscando sentir amor. Amores sentidos são amores fugazes.
Não é o sentimento que faz o amor, mas sim o amor que faz os sentimentos.
Ame seu filho. O que você sentir é bônus.
Comece assim… Bem devagar. Sem angustias pela falta de emoção. E vá fazendo… Vá agindo… Vá se dando… Então, creia, as coisas vão crescer em você.
Todavia…
Penso que se você casou já duas vezes em três anos, estando seu filho com pouco mais de dois anos, é sinal de que, à semelhança de sua mãe, você está muito preocupada com sua vida afetiva a fim de poder ter alma para ser mãe.
E mais:
Penso que sendo você tão menina e novinha, o ter um novo marido, e que não é o pai de seu filhinho, é em si um complicador muito grande, pois, é simples entender que ninguém consegue organizar interiormente tantas coisas em tão pouco tempo.
Tome cuidado para você não se tornar a sua mãe, só que apenas consciente de si mesma, e, assim, mais angustiada…
Hoje sua prioridade é seu filho. O atual casamento tem que aprender o caminho secundário, até que você esteja apta para ambas as coisas: a maternidade e a conjugalidade.
Enquanto isto, filhinha amada, exercite-se na maternidade, como Paulo recomenda escrevendo a Timóteo e a Tito. Leia ambas as cartas do apóstolo.
Repetindo:
Exercite-se na maternidade sendo mãe.
Os sentimentos virão quando vierem. Até lá seja o que você sabe o que é e como deve ser.
Afinal, quem sofreu tanto a ausência e a falta de interesse e afeto da mãe, sabe o que não quer para o próprio filho em razão do que rejeitou para si mesma.
Receba todo meu carinho.
Estou aqui enquanto aqui estiver…
Um forte abraço, também cheio de orações por você e seu filhinho.
Nele, que nos ama sempre,
Caio
26 de setembro de 2008
Lago Norte
Brasília
DF