NOSSO CASAMENTO NÃO NOS CASOU!

—–Original Message—– From: NOSSO CASAMENTO NÃO NOS CASOU! Sent: quarta-feira, 29 de outubro de 2003 To: [email protected] Subject: O QUE FAÇO? Meu prezado amigo Caio Fábio, O chamo de amigo muito embora o tenha visto pessoalmente apenas uma vez. Esta amizade provavelmente originou-se durante as leituras que já fiz de pelo menos uns 20 livros de sua autoria, todos com mensagens bastante expressivas. Prezado, senti muito a sua falta esses últimos anos, mas graças a Deus localizei seu site, e isto aconteceu num momento crucial da minha vida. Estou enfrentando uma situação que me reduz como pessoa a cada dia que passa. Entrei para “igreja evangélica” em 1991, e nesta ocasião eu gostava de uma garota que me trocou por outro – na verdade ainda a amo. Eles casaram-se 2 anos depois… Diante disto, comecei namorar uma jovem da igreja que tinha acabado também recentemente findado um namoro. Casamos! Nós pertencemos a uma “igreja” que encara o casamento simplesmente como uma alternativa à vida de solteiro. Ou seja: lá acontece das pessoas casarem-se pelo casamento em si, e não motivadas pelo amor. O amor, falam eles, “busca-se em oração”. Como se fosse um sentimento que indubitavelmente acontecerá entre os cônjuges no decorrer da caminhada… O pastor até costuma falar – “este ano teremos muitos casamentos do meio da mocidade”. A felicidade pouco importa, é o que parece. Foi com esta formação que eu e minha esposa nos casamos. E o resultado é que nunca expressamos um ao outro a frase – “eu te amo”. Na verdade, a omissão desta declaração somente evidencia o que há entre nós – uma incontestável ausência deste sentimento. Após um ano de casado descobri que ela trocara algumas ligações com seu antigo namorado. Falaram até sobre sexo, inclusive sobre nossa intimidade. Relatou-me ela. Revoltei-me, senti-me ofendido na minha masculinidade e quis pegá-lo. Tentei deixá-la também, mas ela insistiu para que eu não a abandonasse. Então fiquei. A verdade é que estamos arrastando este “casamento” até hoje, e está muito pesado. O fardo é muito grande. Não existem beijos, carinho, elogio, não existe sexo prazeroso. Não existe felicidade entre nós. Não existe vida sentimental… Estamos “castrados” um para o outro. Entre nós somente existe um grande medo da separação por causa dos filhos. Não será fácil, pois temos um dois garotos e ela está grávida. Meu Deus! Até onde chegamos! Meus sentimentos estavam adormecidos até que uma jovem começou a trabalhar em nossa casa. Eu sentia muita falta de sexo e me masturbava. Nunca tive coragem de sair com outra pessoa. Esta jovem percebeu meu drama, notou o meu vazio e despertou em mim um terrível apetite sexual. Começamos então um romance, mas ainda não tive coragem de “ir pra cama com ela”; não quero usá-la como objeto sexual, mas já nos acariciamos amplamente. Para exacerbar ainda mais o conflito, descobri que aquela garota que eu gostava se separou do marido. Foi então que percebi que ainda a amo, e estou disposto a procurá-la. Por favor, me ajuda. O que faço diante deste cenário? Amo muito meus filhos. Quero ser um pai exemplar. Mas também quero viver um amor de verdade. O resumo é o seguinte: – Não amo minha esposa com a qual estou casado há 10 anos. – Temos 2 filhos e outro nascerá em breve. – Tenho uma “amante” por conta do vazio que sinto – carência total. – Estou disposto a procurar a mulher que penso amar. E, finalmente pesa sobre mim, a imensa vontade de ser útil a Deus em sua obra. Eu gostaria muito de desenvolver alguma atividade na igreja, coisa absolutamente impossível para uma vida conturbada como a minha. Por favor, amigo, o que faço? Preciso de uma ajuda, repito. Não tenho coragem de me abrir para o meu “pastor”, pois a primeira providência seria a nossa exposição e a minha exclusão sumária. Isto seria dizimar nossas perspectivas de vida. Desde já agradeço. Um grande abraço, *************************************************** Resposta: Meu amado irmão: Graça e Paz! Sua carta é límpida, clara e sem rodeios. Vi você, vi a cena, vi o drama. Infelizmente existe um espírito de seita Moon em muitas igrejas. Há pastores que parecem ter um estranho sentimento casamenteiro, como se isso fizesse parte do ministério. Estranho: Paulo nem se julgava chamado “para batizar”, quanto mais para casar!? Esse coisa de oferecer o casamento como alternativa à vida de solteiro—aqui no site há a minha opinião sobre o assunto—, tem causado inúmeras situações como a sua. É verdade que as pessoas se separam mesmo quando tiveram tempo pra se conhecer, em todos os níveis. Mas, na maioria das vezes, as razões de tais separações são de outra natureza, mas não por total inaptidão e inapetência ante o casamento e o ato conjugal. Também já tenho dito inúmeras vezes aqui neste site que não creio em “milagres-de-desejos-de-amor-conjugal”. Nunca vi acontecer! Na Bíblia o assunto nem é mencionado. Lá, na Bíblia, mortos ressuscitam, mas homens que não desejam as suas esposas—e vice-versa—, não encontram pela fé o desejo. Na minha opinião, tal milagre não existe, pois ele só existe como milagre natural; ou seja: como ethos: em-si-mesmo. Portanto, o amor é o milagre. Nenhuma reunião de oração o faz surgir como desejo onde ele nunca esteve presente. Creio no “re-avivamento” de amores machucados e abatidos pelas estações invernais da vida conjugal, mas tem que ter havido alguma estação anterior, a fim de que haja uma primavera para suceder o inverno. Do contrário, será na Groelandia que esse casal viverá: alternando entre a quase luz e a quase noite. Cantares diz para não se acordar o amor até que este o queira, isso em razão de que, uma vez acordado, ele já não é posto para dormir, nem pela morte. Você e sua esposa são vítimas de amores irrealizados, e que tenderão a perseguir vocês pelo resto da vida. Histórias inacabadas jamais acabam! Assim como casamentos sem amor, na melhor das hipóteses, cria um ambiente de amor fraterno, mas jamais gerara as energias da alegria desejosa e amante. Bem, estou dizendo isto tudo apenas por julgar que não há mais tempo a perder. Todas as tentativas de se colocar “panos mornos” nessa situação, apenas precipitará o problema. Não se põe panos mornos em furúnculos, à menos que se deseje espremê-lo. Se você deixar as coisas como estão, eis o resultados: 1, Você e sua mulher ficarão cada vez mais distantes e infelizes. 2. Você já está fazendo essa besteira com a empregada; e não vai ficar aí: na sua carência, vai rolar de tudo. E você corre o risco de sair dessa como uma canalha que desrespeitou a própria casa, transando “até com a empregada”—é como contarão a sua história, sem saberem dos fatos do coração. 3. Mais cedo ou mais tarde você e a mulher que você amou e diz amar acabarão se encontrando—e, você sabe: o bicho vai pegar. 4. E sua esposa acabará recorrendo a “soluções” do mesmo tipo—seja com o “ex”, seja com um outro. Tudo é apenas uma questão de tempo. A alternativa de deixar como está, não havendo uma disposição comum—sua e dela—de se fazerem eunucos por amor ao reino de Deus, será uma catástrofe; afinal, nem todos estão aptos para a “castração”, conforme disse Jesus. No fim o que fica é raiva e amargura! Seus filhos é que são o grande problema desta história. Mas até para eles será melhor que a questão seja resolvida na verdade, que na mentira. A mentira não resolve nada! Filhos respeitam muito mais a pais sensatos o suficiente para premiarem a verdade, que aqueles pais que vivem de mentira. Portanto, tudo depende de como vocês tratarão do assunto. Na minha maneira de ver a separação—digo: não existindo e nunca tendo existido tudo o que você afirma que existe e inexiste—, é a única dolorida, aflitiva e angustiante alternativa. Digo isto apenas com a finalidade de ajudar a diminuir as implicações do mal que já está instalado. Mas como sempre repito aqui, a saída menos catastrófica é aquele que toma a decisão não em ração de “alguém”, mas de si mesmo. Adiar essa medida será adiar o calendário da explosão, mas não significará impedi-la. E por que eu pareço tão certo de que as coisas são assim? Ora, é que meu “banco de dados” é terrivelmente realista no que tange ao tema; afinal, tenho milhares e milhares de histórias que confirmam minha afirmação. Os que não se separam, na melhor das hipóteses, vivem como vocês estão vivendo; ou seja: separados, ainda que gerando filhos. Gerar filhos de pais e mães solteiros é isso: maridos ou esposas que não se amam, procriam; mas os filhos sabem que eles, os pais, não são casados de alma. Você ainda corre o risco de ficar refém da amante, a moça que ajuda em casa. 90% dessas histórias acabam como o patrão seqüestrado pela empregada. Portanto, meu amigo, comece a desmontar essa bomba. 1. Pare de ficar de “coisa” com a empregada. 2. Proponha uma separação responsável e humana para a sua esposa. Com todas as seguranças garantidas e com todos os compromissos de amizade e solidariedade na criação e educação dos filhos. 3. Fique sozinho até terminar todo o processo. 4. E não ponha a “igreja” no meio dessa história. A menos que você queira saber o que é ficar com muita raiva; e não aconselho isto a você. No mais, não deixe que esses sentimentos se confundam com Deus. Deus não está longe, e Ele não tem essa “sensibilidade” de crente. Deus é Santo, mas não é melindrado. Ele sabe o que é a natureza humana. Você não é uma surpresa para Deus. Por isso, não deixe que ninguém julgue você, fazendo com que surja uma raiz de amargura em você, e que pode fazer muito mal à sua alma. Agora é que é hora de você conhecer a Deus como o seu Deus. Agora é a hora da confiança e da experiência do amor de Deus por você, não pela sua “participação religiosa”. O que você precisar, conte comigo. E que Deus guarde o seu coração. Nele, Caio