NAS VORAGENS DO MAR DO INCONSCIENTE



Na madrugada de 12 de julho de 2003…

Sonhei que eu era o mar…

Noite agitada…

Balanços, ondas, vagas, correntes abissais, temperaturas variando entre o tépido mediterrâneo e o frio polar…assim era eu.

Já sonhei muito com o mar, mas eu sempre estava nele…eu nunca havia sido o mar.

Em todos os meus sonhos anteriores o mar era o meu inconsciente…
Misterioso… Quase infinitamente maior do que eu…

E eu sempre era algo…uma jangada solta…um “casquinho” ao léu…uma “rolha” flutuante e sem destino…um naufrago.

Mas ontem…digo: hoje de madrugada, eu era o próprio mar.

No sonho eu não via nenhum objeto exterior à mim…eu não olhava nada fora de mim…eu olhava a mim mesmo com olhos de águas…e com o sentir do próprio mar.

Me vi…quando fui o próprio mar!

Não havia desculpas, nem perigos e nem tubarões ou lulas gigantes para temer…

Não havia nenhuma ameaça que não me habitasse…

Não havia nenhum ser alienígena ou estranho que não vivesse, antes de tudo, em mim.

Não havia tempestades a culpar ou Tisunames a responsabilizar por qual devastação…

Os maremotos nasciam em mim e tinham que morrer em mim.

Acordei calmamente assustado, às quatro e meia da manhã.

Vim para o computador e escrevi um salmo para mim mesmo.

Era um salmo 42 de minha própria alma.

Colei no site.

Voltei para a cama e dormi outra vez.

Sonhei com minha alma.

Ela era o mar.

O mesmo mar…o mar de sempre…o mar que já levou a culpa interior de tanta coisa…mas que agora já não me assustava mais.

As vagas e os maremotos…as ondas suaves e as surfáveis…todas elas vinham de mim…e eu não precisava mais temê-las…

O mar existe no mundo…e meu mundo é meu espírito e meu espírito é em Deus.

Levantei da cama outra vez.

Vim ao computador de novo e escrevi sobre a Psique e o Mar do Ser.
Colei em Devocionais, Artigos e na Mente de Paulo.

Aliás, Paulo tem sido meu melhor amigo humano de jornadas pelo mar…ele sabia o que era naufragar…sabia o que era ficar jogado ao sabor das ondas….sabia o que era perder o navio para não perder a vida…sabia que havia uma ilha…uma Malta para os pés.

Uma noite e um dia estive na voragem do mar—disse ele.

Três vezes em naufrágios—afirmava ele.

Paulo, meu amigo do mar…companheiro de naufrágio…me aconselhou a ficar em Bons Portos…e decidi ouvir seu conselho.

Hoje eu ainda sou o mar…carrego-o em mim…mas haverá o dia em que se dirá: o mar já não existe!

A alma já não terá que viver com a Atlântica contradição de chamar de Pacifico o que há de mais ameaçador nela mesma…pois Deus será tudo em todos.

Então se dirá: Era uma vez o mar!

Mas eu ainda estarei lá.

Eu não sou o mar…o mar é em mim…eu sou em Deus.



Caio

 

Copacabana

2003