NOS MOINHOS DA HOLANDA

Em 1986 eu estava curtindo uma folga do Congresso de Evangelização mundial na Holanda.
Aliás, naquele congresso eu também aproveitei as folgas e escrevi o livro “Uma Graça Que Poucos Desejam”.
O dia estava lindo. Era um sábado nublado, fresco e muito gostoso.
Éramos uns cinqüenta pastores passeando pelos canais e moinhos da Holanda.
Pastores juntos ficam muito engraçados.
Toda repressão da imagem pastoral na igreja dá lugar à euforia de meninos no parque.
Caminhávamos em grupo.
Andávamos na direção de um outro moinho, enquanto margeávamos o canal.
Andando no sentido contrário vinha um grupo de espanhóis. O alarido de cinqüenta pastores brasileiros chamou logo a atenção dos transeuntes.
—Viva Yemanjá! Viva Salvador! Viva a Bahia!
Foi o grito que todos ouvimos.
Era uma jovem de uns trinta anos.
Veio ao nosso encontro.
O grupo dela parou para ver.
O nosso fez a mesma coisa.
Depois de dizer que tinha estado uns meses na Bahia a moça disse que “fizera a cabeça” e que tinha o corpo ainda atado com os “trabalhos espirituais” que haviam sido feitos para ela no Brasil.
E mostrou o corpo, para então acrescentar um outro “Viva Yemanjá!”
Não resisti.
Olhei para ela e vi sua procura espiritual.
Comecei imediatamente a dizer que éramos brasileiros, mas que nossas referencias de fé eram outras.
Falei-lhe de Jesus com todo o carinho.
Os dois grupos ficaram alguns poucos minutos ouvindo.
Os pastores vendo qual seria a reação.
O grupo da moça expressava a perplexidade ante o insólito daquela conversa, ali às margens de um canal e com centenas de pessoas passando por nós o tempo todo.
Expliquei que aquelas coisas de fato “amarravam” os que criam nelas. Então disse como aquilo funcionava para o mal.
A seguir, vendo que ela e todos os dela recebiam tudo muito bem, pedi para fazer uma oração.
A moça estendeu a cabeça.
Impus as mãos sobre sua cabeça.
Imediatamente ela começou a estremecer e caiu.
Repreendi aquela manifestação espiritual e chamei-a a consciência de si, em Nome de Jesus.
Ela voltou!
Pedi o endereço dela e disse que faria tudo para que aquele encontro tivesse seqüência e conseqüência.
Despedimo-nos e seguimos em nossos caminhos.
Entramos no moinho.
Uma moça me viu e veio falar comigo. Era brasileira.
—Oi, pastor! O senhor por aqui?
E me contou que ela estava mudando para a Espanha naqueles dias a fim de ser missionária lá.
—Onde? Não seria em Barcelona, seria?
—Como o senhor sabe?
Então lhe contei da moça e deu-lhe o endereço dela em Barcelona.
Ao chegar ao Brasil mandei uns livros para a moça do canal e dos moinhos.
Cinco anos depois alguém me telefonou.
—Lembra de mim? Sou a moça do canal? Lembra? Na Holanda?
—Claro! Minha memória é ótima, graças a Deus!
Conversamos animadamente ao telefone.
Ela estava em Cristo e prosseguia no Caminho.
Histórias como esta Deus me deu o privilégio de presenciar às centenas de modo pessoal. E aos milhares através de outros meios de comunicação.
Hoje me lembrei desse fato porque tive uma experiência semelhante com um motorista de táxi—outro taxista, entre muitos com os quais tenho histórias extraordinárias—, que me relatou sua conversão e, sem saber, relacionou-a a mim.
Outra vez foi muito gostoso!
Quase todos os dias Deus me faz uns cafunés desses, como que me animando e dizendo que “no Senhor o nosso trabalho não é vão”.

Caio Fábio