—– Original Message —–
From: NÓS SABEMOS COMO DEUS O QUE É O BEM E O QUE É O MAL?
To: [email protected]
Sent: Friday, September 15, 2006 9:00 AM
Subject: a árvore do conhecimento
Querido Caio: Graça e Paz!
Ouvi recentemente uma mensagem sua sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal. Você dizia que tal árvore não produziu no homem a capacidade de conhecer o bem e o mal, e sim a presunção de conhecê-los.
Concordo com você!
Porém, lendo o Gênesis, vi Deus dizer:
“O homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal…”
Então fiquei com dúvida sobre o assunto, pois vejo que o homem não conhece o bem e o mal, só possui padrões morais criados por ele mesmo. No entanto a Bíblia diz o que escrevi anteriormente.
O que Deus quis dizer?
Obrigado por sua eventual resposta.
___________________________________________________________________________
Resposta:
Amigo querido: Graça e Paz!
O que Deus quis dizer eu não sei. Posso dizer apenas o que eu penso.
Ehoim é quem fala “se tornou como um de nós”. Esse nome de Deus em geral é visto como um plural de majestade, apesar do nome também aparecer na literatura Cananéia a fim de designar todo o panteão das divindades dos cananeus.
Entretanto, para muitos especialistas judeus (rabinos), a palavra (Elohim) significa também algo que chama Deus para a dimensão do homem — ou seja: ela também carrega noções de antropomorfismos (como se Deus fosse humano).
Em minha opinião o que Gênesis 3: 22 diz tem a ver com algo essencialmente antropomórfico. Ou seja: é como se o texto dissesse que o homem, à semelhança de Deus, agora era capaz de “considerar” (refletir) sobre o bem e o mal.
Ser conhecedor do bem e do mal, todavia, não é garantia de discernimento à priori acerca do bem e do mal; mas, ao contrário, significa poder “conhecer” (experiencialmente) o bem, como bem, e o mal como mal — e com o sentir psicológico de tal realidade.
O que o comer do fruto produziu no homem foi o conceito psicológico de bem e mal; e abriu a porta para que o homem pudesse experimentar a existência com tais categorias — ou seja: com capacidade de virtude consciente e de culpa consciente.
Atos, daí pra frente, não eram apenas movimentos instituais, mas sim ações significantes. Em outras palavras: o homem ganhou significado em cada um de seus movimentos.
“Conhecer” na língua hebraica quase nunca é algo teórico, mas quase sempre algo experiencial. Assim é que um homem ao deitar-se com uma mulher, tendo com ela uma relação sexual, passa a “conhece-la”, do ponto de vista bíblico.
Entretanto, quando Deus diz — “tornou-se ‘conhecedor’ do bem e do mal como um de nós”, obviamente não diz que o homem havia ganhado o poder de discernimento infinito de todas as variáveis do que seja Bem e Mal.
Ora, este foi o engano sedutor da serpente, mas não foi o resultado real do que nos acometeu.
O que acontece é que cada ação humana, daí pra frente, se faz avaliar por uma instancia superior: a consciência em estado de crescente apropriação do “sentir” a vida como bem ou como mal.
Todavia, do ponto de vista do entendimento do que seja o bem e o mal, em todas as suas variáveis, o homem não o atingiu e nem atingirá jamais a totalidade de tal percepção.
Somente Jesus, o Filho do Homem, soube como homem o significado do bem e do mal; pois, somente um ente sem as ambigüidades do pecado pode fazer tais distinções.
Sim, porque o pecado, em si, já falsifica todas as noções de bem e de mal; posto que o egoísmo tira toda e qualquer imparcialidade no exercício de tal discernimento.
Assim, pela experiência do comer do fruto, o homem passou a ter o ‘sentir’ do bem e do mal — mas não necessariamente a exatidão do discernimento do bem e do mal. Posto que o pecado frequentemente o faz ‘sentir’ o bem como mal e o mal como bem. Entretanto, nem por isto, tais categorias deixam de estar presentes no homem — só que como neurose e ou paranóia.
Portanto, bem e mal, são categorias psicológicas para nós. Mas não são discernimentos inerentes e inerrantes. Prova disso é que houve necessidade da “Revelação”, pois se os humanos de fato soubessem o que é o bem e o mal de modo legitimo e cristalino (sem as falsificações advindas das ambigüidades do egoísmo) — não haveria necessidade de nenhuma Revelação; pois, em si mesmo, o homem saberia o que é o bem e o que é o mal.
É por isto que a Bíblia trabalha com a categoria da “ignorância” em relação à humanidade; e é também por tal razão que somos convidados ao arrependimento.
Além disso, caso soubéssemos o que é o bem e o mal, Jesus não teria ordenado que não julgássemos. E nem tampouco nos teria proibido de “separar o joio do trigo”. Sim, porque em nós não habita tal discernimento, mas apenas as falsificações e presunções de seu saber.
Dessa forma, pela consciência alerta e humilde, eu posso crescer no discernimento do bem e do mal — especialmente se não me arrogo a proferir veredictos a respeito.
O paradoxo é que quanto menos tento ser juiz do bem e do mal para os outros, mas ganho o poder sutil de discerni-los em mim mesmo.
Assim, a humanidade tem apenas categorias externas e gerais de bem e de mal, a fim de que a vida em sociedade seja possível.
O cenário da crucificação de Jesus bem ilustra tal realidade. Pelas categorizações gerias, os dois malfeitores pagavam pelo que seus atos mereciam — em razão de seu desrespeito para com o próximo, em sociedade. Porém, nos ‘maus’ que morriam ao lado de Jesus, havia um ser mal-mau e um ser mal-bom. E somente Deus poderia fazer tais distinções.
Isto porque bem e mal têm suas manifestações externas, e, para elas existe a Lei — mediante a qual a vida social é possível. Entretanto, a Lei está longe de poder penetrar na sombra da experiência humana. Daí Jesus dizer que o mal-bom, e que reconhecera sua própria maldade histórica, estaria com Ele no Paraíso.
Ora, o prosseguimento dessa reflexão me ocuparia o resto do ano; posto que sua reflexão nos abismaria em ambientes de natureza intima, e profundamente psicológicos.
Espero ter ajudado você de alguma forma.
Um beijão!
Nele, que é o nosso Bem, e que nos salva de nosso mal — por Sua Graça e Justiça,
Caio